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No primeiro painel da segunda parte da Conferência Portugal Health Summit, ao início da tarde, Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, alertou que "um dos principais problemas do Serviço Nacional de Saúde é a falta de recursos humanos" e defendeu a valorização das carreiras e melhores condições para os profissionais. "Portugal é o país da OCDE onde os médicos tiveram a maior perda de poder de compra", referiu, sublinhando a necessidade de tornar o SNS mais atrativo. Acrescentou ainda que há escassez em todas as especialidades, sobretudo no interior e regiões autónomas, o que pode mesmo "levar ao encerramento de hospitais".
Helena Canhão, diretora da NOVA Medical School, reforçou que a crise na saúde não se resolve apenas com mais profissionais, mas com uma reorganização dos serviços. "Precisamos de inovação na gestão do SNS, apostar na interdisciplinaridade e na eficiência dos recursos disponíveis", afirmou. Destacou ainda a importância da formação contínua e de um modelo de trabalho que permita maior retenção de talento no setor público.
Ricardo Correia de Matos, do Conselho Diretivo da Ordem dos Enfermeiros, sublinhou o défice de "15 mil enfermeiros no SNS" e a falta de impacto do aumento do orçamento. "Precisamos de coragem política para construir políticas direcionadas para os profissionais de saúde", afirmou. Defendeu ainda um papel mais ativo dos enfermeiros no tratamento de doenças crónicas.
Já Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, alertou que "há escassez não porque faltem profissionais mas porque muitos procuram melhores condições noutros setores". Referiu que os farmacêuticos do SNS "não viam a sua remuneração alterada desde 1999", tornando a carreira pouco atrativa. Defendeu ainda uma revisão profunda do modelo de funcionamento do SNS para garantir sustentabilidade.
Os oradores foram unânimes no apelo a uma reforma do Serviço Nacional de Saúde. "É urgente reformar o SNS, valorizar carreiras e melhorar condições de trabalho para evitar o agravamento da crise. "Temos de trabalhar todos em conjunto", concluiu Hélder Mota Filipe.
Desafios para o futuro
O painel seguinte, sobre "O Sistema de Saúde Português: Qual o Futuro que Queremos Desenhar?", reuniu também vários especialistas do setor para discutir os desafios do sistema. Moderado pela ex-ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, contou com André Peralta, subdiretor-geral da Saúde, Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias, Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, e Rosa Valente de Matos, presidente da ULS de São José.
André Peralta destacou que Portugal investe cerca de 2.500 euros por cidadão em saúde, correspondendo a 10% do PIB, sendo dois terços deste valor públicos. Reconhece a falta de médicos, mas sublinha que há mais profissionais e maior produção no SNS.
Manuel de Lemos alertou para a dificuldade de integração das Misericórdias no sistema. "Se não fosse o setor social, em algumas zonas não haveria nada", afirmou, referindo-se à necessidade de maior equidade territorial.
Óscar Gaspar defendeu que os hospitais privados complementam o SNS, sendo responsáveis por 20% das urgências, 30% das cirurgias e 40% das consultas. Destacou a necessidade de formar mais profissionais e melhorar a articulação entre setores, especialmente em oncologia e vacinação.
Por fim, Rosa Valente de Matos sublinhou a falta de planeamento como principal desafio, defendendo uma melhor relação entre os setores público, privado e social. "Temos de aprofundar esta complementaridade e evitar a competição, principalmente em recursos humanos", concluiu.
O encerramento da Conferência foi feito por Luís Drummond Borges, CCO da Lusíadas Saúde, que se congratulou pelo "debate produtivo", sublinhando ainda que "o foco deve ser sempre o doente, pois todos seja o setor publico, seja o setor social ou o setor privado". "Todos servimos a população portuguesa", reforçou.