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António Gomes Mota: "A bolsa para PME é mera fantasia"

António Gomes Mota alerta para o facto de um sector bancário dominado por bancos não portugueses tender a ser ainda mais selectivo e menos flexível na concessão de crédito.

18 de Fevereiro de 2016 às 09:59
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Professor catedrático do ISCTE Business School, escola onde se licenciou e fez a sua carreira académica, António Gomes Mota, 58 anos, é também professor convidado do MBA da Nova/Católica de Lisboa desde 2013. Tem um percurso empresarial de mais de 20 anos em cargos de gestão nos sectores bancário, de consultoria e serviços financeiros.

Em termos de fragilidade do tecido empresarial existem aspectos relevantes que são a subcapitalização e a dependência de capitais alheios. Como é que se explica esta subcapitalização? E a dependência dos capitais alheios?
Há várias razões que podem ser apontadas, eu mencionaria apenas uma que tem sido historicamente uma importante condicionante ao crescimento empresarial e que se concretiza na grande dificuldade de muitos empresários partilharem o poder das suas empresas, isto é, abdicarem de ter uma posição dominante, normalmente na empresa que fundaram. Havendo alguma limitação de capital pessoal, as oportunidades de crescimento do negócio, que em parte deveriam ser sustentadas por aumentos dos capitais próprios, acabam por ser financiadas por capitais alheios, justamente para evitar a entrada de novos sócios/accionistas, contribuindo para um acrescido desequilíbrio da estrutura financeira que, ao mais pequeno abalo no negócio, pode colocar de imediato a empresa em sérias dificuldades.

Quais são os meios e os incentivos possíveis para aumentar a capitalização das empresas?
De um lado teremos iniciativas das políticas públicas que fomentem e apoiem os diferentes actores que podem aportar capital às empresas - fundos de "private equity", "business angels", etc., particularmente discriminantes para as operações de aumento de capital em detrimento da mera aquisição de participações. De outro lado teremos incentivo a operações de fusão, com uma visão mais sectorial e também, embora mais difícil, com uma visão transnacional. Este tipo de operações oferecem duas grandes vantagens, a de aumentar a escala empresarial tão decisiva para um maior nível de competitividade e capacidade de entrada noutros mercados e, ao mesmo tempo, fomentar a partilha de poder e a capacidade de desenvolver parcerias accionistas com visão estratégica e de longo prazo, susceptíveis de minorar a escassez de capital individual e de responder afirmativamente a oportunidades de crescimento e expansão dos negócios.
Poder-se-ia ainda referenciar uma terceira linha, a de desenvolvimento de incentivos à cotação em bolsa, mas creio que tal será mais fácil quando tivermos a possibilidade de caminhar mais proficuamente na direcção do aumento da escala empresarial, pois bolsas para PME ou similares não são mais do que uma mera fantasia e sem qualquer valor prático susceptível de trazer capital aquele tipo de empresas.

Como é que as empresas podem diversificar os seus financiamentos? Que incentivos seriam necessários para se criarem mais alternativas? Quais são as opções para diversificar ou desintermediar o financiamento?
No caso das grandes empresas há um caminho a percorrer a nível do mercado de capitais, na vertente de empréstimos obrigacionistas, sem praticamente expressão em Portugal, a nível do sector empresarial e que a actual conjuntura de aplicações financeiras com muito baixas taxas de juro poderá representar um incentivo importante para o seu desenvolvimento. No caso das PME, é muito difícil criarem-se veículos de dívida alternativo ao financiamento bancário, sendo até outra a preocupação, ligada à maior concentração do sector bancário e dominado por bancos não portugueses que tenderá a ser ainda mais selectivo na concessão de crédito e sobretudo com menor flexibilidade de manter apoio nos momentos de maior dificuldade em conjunturas mais adversas. 

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