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Um BCP mais Amado

No BCP, que lidera desde 2012, teve o desafio mais difícil da sua carreira que começou em 1985 no Citibank. Nuno Amado tem dúvidas e admite erros, lidera por consensos e tudo tem de ser medido.

08 de Junho de 2017 às 15:34
Nuno Amado espera que os accionistas do BCP possam recuperar parte do investimento que fizeram no passado. Inês Lourenço
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Quando em finais de 2011 foi desafiado pelos accionistas como a Sonangol, Atlântico e a EDP para liderar o BCP, Nuno Amado presidia ao Banco Santander em Portugal. "Estava num banco muito bom, com uma boa equipa, mas não deixava de ser uma subsidiária de um banco espanhol de referência" explica o actual presidente executivo do BCP.

Mas quando em Fevereiro de 2012 chegou ao BCP não imaginava que o contexto mudasse tão depressa e de forma radical. Na regulação, por exemplo, o centro passou de Lisboa, sede do banco de Portugal, para se repartir por Lisboa, Frankfurt, sede do BCE, e, por causa das ajudas de Estado, Bruxelas, onde está a Comissão Europeia. A união bancária foi implementada em finais de 2014 e de uma forma rápida embora incompleta e imperfeita. Quando fizeram plano em 2012, "para pedir os Cocos, a ajuda de Estado, os rácios de capital previam um capital mínimo de 8,5%, hoje 11% é a referência" refere Nuno Amado.

Em 14 de Agosto fará 60 anos que nasceu em Torres Vedras, onde os pais exploravam uma estalagem. Em 1975 chega a Lisboa para estudar Gestão no ISCTE. Planeou começar pela auditoria e consultoria e esteve na KPMG entre 1980 e 1985. Depois de um trabalho de consultoria no Citibank, que estava a preparar a abertura em Portugal de uma sucursal, foi convidado para os quadros do banco norte-americano. "Ou se faz carreira na auditoria para chegar a sócio, ou ganha-se experiência e depois muda-se" diz. Na época a finança estava na moda, o que hoje não acontece.

As dores de cabeça do BCP

O Citibank era uma escola de gestão da banca internacional e Nuno Amado desenvolvia a sua actividade na área de mercados financeiros e tesouraria. Em 1990, quando Pedro Rebelo de Sousa e Esmeralda Dourado rumaram ao Banco Fonsecas & Burnay para fazer sua reprivatização em cerca de 18 meses, Nuno Amado acompanhou-os. Como confessa Pedro Rebelo de Sousa acabou por ser o seu braço direito. Em 1993 entrou como administrador no Deutsche Bank, liderado por Rui Martinho. Três anos depois António Horta Osório, actual CEO do Lloyds, convida-o para o Grupo Santander onde se manteve até 2012, tendo sido presidente executivo desde 2006.

Sou muito de contas. Se forem coisas que têm pouca medição tenho maior dificuldade em analisar e aceitar. Nuno Amado, presidente do BCP

A liderança do BCP foi "de longe" o período mais difícil da sua carreira, pois "não esperava esta mudança muito complexa como se viu pelos efeitos que teve na recomposição do sistema financeiro português" diz Nuno Amado. Esta época de excepção exigiu medidas dolorosas aos trabalhadores e aos accionistas. Hoje à beira do que chama a normalização, depois de este período de excepção que exigiu.

No BCP encontrou surpreendeu-se negativamente a dimensão das imparidades, com "a concentração de riscos em termos de sectores, empresas, grupos era superior à que eu esperaria". Mas o lado bom é que tem recursos humanos e uma base de clientes melhores do que pensava. Hoje "o BCP é um banco privado de matriz portuguesa mas com uma diversidade de accionistas entre portugueses, angolanos e chineses, que é uma mais valia do BCP" sublinha Nuno Amado e espera "que possam recuperar parte do investimento que fizeram no passado".

Quem decide erra

Foi jogador de basquetebol da Física de Torres Vedras, e no futebol torce pelo Torreense. Como base e capitão da equipa organizava o jogo da sua equipa. Talvez por isso a sua liderança, como diz, implique desgaste "porque tento fazer consensos na administração executiva". Não gosta de imprevistos. "Sou muito de contas. Se forem coisas que têm pouca medição tenho maior dificuldade em analisar e aceitar" como diz. Mas não deixa de se tentar pelo risco. Gosta das ondas do mar sobretudo em Santa Cruz, onde mergulha seja de Inverno ou de Verão, e até aos 30 anos, fez bodysurf e chegou a fracturar uma clavícula com o impacto de uma onda.

As suas referências são de resistência e de persistência. Admira os empresários, cita Churchill e Mandela mas é no desporto que Nuno Amado faz a sua caderneta de cromos em que constam o Michael Jordan no basquetebol, o maior desportista na sua opinião, Eddy Merckx, o ciclista, e um alpinista, Reinhold Messner, um italiano que foi o primeiro homem a vencer o Evereste sem oxigénio.

"Resistência, bom senso com preparação e trabalho são as características que eu penso de um líder da banca deve ter" diz Nuno Amado, um cinéfilo desde os tempos de estudante no ISCTE em 1975/1980. Quem decide erra, portanto faço erros mas não se podem fazer erros tão grandes para colocar em causa o bem que se faz". Mas não teme a tomada de decisões embora tenha consciência da solidão que é ser número um. Diz que se tem de pensar sempre em alternativas.

"Nuno Amado resume-se em três Cês de conhecimento, carácter e competência, e em dois Tês de talento e trabalho. Tudo isto sem pretensões e com uma atitude perante a vida e os outros de grande humildade, o que é prova de inteligência" diz Pedro Rebelo de Sousa, advogado.


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