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O charme discreto da TMG Automotive

É o rosto tecnológico do histórico grupo têxtil TMG, liderado por Isabel Furtado, neta do fundador, Manuel Gonçalves. Factura mais de 100 milhões de euros, tem mais de 20 patentes, próprias ou em parceria. No lote de clientes estão BMW, Mercedes, Volvo Cars, Opel, Toyota, Jaguar, Porsche ou Maserati.

07 de Junho de 2018 às 12:05
Isabel Furtado tornou-se líder da TMG em 2008, ano que ficou marcado pelo surgimento da crise financeira internacional. DR
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Numa visita a um cliente alemão, Isabel Furtado ouviu alguém a dizer a um seu concorrente: "Don't worry, TMG Automotive is a charming little company, but it is ran by a woman." Hoje, com a empresa a facturar mais de 100 milhões de euros, Isabel Furtado relembra o episódio com compreensão: "A empresa era pequena, com uma mulher na gestão e num país periférico ... tudo para não resultar. O tempo encarregou-se de responder."

Em 2009, os três maiores clientes eram a Opel (27%), a Toyota (24%) e a KIA (11%) e a TMG Automotive facturava pouco mais de 19 milhões de euros. Em 2017, facturou cinco vezes mais e os maiores clientes são a BMW e a Mercedes com 55%, seguidos pela Volvo Cars e marcas como Jaguar, Porsche ou Maserati.

Os factores-chave para a TMG Automotive passar de "smart follower" a "trend-setter" foram "as pessoas certas, a tecnologia de ponta e a estratégia bem focada", sublinha Isabel Furtado. Hoje, a TMG Automotive tem a segunda posição com 18% do mercado europeu de tecidos plastificados e outros revestimentos de materiais para interiores da indústria automóvel, num universo de sete empresas na Europa. O líder de mercado tem mais de 60%.

Os momentos difíceis

A gestora considera que a TMG Automotive atravessa actualmente o seu momento mais difícil. Em Janeiro de 2018, entrou em funcionamento a nova fábrica de 25 mil metros quadrados, que fica situada nas antigas instalações da Têxtil Manuel Gonçalves, em Vale de São Cosme. Foi um investimento de 52,5 milhões de euros da TMG Automotive, e de 6,9 milhões da TMG Tecidos.

Mas a TMG Automotive está com dificuldades em encontrar mão-de-obra disponível, "quer ao nível de chão de fábrica quer ao nível de engenharia. Acresce a esta dificuldade, os longos períodos de formação, que nesta indústria é bastante relevante", refere Isabel Furtado. Por outro lado, o negócio é cada mais disperso em termos geográficos, "o que nos obriga a uma mudança e adequação às realidades locais, quer nos aspectos comerciais, quer nos aspectos de gestão".

Isabel Furtado torna-se CEO da empresa em 2008, quando surgiu a crise financeira internacional. A TMG Automotive estava a meio de um investimento de 30 milhões de euros e o mercado automóvel em queda. Recorda que a maior dificuldade "foi acreditar no 'saber esperar', mantendo os activos, que vieram a ser relevantes no período imediato à crise". A capacidade produtiva ficou subocupada, e aproveitou-se para "aumentar a experimentação e aprofundar o conhecimento dos produtos e processos. Foi mesmo necessário ter paciência e resiliência - que por vezes é tão necessária em gestão", diz Isabel Furtado. Após a crise estavam preparados para um time-to-market rapidíssimo, e para aproveitar as oportunidades.

A 31 Dezembro de 2017, contava com 550 postos, mas actualmente, com o arranque da nova unidade de fabril, são 614. Isabel Furtado assinala que as mulheres predominam nos quadros superiores, o que é invulgar numa empresa industrial do ramo automóvel. Dos 77 colaboradores com ensino superior (licenciatura, mestrados e quatro doutorados), 45 são mulheres.

Um dos aspectos-chave tem sido a inovação e os investimentos em I&D. A TMG investe 4% a 6% do turn over em investigação. Têm 19 patentes, algumas com os clientes, como BMW, Daimler e Toyota. "Nos próximos anos, aparecerão produtos interessantes, alguns focados nas novas tendências da mobilidade", sublinha Isabel Furtado. Tem, ainda, três patentes registadas em parceria com universidade e institutos portugueses.

Os passos do grupo

Esta área de negócios começou a germinar quando, nos anos 1960, a Têxtil Manuel Gonçalves começou a fazer tecidos plastificados e telas para oleados e tendas militares. Como a tecnologia de plásticos era incipiente em Portugal, Manuel Gonçalves contratou um engenheiro na Catalunha. Em 1971, a TMG forneceu assentos para a marca SAAB Monaco, a que se juntou já no fim da década de 70, a Volvo.

