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Negócios Iniciativas | As doenças do futuro: especialistas traçam cenários e desafios da medicina

A medicina do futuro será marcada pela prevenção, personalização e inovação tecnológica. Mas os especialistas do painel “As Doenças do Futuro”, moderado por Eduarda Reis, chief medical officer do Grupo Lusíadas Saúde, reforçaram que, independentemente dos avanços, a humanização dos cuidados e o acesso equitativo à saúde deverão continuar no centro da discussão.

18 de Março de 2025 às 15:00
Sérgio Lemos
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Foto em cima: No painel "As Doenças do Futuro", os especialistas destacaram que, apesar dos avanços, a humanização dos cuidados e o acesso equitativo à saúde devem continuar no centro da discussão.

A intervenção inicial coube ao neurologista do cluster Lusíadas Algarve, Hipólito Nzwalo, que alertou para o crescimento das doenças neurodegenerativas. "Passámos da década de 1990 para 2020 com estas doenças a subirem da nona para a quinta causa de morte. E estamos perante um ‘tsunami’ de cabelos brancos, para o qual os sistemas de saúde não estão preparados", afirmou.

No entanto, o especialista destacou que a prevenção primária e os avanços tecnológicos poderão mudar este panorama. "Já sabemos que o exercício físico e o controlo da hipertensão podem reduzir o impacto destas doenças. Além disso, assistimos a uma evolução no diagnóstico precoce, especialmente na doença de Parkinson, em que os sintomas podem ser identificados décadas antes de se manifestarem", acrescentou.

Outro fator importante é a personalização dos tratamentos. "Já conseguimos estratificar doentes de Alzheimer e Parkinson com base em assinaturas genéticas específicas, permitindo terapêuticas mais direcionadas. Este avanço abre caminho para intervenções mais eficazes e para a possibilidade de modificar o curso natural da doença, reduzindo significativamente o seu impacto social e económico", explicou o neurologista.

Na psiquiatria, Henrique Prata Ribeiro, do Hospital Beatriz Ângelo, enfatizou a importância da educação da população para reconhecer sintomas precoces de doenças mentais. "Hoje, qualquer pessoa neste auditório sabe identificar os sintomas de um AVC. No futuro, teremos de ser capazes de reconhecer os sinais das principais doenças psiquiátricas", defendeu. Na sua opinião, a Inteligência Artificial (IA) "pode antecipar diagnósticos e identificar precocemente quem necessita de acompanhamento, mas não podemos esquecer que, por mais avançada que seja a tecnologia, precisamos de profissionais qualificados para dar resposta", frisou.

Já Eduardo Infante de Oliveira, cardiologista de intervenção e coordenador de cardiologia do Hospital Lusíadas Lisboa, abordou os avanços e desafios na cardiologia, salientando que as intervenções das últimas décadas permitiram aumentar a esperança média de vida. "Fizemos um caminho extraordinário nos últimos 30 anos, reduzimos doenças agudas, mas deparamo-nos agora com a cronicidade. A nossa população envelhecida vive mais tempo com doenças cardiovasculares", alertou. De acordo com o especialista, a genética e as terapêuticas personalizadas estão a abrir novas perspetivas. "Já temos ferramentas para diagnósticos precoces e terapias específicas, mas o grande desafio será lidar com as doenças associadas ao envelhecimento, que marcarão as próximas décadas", sublinhou.

"Precisamos de uma medicina ‘high-tech’ aliada a uma medicina ‘high-touch’"

Paulo Cortes, coordenador de oncologista do Hospital Lusíadas Lisboa, destacou a oncologia como uma "doença do envelhecimento" e afirmou que a incidência do cancro é inexorável. "Se vivermos o suficiente, é uma questão biológica: todos desenvolveremos cancro. Mas a evolução tecnológica e terapêutica permite-nos tratar melhor, curar mais e prolongar a vida com qualidade", explicou.

A oncologia personalizada é um dos grandes avanços. "A imunoterapia e os perfis genómicos são uma realidade. No entanto, a humanização dos cuidados é crucial. Precisamos de uma medicina ‘high-tech’ aliada a uma medicina ‘high-touch’, na qual o contacto humano seja preservado. A tecnologia deve libertar os médicos para o que realmente importa: a relação com os doentes", defendeu.

Por fim, Catarina Saraiva, coordenadora de endocrinologia no Hospital Lusíadas Lisboa, abordou os desafios da endocrinologia, apontando a obesidade e a diabetes como doenças crónicas em ascensão. "A tecnologia tem proporcionado diagnósticos e tratamentos mais eficazes, mas o envelhecimento da população trará um aumento destas doenças e das suas complicações metabólicas", alertou. Como tal, a prevenção é a chave para a sustentabilidade do sistema de saúde. "Não basta apostar em terapias inovadoras, é preciso promover estilos de vida saudáveis, incentivar a alimentação equilibrada e a prática de exercício físico. Caso contrário, o impacto destas doenças será insustentável", advertiu.

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