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Cláudia Rocha: Dinheiro precisa-se

Este poderia ser o anúncio que muitos empresários em Portugal colocariam porque as suas empresas sofrem desde 2010 com a escassez de financiamentos e de capital.

18 de Fevereiro de 2016 às 09:48
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Cláudia Rocha é partner de Corporate Finance and Restructuring da PwC
Cláudia Rocha é partner de Corporate Finance and Restructuring da PwC
O financiamento às empresas é provavelmente uma das primeiras referências que se faz quando se fala dos problemas mais prementes da economia portuguesa. Segundo dados do Banco de Portugal em 2014, a autonomia financeira das empresas não financeiras foi de 30%, ou seja, 70% do activo das empresas foi financiado por capitais alheios, valores semelhantes aos de 2010. Por sua vez os empréstimos concedidos baixaram de 103.270 milhões de euros em 2010 para 79.388 milhões de euros quatro anos depois, ou seja, menos 23,1%.

As empresas que mais recorrem ao financiamento por capitais alheios são as microempresas, que representam 89% das 390 mil empresas em actividade em Portugal, em 2014. O que é confirmado por Cláudia Rocha, partner de Corporate Finance and Restructuring da PwC, quando refere que "o tecido empresarial português é maioritariamente composto por PME. Estas são as organizações que mais rapidamente se ressentem de conjunturas económicas menos favoráveis ou mesmo recessivas. Estas suportaram o seu crescimento, até há poucos anos, através do acesso facilitado ao crédito, com custos relativamente baixos". A elevada dependência de capital alheio era particularmente crítica para cerca de 30% das empresas que tinham capitais próprios negativos. Destas, 32% eram microempresas, e só 6% grandes empresas.

Mas os números do Banco de Portugal também mostram alguma resiliência por parte das PME nesta crise internacional e de resgate financeiro de Portugal. Face a 2010, foi nas grandes empresas que a autonomia mais se deteriorou, descendo de 35% para 30%, em contraste com o aumento verificado nas PME, que passou de 28% para 31%.

Peso da dívida e reestruturação

As principais fontes de financiamento foram a dívida remunerada e os créditos comerciais, que representaram, conjuntamente, 73% do passivo das empresas correspondendo o restante, por exemplo, a dívidas ao Estado, a accionistas e sócios. O financiamento por dívida comercial representava 16% do passivo das empresas em 2014. No entanto, em termos líquidos, não houve financiamento através da dívida comercial, pois o financiamento aos clientes foi superior ao crédito dos seus fornecedores. Por sua vez 57% do passivo das empresas estava associado a dívida remunerada sob a forma de juros.

Ao nível da dívida remunerada, os empréstimos bancários assumiram particular relevância, ao representarem 26% do passivo das empresas (28% em 2013). Os financiamentos obtidos junto de empresas do grupo foram a segunda componente mais relevante da dívida remunerada (21% do passivo). Os títulos de dívida e os outros financiamentos apresentavam menor relevância (7% e 4%, respectivamente).

Cláudia Rocha assinala que "o abrandamento da actividade, as dificuldades de tesouraria, a constatação de que a estrutura de custos fixos é demasiado elevada para níveis de actividade mais moderados, as limitações no acesso ao crédito e o desequilíbrio entre a operação e o financiamento são sintomas que, se não forem travados, tendem a agravar-se à medida que os mercados e a economia evoluem". Por isso, na sua opinião, todo este cenário remete para a necessidade de uma reestruturação do tecido empresarial. O que passa pela "necessidade da redução da dependência dos capitais alheios". Acrescenta que "num primeiro momento reestruturando e criando condições mais ajustadas entre 'cash flow' operacional e 'cash flow' de financiamento; convertendo, na medida do possível, dívida em capital; profissionalizando ao máximo a gestão para que actue e implemente medidas de crescimento sustentado".

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