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A vida é aprender

Quase centenária a Bial tem hoje a impressão digital de Luís Portela que fez dela a grande empresa farmacêutica portuguesa. Foi ele o escolhido como personalidade do ano

18 de Julho de 2013 às 10:09
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Luís Portela | O presidente não executivo da Bial recebeu o prémio das mãos de Paulo Fernandes, líder da Cofina, empresa que detém o Negócios.

 


"A cultura do curto prazo, de objectivos imediatos, é a principal limitação da acção para um percurso de sucesso" disse recentemente Luís Portela, presidente da Bial, e Prémio Excellens Oeconomia Personalidade de 2012. A investigação e a inovação deram-lhe a visão de longo prazo que no seu negócio é capital e é um factor crítico. A coroa de glória desta concepção está no anti-epiléptico Zebinix, o primeiro medicamento português, que se construiu ao longo de 15 anos, e cuja comercialização se iniciou em 2010. São o tempo e a experiência, a imaginação e a técnica que estão no cerne do seu projecto empresarial. Mas também o acaso joga as suas cartas. Como disse numa entrevista "a minha equipa sintetizou 12 mil moléculas ao longo destes últimos 20 anos, o que é fantástico, mas é preciso ver que apenas seis sobreviveram, o que quer dizer que todas as outras foram para o balde do lixo...". Mas é só uma evidência para quem diz, como Luís Portela, que "percebi cedo que o mundo não é o paraíso: é uma escola; estamos aqui para aprender".


Luís Portela é neto do fundador da Bial, Álvaro Portela, que em 1924 se tornou o único proprietário da empresa, que cinco anos antes fundara com um sócio. Nasceu em 28 de Julho de 1951 em Águas Santas (Porto) e pensou ser frade, monge tibetano ou médico: "queria sobretudo ser útil ao outro". Escolheu medicina ainda que o pai quisesse que fosse para economia ou farmácia para se dedicar à empresa. Era estudante ainda, tinha 21 anos, quando o pai, António Emílio Portela, faleceu, e teve de se começar a interessar pela Bial. Durante 3 anos foi médico no hospital de São João, e deu aulas, de Psicofisiologia, na Faculdade de Medicina do Porto durante seis anos. Até 1978 o seu projecto de vida era vender a participação que tinha na Bial e ir para Cambridge fazer um doutoramento. Como o irmão mais velho, que então geria a empresa, não lhe comprava a participação e assumia claramente a liderança, Luís Portela deixou-se seduzir pelo negócio e acabou por comprar as acções dos outros accionistas. Mobilizou as suas poupanças, pediu dinheiro emprestado e, com o método que coloca em tudo o que faz na vida, elaborou um plano um plano para pagar as dívidas num prazo de seis a sete anos, mas ao fim de três anos tinha tudo pago.


Massa cinzenta internacional
A estratégia que pensou para a Bial tinha por objectivo fazer uma empresa farmacêutica portuguesa que tivesse capacidade de inovação. Por isso, como costuma explicar, foi procurar a inovação onde ela estava, as multinacionais: "naquela altura, as empresas portuguesas apresentavam cópias; eu procurei licenciar novas tecnologias, novos medicamentos com empresas multinacionais para trazer para Portugal. A empresa nunca apostou nas cópias, como não está agora a apostar nos genéricos. E quando as coisas correram bem em Portugal, lançámo-nos para África, América Latina, Espanha". A Bial tem 870 trabalhadores e conta com instalações em Espanha (270 pessoas), Itália, Suíça, Moçambique, Angola, Costa do Marfim e Panamá e distribui os seus produtos por mais de 40 países. É esta rede internacional para onde exporta 48,5% das suas vendas, que em 2012 totalizaram 132 milhões de euros, que lhe tem servido como suporte para os tempos anémicos que vive a política do medicamento e da Saúde em Portugal. Aliás a sua empresa viveu os tempos áureos da construção do Estado social na área da Saúde. Aproveitou este balanço e recorreu a massa cinzenta estrangeira para lançar as bases de investigação da Bial, onde criou e desenvolveu dois centros de investigação, um na Trofa e outro em Bilbau (investimento de 12 milhões de euros), onde trabalham mais 100 pessoas, com algumas dezenas de doutorados. Em Janeiro de 2011, tornou-se chairman da Bial, tendo passado as funções executivas para o filho, António Portela, cumprindo-se um dos seus anseios e uma das tradições da Bial.


Aos 63 anos a sua busca pessoal não se limita às curas do corpo, passa também pela espiritualidade e pela compreensão do Homem na sua totalidade. O que foi enfim o seu projecto de vida desde o início. As suas preocupações pela compreensão da espiritualidade levaram a criar em 1994, a Fundação Bial, que já apoiou 460 projectos de investigação nestas áreas, cerca de metade para a psicofisiologia e outra metade para a parapsicologia, envolvendo mais de mil investigadores de 27 países.


A paixão pela escrita, pela leitura e pelo conhecimento fazem dele um escritor compulsivo. Ao longo da sua vida já publicou livros como "Para Além da Evolução Tecnológica", "À Janela da Vida", "Esvoaçando", "O Prazer de Ser", e mais recentemente "Parapsicologia, Entre a Crença e a Ciência". Faz tudo isto com a serenidade de um asceta e diz que durante 30 anos nas empresas nunca gritou com ninguém até porque, como referiu "os 20 anos de karaté ajudaram a isso, a uma auto-confiança, a uma postura a que se chama controlada". Da mesma forma contida mas maduramente reflectida que diz que "o país precisa de focar a atenção na criação de riqueza. Um tipo que cria riqueza é normalmente olhado com desconfiança, quando tero talento de criar riqueza é o que precisamos. Onde a discussão se pode manter é na distribuição da riqueza que se cria, aí podemos discutir muito".

 

 
Frases

"Sou um homem que sente necessidade de reflectir sobre os problemas, que sente necessidade de partir ao encontro de si próprio."


"Se as religiões se focassem no essencial do essencial, provavelmente encontrar-se-iam na verdade total. E, nessa altura, teríamos só uma religião."


"A diferença está sempre nas pessoas, não na organização em si. As organizações são capazes de fazer coisas boas, bonitas, de grande alcance, se têm gente boa. A diferença é essa."


"Temos 22% dos investigadores nas empresas e 78% nas universidades e instituições de investigação. Nos EUA, são 80% do lado das empresas e 20% do lado das universidades. Na Europa, a média anda à volta dos 50%."

 

Luís Portela
Presidente da Bial

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