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No ano fiscal de 2017, que termina em junho, a PwC deverá ultrapassar os 100 milhões de euros de facturação cabendo à auditoria cerca de metade. Segundo José Manuel Bernardo, a PwC é a maior auditora em Portugal: "temos concorrentes que são maiores que nós, mas não o são em auditoria". Tem cerca de 1200 colaboradores, das quais mais de 500 na parte da auditoria. Refere que nos últimos cinco anos fez um grande investimento em equipas de auditoria para a área financeira até por causa da regra da rotação das auditoras, tendo vários trabalhos sobre o sector financeiro para a troika.
A sua área de especialização como auditor é a banca. O que pensa da actual situação do sistema bancário, da sua estabilização?
Tem havido uma grande discussão em torno do sistema bancário mas está melhor do que antes da intervenção da troika. A nossa economia passou por uma profunda crise que se reflectiu nas empresas e no balanço dos bancos com o incumprimento a atingir valores elevados. Além disso, a exposição de muitas empresas portuguesas a mercados em crise como o de Moçambique, Angola, Brasil teve repercussões nos balanços das empresas e dos bancos.
É provável que se tivesse que evoluir em termos de perspectiva de gestão de risco e de análise de rentabilidade de projectos de investimento. É um caminho que está a ser feito e os bancos estão muito mais fortes nestes aspectos do que há dez anos atrás.
Esta crise económica e financeira pôs em causa o trabalho e a reputação das auditoras?
No mercado em geral continua a haver uma expectation gap em relação ao trabalho do auditor. É a diferença da expectativa do mercado em relação ao trabalho e aos resultados do auditor e a realidade concreta.
O auditor emite sempre um relatório que é uma opinião sobre as demonstrações financeiras de segurança razoável depois de ter executado uma série de procedimentos destinados a assegurar que consegue emitir uma opinião de que aquelas demonstrações financeiras representam a posição financeira da instituição. Mas é impossível um auditor analisar todas as transacções. Num banco ou numa grande cadeia de distribuição realizam-se milhões de operações num dia. Um auditor trabalha por amostragem e sujeito ao risco de fraude, e então se houver conluio com terceiros é sempre muito difícil encontrar essas fraudes. Não quer dizer que não seja expectável que uma auditoria encontre uma situação de fraude, mas há sempre o risco de haver erros que não são detectados.
Admito que esta crise tenha criado algum ruído à volta da profissão de auditor , o que não foi favorável. Mas fala-se muito sobre o auditor e não se fala dos órgãos de fiscalização e da governação das instituições. Em primeira instância as responsáveis pelas contas são as administrações, e os seus órgãos de fiscalização têm deveres muito mais extensos do que só opinar sobre as demonstrações financeiras. Por exemplo os administradores não executivos devem assegurar que a empresa está a ser gerida no interesse de todos os stakeholders, o que o Código das Sociedades Comerciais chama o dever fiduciário dos administradores.
Em Portugal e na sequência da crise e de casos como o BES, a supervisão das auditoras passou para a CMVM. Como esta a ser a adaptação das auditoras à nova supervisão da CMVM?
O quadro de supervisão alterou-se passou para a CMVM mas continuamos a ter de cumprir um conjunto de normas emitidas pela Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. O que decorre em Portugal resulta de normas europeias como um regulamento e uma directiva que enquadram a supervisão da profissão de auditoria europeia mas que permite escolhas aos países.
Em Portugal no que tem a ver com as incompatibilidades entre papéis ou funções de consultor e de auditor há escolhas que fazem todo o sentido. Mas em certos casos foi-se mais além e há escolhas são muito pouco favoráveis às empresas e causam entropia no dia-a-dia e aumento de custos. Vou dar um exemplo. Existe uma limitação para a prestação de serviços que não são requeridos por lei ao auditor que é de 30% dos custos dos trabalhos de auditoria. Neste cômputo está a emissão de um relatório de revisão limitada para as contas semestrais, que as empresas. Este relatório é incluído na rubrica dos 30%, o que não faz muito sentido porque é um serviço de auditoria. Se me disserem que não faz sentido os auditores prestarem serviços de avaliação dos activos das empresas que auditam concordo até porque há o risco de autorevisão.
É possível que tenha havido pouco diálogo com a profissão e com as empresas de auditoria no sentido de os trabalhos de auditoria serem executados de acordo com as normas, que haja o seu enforcement e controlos de qualidade, pois o escrutínio dos auditores é fundamental, mas considero que, alguns aspectos concretos da lei, têm de ser melhorados.
Um dos aspectos mais mediáticos é a da rotação das auditoras…
Penso que a rotação dos dirigentes de auditoria faz sentido mas sobre a rotação das firmas tenho dúvidas se é de facto fundamental para assegurar o rigor das auditorias. Em Itália e no Brasil existe há alguns anos a rotação obrigatória das empresas de auditoria e não evitaram problemas.
E como tem sido o jogo de cadeiras da troca de empresas de auditoria para a PwC?