Em 1986 o grupo reorganizou a sua fileira têxtil, verticalizando por áreas a TMG Automóvel. No virar do milénio a TMG Automóvel especializou-se na indústria automóvel, mas ainda fazia sacos de golfe, telas e balões insufláveis como a piscina do Fluvial no Porto. Mas a partir de 2004/2005 o foco passou a ser a indústria automóvel e nasceu a TMG Automotive.

A TMG participou no renascimento do sistema financeiro privado em Portugal a partir de 1984, tendo sido accionista de referência do BCP e do Grupo Espírito Santo. Já no século XXI diversificou negócios com a Lightning Bolt, a HeliPortugal, em parceria com Pedro Silveira, a produção de energia hídrica e de co-geração, as Caves Transmontana e a Casa de Compostela, e tem 14% da Efacec Power Solutions, detida em 72% pela Winterfell, controlada pela empresária Isabel dos Santos.

Hoje, a actividade têxtil concentra-se nas empresas industriais, como a TMG Tecidos e a TMG Malhas, e a comercial Lightning Bolt, que facturam cerca 41 milhões de euros e contam com 550 pessoas.


perfil

Especialista em têxtil 

Isabel Furtado nasceu em Famalicão a 25 de Junho de 1961, a segundo dos cinco filhos do casamento de Maria Helena (a mais velha dos três filhos de Manuel Gonçalves, fundador da TMG) com Luiz Folhadela de Oliveira. Licenciou-se em Economia pela Universidade de Manchester, com especialização em Tecnologia Têxtil. No Verão Quente de 1975, com a ocupação da Têxtil Manuel Gonçalves, a mãe, Maria Helena Gonçalves foi para o Canadá, fixando-se durante três anos neste país. Depois, Isabel estudou em Inglaterra. Entrou para a TMG em 1985. Tomou posse recentemente como presidente da Cotec, a primeira mulher a ocupar o cargo, sucedendo a Francisco de Lacerda, CEO dos CTT. É vice-presidente do conselho geral da Universidade do Minho. 



Prémio Especial do Júri

Empresas resilientes

O júri do Prémio Excellens Oeconomia seleccionou cinco empresas resilientes que, apesar de destruídas nos incêndios de Junho e Outubro de 2017, se reergueram para voltar a criar emprego e riqueza.

Tondela: Sociedade Agrícola da Quinta da Freiria
Nos incêndios de 15 de Outubro de 2017, o Centro de Incubação da Quinta da Freiria foi consumido pelas chamas, um prejuízo de oito milhões de euros. "Os principais passos foram falar com as entidades que superintendem no sector da agricultura, a autarquia, e salvaguardar os postos de trabalho dos 47 funcionários", referiu José António dos Santos, presidente da Valouro. Sublinhou o apoio das seguradoras, entidades financeiras e autarquias. "Todos os organismos públicos estiveram ao nosso lado para facilitar a vida à empresa." Prevê que no início de Julho, o novo centro de incubação esteja a trabalhar, um investimento de 9 milhões de euros.

Oliveira do Hospital J. Guerra: capacidade produtiva a 25%
O ressurgimento da J. Guerra, que fabrica sirgaria e passamanarias de alta qualidade, tem sido um processo árduo. A perda total da empresa, avaliada em 15 milhões de euros, implica a aquisição de novos equipamentos, o que se revelou uma dificuldade. "Na aquisição de equipamentos novos que efectuámos, o seu prazo de entrega foi de 4/5 meses", explica Paulo Guerra. O lado positivo tem sido o esforço dos colaboradores, estando a laborar com três famílias de produtos das cinco que produziam. "A nossa capacidade produtiva está a cerca 25%", refere Paulo Guerra. O processo de reconstrução da empresa continua com a aquisição de novos equipamentos, teares, teares jacquard, máquinas de crochê.

Oliveira de Frades Toscca: mais empregados e mesmo negócio
"O fogo veio da floresta e não deixou um metro quadrado da fábrica para amostra", relembrou Pedro Pinhão, gestor e fundador da Toscca, líder no fabrico de cabanas, abrigos de jardim e casas de madeira, e outros produtos em madeira, tendo feito, por exemplo, os passadiços de Arouca. No dia seguinte ao incêndio, os 54 trabalhadores regressaram ao trabalho, e, a 17 de Novembro de 2017, a Toscca emitia uma factura. Os prejuízos foram de 10,2 milhões de euros, mas com as indemnizações das seguradoras, mais o apoio de 6 milhões do REPOR, a empresa renasceu com tecnologia de ponta, mais espaço, "para criar emprego e fazer melhores produtos e transformar conhecimento em bens tangíveis", como diz Pedro Pinhão. Hoje já têm 63 trabalhadores, factura o mesmo que no ano passado, e tem "uma dívida de gratidão aos portugueses, às pessoas que os ajudaram, à autarquia, a CCDRC, IAPMEI, bancos e seguradoras".

Castelo de Paiva - Arda - Indústria de Calçado

Mira - Siro Leal & Soares


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