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Com formação económica, os domínios de eleição de Pedro Lains são a História Económica dos séculos XIX e XX. Investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, publicou recentemente o terceiro e último volume da "História da Caixa Geral de Depósitos, 1876-2010", e "História Económica de Portugal", com Leonor Freire Costa e Susana Münch Miranda.
O debate da industrialização atravessou todo o século XX. Está de regresso com o novo projecto de re-industrialização?
Fazendo comparações com o resto da Europa, e é esta que interessa porque foi a primeira região industrial no Mundo, Portugal industrializou-se tarde, e tão tarde que o sector industrial nunca foi o principal sector da economia portuguesa. Primeiro, foi a agricultura e depois, logo a seguir, os serviços, mas de uma forma marginal pelo que é mais uma curiosidade. O pico da industrialização chegou anos 70/80. Desde então, o peso da indústria na economia tem decrescido, mas mais lentamente do que no resto da Europa, que, hoje em dia, é uma economia de serviços. No PIB europeu, em média, 80% são serviços, 3 a 4% agricultura e 16% indústria. É este o padrão e já estamos a entrar numa fase em que é insuficiente a divisão agricultura-indústria-serviços.
Há dias, uma pessoa que, num banco, está na concessão de créditos a PME, dizia-me que os bons projectos agrícolas hoje em dia são os que começam a análise do projecto na comercialização. O que é que o consumo precisa, o que é que o comércio necessita, que tipo de produtos é que é mais fácil colocar e, a partir daí, partir para a terra e cultivar essas produções. A ideia, agora, da re-industrialização nem faz muito sentido. O que faz sentido é perguntar se o Estado deve intervir para que determinadas actividades não fechem numa crise.
Durante muito tempo, o papel do Estado na industrialização não era discutido, mas agora é. Isto complica mais a solução do problema?
Agora, o papel do Estado na defesa de alguns sectores ou de algumas unidades industriais foi reduzido a nível demasiadamente pequeno. Há países que vivem bem com isso, como a Grã-Bretanha. Se a indústria automóvel não sobrevive, desaparece. Têm outras indústrias. Mas a Grã-Bretanha é um país especial, também tem problemas porque o sistema financeiro cresceu demais. A Alemanha nunca perdeu a sua base industrial. O governo da Baviera intervém se houver problemas na VW-Audi ou na BMW. A intervenção do presidente Obama no sector automóvel nos Estados Unidos salvou a indústria automóvel e o governo americano acabou por não perder dinheiro. Há sectores que atingiram uma dimensão tal que só o Estado tem capacidade financeira para intervir, os bancos já não têm.
As exportações têm-se baseado nos produtos de média tecnologia que, no fundo, são os têxteis e o calçado que são de facto a matriz do nosso processo de industrialização e que se mantém muito activos.
Mas isso faz sentido porque não há sectores mais modernos que outros ou empresas mais modernas que outras. O que há, em determinadas actividades, é uma maneira mais moderna de fazer as coisas, no sentido que tem mais produtividade e competitividade externa que outras. Pode haver a concentração e modernização do sector têxtil e isso representar a progressão na cadeia de valor. Uma das actividades mais bem-sucedidas na Suécia é a Ikea. Se se for à genealogia, isso vem das florestas, madeira, pasta para papel, máquinas de fazer papel e mobiliário e agora já são os serviços relacionados com a venda de mobiliário.
Por que é que este projecto de re-industrialização do Governo não faz sentido, no seu entender?
Neste momento, a única forma que temos para analisar estes problemas é através de comparações internacionais e, em Portugal, a indústria não tem um peso demasiadamente baixo. O que faz sentido é ver quais são as unidades industriais e os sectores que estão com dificuldades, têm potencial de crescimento e que merecem ser apoiados.
Há aquela ideia que o Estado não deve escolher porque isso interfere com o funcionamento do mercado. Todavia, também é preciso ter em atenção que hoje em dia os Estados, como as empresas, têm mecanismos de avaliação de projectos que há alguns anos não tinham. O Estado pode usar esses mecanismos de uma forma directa ou até indirecta. Neste caso financiando os bancos e estes fazem esse trabalho de financiamento e avaliação. Não é uma repartição pública que necessariamente tem de fazer esse trabalho. E para isto não é preciso um Estado maior.