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Os números mostram esta ascensão lenta e calma. A metáfora do tecto de vidro tem 40 anos mais ainda se aplica ao mundo das empresas e das organizações. Segundo um estudo da InformaDB, 73% das funções de direcção executiva é ocupada por homens. Os Recursos Humanos são a única função de direcção com paridade de género, e na área da direcção de Qualidade/Técnico são a maioria com 60%, mas apenas 10,4% ocupam a direcção-geral. Em 2017 as mulheres ocupavam 66 mil cargos de gestão, sendo que 24,2% das gestoras estavam nas pequenas empresas, 19,2% nas médias empresas e 14,7% eram gestoras nas grandes empresas.
Família e auto-limitação
Este retrato dá força a questão das quotas porque há outro tipo de resistências culturais, sociais e de representação. "Se uma mulher vir um anúncio em que preenche 80% dos requisitos acha que não tem condições de concorrer; se um homem reconhecer 60% considera que tem possibilidades de ficar com o lugar" conta Céline Abecassis-Moedas. As mulheres auto-limitam-se.
Está, por outro lado, enraizada a cultura diferenciada do papel do homem e da mulher na sociedade. Por isso, como adianta Maria Antónia Torres, partner da PwC, a progressão para cargos de liderança das mulheres é dificultada pela "conciliação das várias vertentes da sua vida, nomeadamente após terem filhos".
Como assinala Ana Torres, presidente da PWN Lisbon e líder do cluster de Doenças Raras da Pfizer na Europa, considera que lei aprovada em 2017 é a evidência da importância assumida e já interiorizada do tema" pois prevê que as empresas públicas e cotadas em bolsa em 2020 terão de ter 33,3% de cargos femininos nos conselhos de administração e nos órgãos de fiscalização.
Quotas e mérito
A líder da PWN (Professional Women's Network) acentua que as quotas são apenas "uma medida aceleradora de um equilíbrio de género na liderança" até porque "não terá sido com certeza por falta de mérito que as mulheres não assumiram até agora mais papéis de liderança de topo". Maria Antónia Torres aduz ainda que se há mais mulheres do que homens na população portuguesa desde 1960 e que, sem excepção, nos últimos 30 anos saíram mais mulheres do que homens das universidades, "a evolução tem sido extremamente lenta".
Céline Abecassis-Moedas refere ainda que na sua experiência profissional em empresas confirmou o que os estudos dizem. Para uma para uma maior e mais interventiva participação feminina nos boards têm de ser pelo menos três mulheres. "Na Europac, durante muito tempo fui a única mulher no primeiro conselho de administração onde estive. Depois entrou uma segunda, mas foi apenas à terceira entrada feminina que notei uma dinâmica completamente diferente."
Os pontos chave para chegar ao poder
Role models
"Temos poucos role models" diz Céline Abecassis-Moedas. O seu Fátima Barros, que foi directora da Católica Lisbon e presidente da Anacom da Universidade Católica, que a inspirou, a aconselhava.
Networking
É um mecanismo importante na progressão profissional. Na PWN o esforço para um verdadeiro networking entre executivas faz-se pelas 8h30 da manhã e não pelo fim da tarde e noite com acontece com os homens.
Mentoring
"Somos muito poucas e as mulheres para chegarem mais depressa ao topo precisam de mentores" diz Céline Abecassis-Moedas.