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As empresas que mais recorrem ao financiamento por capitais alheios são as microempresas, que representam 89% das 390 mil empresas em actividade em Portugal, em 2014. O que é confirmado por Cláudia Rocha, partner de Corporate Finance and Restructuring da PwC, quando refere que "o tecido empresarial português é maioritariamente composto por PME. Estas são as organizações que mais rapidamente se ressentem de conjunturas económicas menos favoráveis ou mesmo recessivas. Estas suportaram o seu crescimento, até há poucos anos, através do acesso facilitado ao crédito, com custos relativamente baixos". A elevada dependência de capital alheio era particularmente crítica para cerca de 30% das empresas que tinham capitais próprios negativos. Destas, 32% eram microempresas, e só 6% grandes empresas.
Mas os números do Banco de Portugal também mostram alguma resiliência por parte das PME nesta crise internacional e de resgate financeiro de Portugal. Face a 2010, foi nas grandes empresas que a autonomia mais se deteriorou, descendo de 35% para 30%, em contraste com o aumento verificado nas PME, que passou de 28% para 31%.
Peso da dívida e reestruturação
As principais fontes de financiamento foram a dívida remunerada e os créditos comerciais, que representaram, conjuntamente, 73% do passivo das empresas correspondendo o restante, por exemplo, a dívidas ao Estado, a accionistas e sócios. O financiamento por dívida comercial representava 16% do passivo das empresas em 2014. No entanto, em termos líquidos, não houve financiamento através da dívida comercial, pois o financiamento aos clientes foi superior ao crédito dos seus fornecedores. Por sua vez 57% do passivo das empresas estava associado a dívida remunerada sob a forma de juros.
Ao nível da dívida remunerada, os empréstimos bancários assumiram particular relevância, ao representarem 26% do passivo das empresas (28% em 2013). Os financiamentos obtidos junto de empresas do grupo foram a segunda componente mais relevante da dívida remunerada (21% do passivo). Os títulos de dívida e os outros financiamentos apresentavam menor relevância (7% e 4%, respectivamente).
Cláudia Rocha assinala que "o abrandamento da actividade, as dificuldades de tesouraria, a constatação de que a estrutura de custos fixos é demasiado elevada para níveis de actividade mais moderados, as limitações no acesso ao crédito e o desequilíbrio entre a operação e o financiamento são sintomas que, se não forem travados, tendem a agravar-se à medida que os mercados e a economia evoluem". Por isso, na sua opinião, todo este cenário remete para a necessidade de uma reestruturação do tecido empresarial. O que passa pela "necessidade da redução da dependência dos capitais alheios". Acrescenta que "num primeiro momento reestruturando e criando condições mais ajustadas entre 'cash flow' operacional e 'cash flow' de financiamento; convertendo, na medida do possível, dívida em capital; profissionalizando ao máximo a gestão para que actue e implemente medidas de crescimento sustentado".