- Partilhar artigo
- ...
O "senhor Rui", como é carinhosamente tratado em Campo Maior, terra alentejana onde nasceu a 28 de Março de 1931, sentiu bem cedo as carências das suas raízes humildes. Isso só lhe deu força. Começou a trabalhar ainda muito novo e construiu um império do café que faz hoje de Manuel Rui Azinhais Nabeiro a 12.ª personalidade mais rica de Portugal, no "ranking" da revista Exame.
A sua vida é feita de afectos. Nas empresas de Rui Nabeiro distribuem-se beijos todos os dias e desde 1953 que partilha a sua vida com Alice, que conheceu nos bancos da escola primária e com quem teve dois filhos. "Cada pessoa tem o seu estilo. Eu sou uma pessoa que acarinha. Não há nada melhor na vida que as pessoas saberem acarinhar", confessou o comendador à jornalista Anabela Mota Ribeiro, numa entrevista publicada em 2002 na revista Selecções do Reader’s Digest.
Terceiro dos quatro filhos de Manuel dos Santos Nabeiro e Maria de Jesus Azinhais, provém de uma família com poucos recursos – a mãe tinha uma mercearia, o pai foi cavador e motorista antes de se dedicar ao café –, pelo que começou a trabalhar aos 13 anos, ajudando a mãe no seu estabelecimento e o pai e os tios Joaquim e Vitorino na torra do café. Mas não sem antes concluir o ensino primário – naquela época, no Alentejo rural de finais da década de 30, inícios dos anos 40, a taxa de analfabetismo era elevadíssima e ter a quarta classe era uma raridade, conforme conta a Up Magazine da TAP.
Percebendo o sacrifício feito pelos pais para que os quatro filhos tivessem a instrução primária, Rui Nabeiro começou a trabalhar para ajudar a levar dinheiro para casa. E trabalhou onde havia trabalho, contou às Selecções do Reader’s Digest: "vendia peixe, fui pregoeiro (de novidades, coisas que se arrendavam ou vendiam, anúncios da câmara). Quantas vezes fui substituir o pregoeiro porque aquilo dava uns escudos. E não era para gastar num doce qualquer, era para a mãe ficar menos carente". "Casei em 53, em Outubro, e em Setembro ainda entreguei o ordenado à minha mãe", acrescenta.
"O meu pai ganhava pouco e a mercearia era uma grande ajuda. Posso dizer-vos que nasci, cresci e vivo para o comércio. Hoje tenho a certeza que foi a mercearia da minha mãe que ditou a minha vocação de empresário, explicou numa outra entrevista, citado pela CEO Lusófono.
Aos 17 anos, após a morte do pai, assumiu as rédeas da pequena torrefacção familiar e, com o fim da guerra civil em Espanha, começou também a vender café no país vizinho, criando uma sociedade com os seus tios, a Torrefacção Camelo. Mas aos 30 anos, em 1961, decidiu continuar sozinho o seu percurso, tendo criado a Delta Cafés com apenas três funcionários. Hoje são três mil, repartidos por 23 empresas do Grupo Nabeiro/Delta Cafés, que operam nos mais variados sectores: indústria, serviços, comércio, hotelaria, imobiliário, agricultura e vitivinicultura e distribuição.
O arranque não foi fácil. "Vender era complicado. No início não conseguia vender um quilo de café. Mas a imaginação ajudou-me e comecei por vender as cevadas, que era o produto que o povo conseguia adquirir", contou à CEO Lusófono.
O negócio começou entretanto a correr melhor e as décadas de 70 e 80 foram de grande expansão. Em 1982 constitui a Novadelta e em 1988 cria o Grupo Nabeiro, prosseguindo a internacionalização do seu império do café que está hoje presente em 35 países. É também o maior empregador na região de Campo Maior.
A 9 de Junho de 1995 é-lhe atribuído o grau de Comendador da Ordem do Mérito Empresarial Classe Industrial e em 2006 recebe a Grã-Cruz da Ordem do Infante – nesse mesmo ano é ainda distinguido com o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora.
No "ranking" da revista Exame das personalidades/famílias mais ricas de Portugal em 2015, ocupa o 12.º lugar, com uma fortuna avaliada em 391,8 milhões de euros. "Consegui passar da humildade à grandeza. À grandeza, mas com humildade", diz, citado pelo Portal da Liderança.