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Inteligência artificial, big data, Internet das Coisas Médicas, digital twins… Os avanços tecnológicos estão a revolucionar os cuidados de saúde de um modo que seria difícil imaginar há não muito tempo. Com efeito, e como demonstraram os especialistas presentes nesta II Conferência Portugal Health Summit, a digitalização da saúde permite cada vez mais a monitorização e tratamento remotos dos pacientes e os algoritmos avançados prometem exponenciar a capacidade de o médico fazer diagnósticos preditivos, simulações virtuais e terapêutica personalizada.
É já indiscutível que a tecnologia e digitalização da saúde estão a redefinir a prestação dos cuidados de saúde, a eficiência clínica e operacional, o suporte à decisão clínica e, sobretudo, estão a transformar a experiência do paciente.
"A nova era da experiência do paciente" foi precisamente o mote da intervenção do CEO da Siemens Healthineers Portugal, Jorge Oliveira, que inaugurou o debate logo a seguir às boas-vindas do diretor da Revista Sábado, Nuno Tiago Pinto. Os recursos e soluções tecnológicas são cada vez em maior número e mais eficazes, contudo, como alertou o dirigente, "persistem desafios nomeadamente da equidade". "Ter um AVC em Lisboa não é o mesmo que ter um AVC no Alentejo ou Algarve", notou o CEO da Siemens Healthineers, considerando que "existe ainda um caminho a percorrer". A solução está "na interligação dos diversos intervenientes e agentes na saúde", que na sua opinião, "é fundamental e salva-vidas".
Durante o evento, Carlos Alheiro, Zone Business Lead Diagnostic Imaging da Siemens Healthineers, Southern Europe, partilhou num "Diário de Bordo: Um Olhar Pelo Mundo", o impacto global dos avanços tecnológicos na área da saúde. Abordando algumas das inovações que a companhia tem posto ao dispor dos utentes, oferecendo-lhes melhores experiências, o responsável realçou que "os avanços tecnológicos vão permitir aos profissionais de saúde reforçar o lado humano, o toque humano e ganhar mais espaço para a empatia com o doente".
Numa das intervenções mais provocadoras, a Machine Learning Researcher, Miriam Seoane Santos, questionou a plateia sobre se "Os dados salvam vidas?", explorando o papel vital da inteligência artificial e do big data na medicina, enfatizando como essas ferramentas podem acelerar diagnósticos e salvar vidas.
Como sublinhou a especialista, "o acesso a estes dados provenientes da tecnologia permite uma maior possibilidade de colaboração dos vários intervenientes do sistema, contribuindo para o aumento do conhecimento, atualização das guidelines clínicas, partilha de dados, investigação mais facilitada, o que representa um grande passo em direção à medicina personalizada, e que nos vai permitir tratar cada doente consolante as suas caraterísticas, o que não só é muito mais eficaz como é muito mais humano".
Os desafios da execução
Após uma pausa para uma "experiência imersiva", mergulhando numa demonstração prática de uma das inovações discutidas durante o evento, "Time is Brain Experience", segui-se uma mesa-redonda composta por Helena Canhão, diretora da NOVA Medical School; Bruno Matos, presidente do Conselho de Enfermagem da Lusíadas Saúde; David Serra, diretor clínico do Hospital Lusíadas Lisboa e coordenador de Gastrenterologia do Grupo Lusíadas Saúde, Carlos Alheiro e Joana Cruz, locutora da RFM. Sob a moderação de Sofia Couto da Rocha, membro do Conselho Nacional para as Tecnologias de Informática na Saúde da Ordem dos Médicos, foram discutidos os desafios na execução de "Colocar a pessoa no centro".
Helena Canhão considerou que "existe uma evolução muito grande" e que, na verdade, "o doente já está no centro do sistema, caminhando o sistema para uma medicina cada vez mais individualizada". Bruno Matos, por sua vez, alertou que "precisamos de olhar para os cuidados humanizados e para a tecnologia como dois pilares que sustentam a saúde – e nunca como oponentes".
Já David Serra observou que "a medicina de precisão, por melhor e mais rápida que seja, não substitui a empatia e o humanismo". Calos Alheiro corroborou essa mesma ideia, evidenciando a necessidade de "utilizar a tecnologia de forma a aumentar o toque humano e dar ao paciente um assento à mesa onde seja cogestor da sua saúde" e Joana Cruz, que testemunhou a sua experiência enquanto doente que passou por um diagnóstico de cancro de mama, deixou o desejo de que a tecnologia possa cada vez mais beneficiar o cidadão, sem que "o lado humano não se perca".
A conferência culminou numa "Conversa com…" Vasco Antunes Pereira, CEO da Lusíadas Saúde, moderada pela jornalista Helena Garrido. O dirigente destacou o papel da tecnologia como "potenciadora de todas as etapas da nossa vida", sublinhando também a importância da "cocriação da nossa saúde – a tecnologia dá-nos esse poder e dever". Na sua opinião é fundamental "ganharmos cada vez mais accountability individual", considerando que "a tecnologia é também uma oportunidade para sermos mais responsáveis da nossa própria saúde".