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Personalidade do ano: Alexandre Soares dos Santos - A vontade de mudar Portugal

Em 1968 tornou-se líder do Jerónimo Martins então com 300 pessoas no comércio e duas mil na indústria, e hoje tem na distribuição 110 mil pessoas e está a caminhar para os 20 mil milhões em vendas. Mas os negócios foram apenas um meio para querer transformar Portugal como mostra a criação das fundações.

Filipe S. Fernandes 30 de Maio de 2019 às 13:00
"É nossa obrigação contribuir para um Portugal melhor", afirma Alexandre Soares dos Santos. Correio da Manhã
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"Defender o direito das pessoas ao trabalho é mais importante do que aumentar lucros", escreveu, em 2018, Alexandre Soares dos Santos, que, aos 79 anos, se afastou dos órgãos de gestão do grupo Jerónimo Martins e da empresa que o controla (com 56,1% do capital), a Sociedade Francisco Manuel dos Santos.

Nascido no Porto a 23 de Setembro de 1934, Alexandre Soares dos Santos veio para Lisboa com um ano quando o pai se mudou para Lisboa para trabalhar com o sogro na Jerónimo Martins. Frequentou a escola primária no Colégio Académico dos Anjos, e depois foi fazer o secundário, como aluno interno, no colégio católico Almeida Garrett do Porto.

Quando terminou o quinto ano, voltou a Lisboa para o Liceu D. João de Castro. Do colégio interno recorda o diretor, o padre Avelino Soares, que o disciplinou: "Não era rebelde no sentido de me portar mal. Não aceitava as coisas sem explicação. Ainda hoje não aceito. Esse padre ensinou-me a aceitar a opinião dos outros e a organizar a minha vida".

Carreira na Unilever

Decidiu-se pelo curso de Direito na Faculdade de Direito de Lisboa que então funcionava no Campo de Santana. Em 1956, frequentava o terceiro ano quando se candidatou a manager trainee da Unilever. Falava inglês e alemão, foi entrevistado, fez os testes na sede da Unilever em Roterdão e foi convidado para a empresa.

A 1 de janeiro de 1957 estava na Alemanha como trainee de marketing numa formação na multinacional anglo-holandesa, tendo estagiado nas empresas de margarinas e de detergentes, Margarine Union e Sunlight Gessellschaft. No fim desse ano, a 28 de Dezembro de 1957, casou-se em Lisboa com Maria Teresa Canas Mendes da Silveira e Castro (Lisboa, 17 de Outubro de 1932). Depois disso passou pela Irlanda, França, Portugal e Brasil, sempre ligado a Lever.

Génese da multinacional

Quando, em 1968, por morte súbita do pai, Alexandre Soares dos Santos chegou à liderança dos Estabelecimentos Jerónimo Martins, este era um dos maiores armazenistas portugueses e tinha uma componente industrial importante, fruto da sua aliança com a Unilever na Lever Portuguesa, Fima e Iglo.

Nesta altura começa a verdadeira história de Alexandre Soares dos Santos que é a da construção de uma multinacional de distribuição portuguesa, a Jerónimo Martins, com as suas marcas principais: Pingo Doce e Recheio em Portugal, Biedronka na Polónia e Ara na Colômbia.

Em 1978 entrou na distribuição moderna com a criação do Pingo Doce e em 1988 comprou o cash & carry Recheio. Um ano depois a Jerónimo Martins passava a estar cotada em bolsa. À entrada de 2000 tinha negócios de distribuição em Portugal, Brasil, Polónia e Inglaterra, negócios industriais com a Unilever, nas águas com a Vidago, na finança com o BCP, no imobiliário com a Mundicenter.

Crise virtuosa

A crise, que explode em 2001, foi intensa e brutal, mas foi uma espécie de expiação e uma passagem para um mundo melhor com a Biedronka a tornar-se líder de mercado na Polónia, o Pingo Doce e o Recheio a alcandorarem-se à primazia na distribuição em Portugal. Uma década de prosperidade que serviu para preparar e fazer a passagem de testemunho de Alexandre Soares dos Santos para o filho Pedro Soares dos Santos, o que marca a chegada ao poder da quarta geração.

Em 2009, lançou a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que tem marcado a vida social, cultural e científica em Portugal e, mais tarde, surgiu a Fundação Oceano Azul, que detém o Oceanário de Lisboa.

A biblioteca da Nova School Business Economics em Carcavelos tem os nomes de Alexandre e Teresa Soares dos Santos, graças a uma contribuição superior a cinco milhões de euros. "A nossa obrigação é contribuir para um Portugal melhor e não apenas distribuir dividendos", justificou Alexandre Soares dos Santos, que neste momento se encontra a lutar com tenacidade contra o quarto cancro.

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