Crescemos significativamente nos últimos cinco anos e continuamos a crescer em auditoria neste ano fiscal que termina em Junho de 2017. O escritório da PwC em Portugal tem as operações de Cabo Verde e Angola. Nestes três mercados não é possível manter elevados crescimentos durante muito tempo porque há uma limitação de empresas que estão sujeitas a revisão de contas. Estamos a fazer actividades no campo de auditoria como a colocação de produtos em mercados de capitais, emissões de dívida. Temos vindo a crescer muito em aspectos relacionados com a cibersecurity, por exemplo.
A sua área de especialização como auditor é a banca. O que pensa da actual situação do sistema bancário, da sua estabilização?
Tem havido uma grande discussão em torno do sistema bancário mas está melhor do que antes da intervenção da troika. A nossa economia passou por uma profunda crise que se reflectiu nas empresas e no balanço dos bancos com o incumprimento a atingir valores elevados. Além disso, a exposição de muitas empresas portuguesas a mercados em crise como o de Moçambique, Angola, Brasil teve repercussões nos balanços das empresas e dos bancos.
É provável que se tivesse que evoluir em termos de perspectiva de gestão de risco e de análise de rentabilidade de projectos de investimento. É um caminho que está a ser feito e os bancos estão muito mais fortes nestes aspectos do que há dez anos atrás.
Esta crise económica e financeira pôs em causa o trabalho e a reputação das auditoras?
No mercado em geral continua a haver uma expectation gap em relação ao trabalho do auditor. É a diferença da expectativa do mercado em relação ao trabalho e aos resultados do auditor e a realidade concreta.
O auditor emite sempre um relatório que é uma opinião sobre as demonstrações financeiras de segurança razoável depois de ter executado uma série de procedimentos destinados a assegurar que consegue emitir uma opinião de que aquelas demonstrações financeiras representam a posição financeira da instituição. Mas é impossível um auditor analisar todas as transacções. Num banco ou numa grande cadeia de distribuição realizam-se milhões de operações num dia. Um auditor trabalha por amostragem e sujeito ao risco de fraude, e então se houver conluio com terceiros é sempre muito difícil encontrar essas fraudes. Não quer dizer que não seja expectável que uma auditoria encontre uma situação de fraude, mas há sempre o risco de haver erros que não são detectados.
Admito que esta crise tenha criado algum ruído à volta da profissão de auditor , o que não foi favorável. Mas fala-se muito sobre o auditor e não se fala dos órgãos de fiscalização e da governação das instituições. Em primeira instância as responsáveis pelas contas são as administrações, e os seus órgãos de fiscalização têm deveres muito mais extensos do que só opinar sobre as demonstrações financeiras. Por exemplo os administradores não executivos devem assegurar que a empresa está a ser gerida no interesse de todos os stakeholders, o que o Código das Sociedades Comerciais chama o dever fiduciário dos administradores.
Em Portugal e na sequência da crise e de casos como o BES, a supervisão das auditoras passou para a CMVM. Como esta a ser a adaptação das auditoras à nova supervisão da CMVM?
O quadro de supervisão alterou-se passou para a CMVM mas continuamos a ter de cumprir um conjunto de normas emitidas pela Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. O que decorre em Portugal resulta de normas europeias como um regulamento e uma directiva que enquadram a supervisão da profissão de auditoria europeia mas que permite escolhas aos países.
Em Portugal no que tem a ver com as incompatibilidades entre papéis ou funções de consultor e de auditor há escolhas que fazem todo o sentido. Mas em certos casos foi-se mais além e há escolhas são muito pouco favoráveis às empresas e causam entropia no dia-a-dia e aumento de custos. Vou dar um exemplo. Existe uma limitação para a prestação de serviços que não são requeridos por lei ao auditor que é de 30% dos custos dos trabalhos de auditoria. Neste cômputo está a emissão de um relatório de revisão limitada para as contas semestrais, que as empresas. Este relatório é incluído na rubrica dos 30%, o que não faz muito sentido porque é um serviço de auditoria. Se me disserem que não faz sentido os auditores prestarem serviços de avaliação dos activos das empresas que auditam concordo até porque há o risco de autorevisão.
É possível que tenha havido pouco diálogo com a profissão e com as empresas de auditoria no sentido de os trabalhos de auditoria serem executados de acordo com as normas, que haja o seu enforcement e controlos de qualidade, pois o escrutínio dos auditores é fundamental, mas considero que, alguns aspectos concretos da lei, têm de ser melhorados.
Um dos aspectos mais mediáticos é a da rotação das auditoras…
Penso que a rotação dos dirigentes de auditoria faz sentido mas sobre a rotação das firmas tenho dúvidas se é de facto fundamental para assegurar o rigor das auditorias. Em Itália e no Brasil existe há alguns anos a rotação obrigatória das empresas de auditoria e não evitaram problemas.
E como tem sido o jogo de cadeiras da troca de empresas de auditoria para a PwC?
Crescemos significativamente nos últimos cinco anos e continuamos a crescer em auditoria neste ano fiscal que termina em Junho de 2017. O escritório da PwC em Portugal tem as operações de Cabo Verde e Angola. Nestes três mercados não é possível manter elevados crescimentos durante muito tempo porque há uma limitação de empresas que estão sujeitas a revisão de contas. Estamos a fazer actividades no campo de auditoria como a colocação de produtos em mercados de capitais, emissões de dívida. Temos vindo a crescer muito em aspectos relacionados com a cibersecurity, por exemplo.