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Frulact, a multinacional da fruta

É uma história de esforço, resistência, inovação, vontade e a glória de ser a primeira empresa a receber o Prémio Excellens Oeconomia, promovido pela PwC e pelo Negócios

18 de Julho de 2013 às 10:03
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João Miranda | Aos 22 anos lançou a Frulact. A empresa nasceu no fundo do quintal da moradia da família, em Leça.

 

 

João Miranda ainda estudava quando começou a trabalhar. Esta experiência foi um acicate para a sua veia de empreendedor. Por isso, o pai, Arménio Miranda, que trabalhava na Longa Vida, propôs-lhe, certo dia, montar uma empresa que fizesse o caramelo e a chila que esta empresa colocava nos iogurtes.


Em 1987, com apoio do pai e do irmão Francisco Miranda, técnico de produção de queijo, nasceu a Frulact no fundo do quintal da moradia em Leça, onde estavam os patos, as galinhas e os cães de caça do pai. Cinco anos depois, em 1992 decidiram arriscar na construção de uma fábrica moderna na zona industrial da Maia. Pouco tempo depois surgiu a oportunidade para a compra da desactivada unidade de transformação de fruta da Cooperativa de Fruticultores da Cova da Beira, em Ferro.


Com uma posição dominante em Portugal e ascendente na exportação decidiram pela internacionalização fabril. Em 1995 os mercados do Norte de África mostravam apetite pelos produtos da Frulact. Como os direitos aduaneiros tornavam os preços proibitivos, a empresa decidiu instalar-se em Kenitra, a 60 quilómetros de Rabat, numa joint-venture com parceiros marroquinos. Mas a experiência frustrou-se. E em 2000 optaram pela Tunísia com a intenção estratégica de fornecer a indústria de lacticínios do Médio Oriente. Aliaram-se a um grupo local e construíram uma fábrica em Nabeul, próxima de Túnis. Na partilha de capital a Frulact aceitou que a sua posição dominante de 60% se diluísse com o tempo, mas quando se chegou ao equilíbrio do capital a operação que estava a superar todas as previsões entrou em colapso.


O ano de 2006 foi um ano decisivo e em que a Frulact ganhou dimensão produtiva. Conjugou-se a entrada em produção da fábrica de Tortosendo, onde investiram 15 milhões de euros e a compra de uma unidade fabril em Vichy (França) ao GBP (Granger Bouguet Pau), por cinco milhões de euros. Em 2007 regressou a Marrocos com uma nova unidade industrial em Larache detida a 100% num investimento de 4 milhões euros. No ano seguinte estendeu os seus interesses a Argélia e implantou uma unidade industrial em Akbou, em que os argelinos têm 49%. Investiu 3 milhões de euros.

 

 
Ficha da empresa

Empresa: Frulact, Fundada em 1987
Facturação (2012): 89,8 milhões de euros
Previsão (2013): 105 milhões de euros
Lucros (2012): 3,7 milhões de euros
Previsão (2013): 6,7 milhões de euros
Trabalhadores: 427

 

Esta multinacional de bolso portuguesa tem sete fábricas distribuídas por Portugal (3), França, Argélia, Marrocos e África do Sul e que tem uma capacidade instalada de 55 mil toneladas/ano. Vai facturar este ano cerca de 105 milhões de euros e tem 43% do seu negócio em França, cerca de 20% em Espanha e apenas 3,5% em Portugal. As vendas vêm sobretudo dos produtos lácteos (73%), seguindo-se os gelados com 11%.

Em Julho de 2009, a Frulact reforçou a sua presença no mercado francês com a compra da unidade GR6, em Apt, no sudeste da França, e na qual a Frulact concentrou a produção industrial, desactivando a fábrica de Vichy, o que deu origem a alguns conflitos sociais. Esta unidade implicou um investimento superior a 6 milhões de euros e tem uma capacidade instalada de 11 mil toneladas/ano.


Em 2011 aliou-se ao grupo sul-africano Blendtonel para uma operação industrial de preparados de frutas para produtos lácteos em Pretória, tendo em Julho de 2012 iniciado a produção e tem uma capacidade para 16 mil toneladas/ano. Os planos não ficam por aqui, e os mercados da América do Sul e da América do Norte estão no radar de investimento.


O conhecimento, a inovação e a segurança alimentar são fundamentais no negócio da Frulact. Por isso a empresa tem em Portugal 77 licenciados, 11 Mestres e 4 Doutores, dentro de um quadro de efectivo de 357 colaboradores e projectos de investigação com instituições universitárias. Mantém programas de doutoramento em ambiente empresarial, de estágios profissionais e emprego de jovens licenciados. Mas o passo de gigante, nesta área, foi dado com o investimento de 3 milhões para criar na Maia o Frutech e que tem, entre outros objectivos, aumentar de 15% (2008) para 25% (2014) o volume de facturação dos produtos inovadores.


Actualmente 15% das necessidades são supridas pelos fornecedores nacionais, sobretudo maçã, pêra e kiwi. A restante fruta (85%) vem das sete partes do mundo com o morango a viajar da Espanha, Marrocos, China e Polónia, o abacaxi da Tailândia, Vietname, Quénia e o mirtilo do Canadá e da Europa do Leste. Os abastecimentos de 15 frutos são feitos em 25 mercados. Os seus clientes são as multinacionais como a Nestlé, Danone, Unilever, Clesa, Lactalis, e empresas mais regionais (países), como a Lactogal em Portugal ou a Leche Pascual em Espanha.


Hoje a Frulact gere cerca de 900 referências em produtos acabados e 2500 matérias-primas alimentares. Deu os primeiros passos com as suas próprias marcas Fru, Fru - Fruits For You e Benefit e começou a fazer para as chamadas marcas de distribuição para grandes empresas mundiais produtos fabricados a partir da fruta como sumos, compotas, doces e baby food. Este representa cerca de 3%. Assim são os negócios da Frulact que hoje é uma das 5 principais empresas europeias do sector.

 

 
Perfil

Nasceu a 19 de Abril de 1965 em Roriz no concelho de Barcelos, onde tem uma quinta e se refugia ao fim de semana. Sente-se mais como líder do que como gestor. Como é usual nas empresas que nascem da vontade e do pulso de empreendedor com poucos capitais, João Miranda, que tinha 22 anos quando se lançou na Frulact, passou por todas as áreas funcionais. Aprendeu na prática porque deixou o curso de gestão quando se lançou nesta aventura. Considera esta polivalência uma virtude pois "há decisões que são tomadas por intuição, por feeling, e estas, não podem ser condicionadas pela visão teórica dos ditos especialistas e por vezes catedráticos".


Fala de "formas de estar na gestão". A primeira é inspirada no pai, Arménio Miranda, que costuma dizer que "os verdadeiros accionistas da Frulact são os clientes, pelo que, todos devemos estar orientados para o cliente". Segue-se a cultura da partilha das decisões, uma distância mínima ao poder, e uma organização de rosto humano, como se fosse uma verdadeira família, os "frulacteanos". Nesta cultura organizacional combate-se o group think e a cultura do yes man e incentiva-se a liberdade de expressão, não se penalizar quem erra e corrige-se "assumindo de forma transparente e solidária o erro".

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