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“Ainda não inventámos tudo o que precisamos para chegar à neutralidade carbónica em 2050”, referiu Cristina Melo Antunes, responsável de Negócio ESG e Green Finance do Banco Santander, durante a mesa-redonda “Percorrendo o Caminho: Adaptação, Inovação e Inspiração” na primeira conferência da 2ª edição do prémio Portugal Inspirador, dedicada ao turismo e que se realizou em Faro, onde a inovação e a sustentabilidade foram dominantes.
O prémio Portugal Inspirador, é uma iniciativa do Santander de Portugal e da Medialivre, com o Jornal de Negócios, o Correio da Manhã e a CMTV, em parceria, com a Informa DB, a Accenture e a Nova SBE.
O NEST Centro de Inovação do Turismo tem cinco anos e surgiu em Fevereiro de 2019 para dar respostas e soluções aos desafios que o ecossistema do turismo enfrenta no que designa como dupla transição, que é a transição digital e a sustentabilidade, explicou o seu diretor executivo, Roberto Antunes. É uma associação sem fins lucrativos e foro privado mas que é composta pelo Turismo de Portugal, e sete parceiros como a Google, Microsoft, ANA- Aeroporto, Brisa Via Verde, BCP, NOS e BPI, e está sedeado na Covilhã.
Roberto Antunes afirmou que o NEST fez ferramentas digitais para apoiar as empresas PME, ao perceber que havia uma carência de oferta no mercado e às dificuldades em acederem a consultora. Uma delas é a T+, uma ferramenta de diagnóstico de sustentabilidade para as pequenas e médias empresas cadeia de valor do turismo que permite aceder gratuitamente a informações, links, templates, fornecedores.
Agenda sustentável
Cristina Melo Antunes destacou a iniciativa "Empresas Turismo 360", do Instituto de Turismo de Portugal, que permite às PME medirem a sua pegada ecológica e fazer um road map para trabalhar para o futuro e que Roberto Antunes considerou "um programa de capacitação e de aferição de níveis de esforço para depois atribuir através dos aspetos positivos uma discriminação positiva no acesso ao crédito".
Quando foi definido o objetivo de neutralidade carbónica em 2050 pretendia-se que a transição fosse justa e por isso definiu-se que "uma empresa só é neutra em carbono se, além de ser neutra nas suas emissões de carbono pela sua atividade e pelo consumo de energia, tiver clientes e fornecedores neutros em carbono. O que conta é a cadeia de valor", explicou Cristina Melo Antunes.
Os bancos, por exemplo, só serão neutros em carbono em 2050, como o Santander pretende, se os fornecedores e os clientes forem neutros em carbono. Os créditos terão de ser sustentáveis e portanto tem de financiar e ajudar a transição de todos os clientes. Por isso, a mensagem de Cristina Melo Antunes é que "não há uma velocidade para as grandes empresas e outra para a PME no percurso para a neutralidade carbónica. Já começou porque entrou em vigor a diretiva de reporte para as grandes empresas e bancos, que, em 2025, têm de publicar o Green Asset Ratio, os ativos verdes sobre o total dos ativos de crédito. É uma realidade que envolve todo o ecossistema".
O desafio hídrico algarvio
O desafio mais recente do turismo algarvio é também um dos mais antigos e tem a ver com a eficiência hídrica. "Não é uma questão nova no Algarve pois sempre lidamos com a falta de água e alguma seca na região. Desde 2020 que estamos a trabalhar num plano de eficiência hídrica regional envolvendo todos os setores, com os golfes, por exemplo, a darem um contributo com a utilização de águas tratadas. Desde dezembro de 2023 temos vindo a trabalhar num conjunto de soluções adicionais para dar uma resposta", disse André Gomes, presidente do Turismo do Algarve.
O Grupo Algarveresorts tem adaptado os seus hotéis a este novo paradigma com a colocação de painéis solares para aproveitar os 320 dias de sol no Algarve, a utilização regrada dos recursos hídricos. No novo projeto de hotel na Praia do Castelo, o objetivo é serem autossustentáveis em energia através de painéis solares e baterias de acumulação. Em termos de recursos hídricos, será feita a reutilização das águas através da duplicação do sistema de rede de águas e esgotos.
"Todas as águas utilizadas em lavatórios, banhos, serão reutilizadas e tratadas para outros fins, como os autoclismos, a rega de jardins, dentro da própria unidade. Permitirá uma poupança da ordem dos 50% do consumo de água e uma redução da água para as estações de tratamento. Terá ainda um sistema inteligente e integrado de controlo destas tecnologias, para detetar avarias, fugas", disse Teresa Bispo, administradora do Grupo Algarveresorts.
Menos sazonalidade
Teresa Bispo considera que se poderia ir mais longe na questão da sustentabilidade e eficiência hídrica se houvesse mais flexibilidade e uma maior abertura das entidades públicas e uma maior de coordenação destas com as entidades privadas. "Em unidades hoteleiras da nossa cadeia, que estão junto ao mar, era possível fazer uma captação de água e usa-la nas piscinas mas os processos de licenciamento são muito complicados. As piscinas já quase não são tratadas com cloro mas com sal, evitava-se um desperdício de água nas piscinas".
"A sazonalidade tem sido sempre um desafio no Algarve. Nunca iremos conseguir combate-la na totalidade, é uma missão impossível. Tem sido possível atenua-la procurando outros mercados e outras motivações de viagens. Coloca desafios de gestão de recursos porque é diferente o funcionamento para 100% de ocupação ou para apenas 10%", disse Teresa Bispo.
Para André Gomes ainda existe sazonalidade, mas, " felizmente já não se coloca como há 30 anos quando tínhamos, grosso modo, dois ou três meses de turismo". Referiu que em 2023 os resultados atingidos no melhor ano de sempre, mostram que entre Janeiro e Abril de 2023 a região cresceu 40% em hóspedes e dormidas e entre Outubro e Dezembro a média foi entre 10 a 12%.