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Calçado, a estratégia do cozido à portuguesa

Fortunato Frederico foi presidente da APICCAPS durante 18 anos e liderou a transformação de um sector tradicional num sector exportador com design e tecnologia. Detém também o principal grupo nacional de exportadores de calçado, a Kyaia.

26 de Maio de 2017 às 15:02
Fortunato Frederico, o líder do Grupo Kyaia, começou a trabalhar na indústria do calçado aos 15 anos. Miguel Baltazar
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A indústria do calçado livrou-se da condenação à extinção em 1994 com o lançamento do programa "A Fábrica de Calçado do Futuro" e, vinte anos depois, ousava lançar uma campanha de publicidade a anunciar: "Portuguese Shoes: the sexiest industry in Europe".

"Hoje é um case-study mas o que se fez não vem nos livros, foi um cozido à portuguesa" refere Fortunato Frederico que esteve 18 anos à frente da APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos) e que recentemente foi substituído por Luís Onofre na presidência da organização. Desde 2009, as exportações do sector cresceram 55%, tendo atingido em 2016 os 1,9 mil milhões de euros e mais de 81 milhões de pares de calçado pelo mundo, o preço médio dos sapatos made in Portugal subiu 24%, para atingir os €23,58 e ocupa o segundo lugar na lista dos maiores produtores mundiais, depois de Itália.

Hoje é um case-study mas o que se fez não vem nos livros, foi um cozido à portuguesa.

O segredo foram pequenas acções, pequenas motivações.
Fortunato Frederico
ex-Presidente APCICAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos)

É uma história em que se reúnem fundos comunitários com empresas, todas PME, com universidades, centros tecnológicos, associações empresariais para traçar uma estratégia comum e com o objectivo de tornar a fileira portuguesa do calçado a mais moderna do mundo no fabrico de calçado de couro. Um dos traços dominantes foi a união das empresas em torno de objectivos comuns. "O segredo foram pequenas acções, pequenas motivações" admite Fortunato Federico. E recorda que no tempo de Mira Amaral, ministro da Indústria, se instituiu a obrigação para que os empresários que adquirissem máquinas com fundos comunitários fizessem acções de demonstração para outros empresários. A entrada de grupos internacionais de calçado, que obrigou a indústria nacional a procurar o interior e os salários mais baixos, também ajudou porque trouxe know-how que foi absorvido. Além disso, as presenças dos industriais portugueses em feiras tornaram-se de esporádicas em habituais.

Fundador do Grupo Kyaia

Desde 1994 que a APICCAPS elabora os planos estratégicos sectoriais para cinco anos. O actual, que é o Footinov (2015-2020), quer consolidar Portugal como um actor competitivo e global no negócio do calçado, artigos de pele e acessórios de moda, através da inovação radical e/ou incremental com a utilização de materiais e componentes como as nano partículas e os nano materiais multifuncionais, os biomateriais.

Fortunato Frederico é o líder do grupo Kyaia, o maior fabricante português de calçado, que fundou em 1984. Era a realização de sonho que começou em Angola quando estava no serviço militar pois começou a trabalhar na indústria aos 15 anos. Emprega cerca de 600 pessoas, dos das quais, 350 afectas à área industrial, e facturou 65 milhões de euros em 2016, dos quais, 40 milhões de euros em exportações. Tem a marca Fly London, insígnia com lojas próprias em Nova Iorque, Londres, Dublin, Copenhaga, Lisboa e Porto, a cadeia de sapatarias Foreva, em Portugal, a marca Softinos (segmento de conforto) e produz também os sapatos da Camel, fruto de uma longa parceria com esta marca internacional.

O poder da tecnologia

Este grupo, que tem as suas unidades industriais em Paredes de Coura e Guimarães, não se limita a fabricar e a vender sapatos. Em 2016 apresentou uma inovação tecnológica, o SmartSL 4.0 - Smart Stiching Logistics, um projecto que resulta da investigação e desenvolvimento de cinco engenheiros da Kyaia Soluções Informáticas em parceria com o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC) do Porto, e o investimento, da na ordem dos 60 mil euros, foi totalmente suportado pela Kyaia de uma, que agora pretende colocar o software no mercado.


1984
Grupo Kyaia
Fortunato Frederico é o líder do grupo Kyaia, o maior fabricante português de calçado, que fundou em 1984.

1994
Planos estratégicos
Desde 1994 que a APICCAPS elabora os planos estratégicos sectoriais para cinco anos.


Os objectivos são mais amplos e a palavra de ordem colaboração é assumida em plenitude tanto pela Kyaia como para outros actores do sector. Ainda recentemente foi apresentado o projecto HSSF (High Speed Shoe Factory), que é um novo modelo de fábrica de calçado para resposta ágil em 24 horas, orientado para a produção unitária, par a par, capaz de responder sem 'stocks', às vendas pela internet, às pequenas encomendas e às reposições de produtos em loja e ao fabrico rápido das amostras, e o projecto Shoe ID para o uso de tecnologias RFID conjugadas com sistemas de interactividade e modelos de previsão inovadores, aplicadas à cadeia de valor da fileira do calçado, desde a produção, às redes distribuição e à loja. Foram desenvolvidos pela Kyaia em consórcio com a Flowmat, Silva & Ferreira, Creative Systems, CEI, INESC TEC, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e CTCP - Centro Tecnológico do Calçado de Portugal.


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