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No primeiro ano sem troika, e com eleições legislativas marcadas para o final do ano, a análise ao desempenho económico do País será marcada pelo vigor da recuperação – em particular a sua capacidade de gerar empregos e evitar mais austeridade –, mas também pela sustentabilidade da retoma. As principais instituições, nacionais e internacionais, dão como certa a continuação da retoma, ainda que lenta e com diferentes graus de confiança quanto ao seu vigor. Mas as divergências acentuam-se na análise aos factores que sustentam esse desempenho.
Governo e Banco de Portugal (BdP) esperam que a economia nacional cresça 1,5% em 2015, e vincam a transformação económica em curso a favor de um modelo de crescimento baseado na procura externa. "As projecções para a economia portuguesa em 2014-2016 reflectem a continuação do processo de ajustamento gradual dos desequilíbrios macroeconómicos, num quadro de crescimento moderado da actividade", lê-se, por exemplo, no último boletim económico do banco central, no qual se destaca que "estas projecções contemplam a manutenção de um crescimento robusto das exportações e uma aceleração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 2015-2016, a par de alguma desaceleração do consumo privado".
Os economistas dos BdP, a par com os do Governo, estão entre os que identificam e confiam nos sinais de uma transformação estrutural que se estende à transferência de mão-de-obra dos sectores de serviços para consumo interno para outros com potencial exportador e níveis de produtividade mais elevados.
Esta capacidade de gerar riqueza assente na procura externa foi um dos objectivos centrais do programa de ajustamento e justificou grande parte dos esforços dos últimos anos. E é exactamente aqui que as instituições internacionais mais se afastam.
Comissão Europeia, FMI e a OCDE apontam para um crescimento em 2015 entre 1,2% e 1,3%: valores consistentemente abaixo das previsões nacionais, mas com diferenças pequenas. Já quanto ao perfil do ajustamento, os sinais de alarme dispararam: "O crescimento chegará cada vez mais do consumo privado. O regresso a um modelo de crescimento comandado pela procura interna pode colocar em risco as reduções dos desequilíbrios externos", escreveu a Comissão Europeia, no início de Novembro, ao mesmo tempo que identificou uma menor ambição da consolidação orçamental e de reformas estruturais. O FMI segue de perto estas preocupações.
Todos concordam que há muitos riscos
Com diferentes ponderações, as várias instituições concordam na identificação dos principais entraves ao crescimento, assim como nos riscos que a economia enfrenta. Os elevados endividamentos público e privado continuarão a pesar seja por impostos altos e novas medidas de austeridade, seja pela dificuldade das empresas financiarem novo investimento. Quanto aos riscos são destacados o adensar das tensões geopolíticas na Rússia e em regiões produtoras de petróleo, a possibilidade de choques políticos na Zona Euro na sequência de vitórias de partidos anti-austeridade e até eurocépticos, e um crescimento mais lento que o esperado na região.
Positivos
Queda do preço do petróleo
A recente queda no preço do barril do petróleo, a manter-se, funcionará com uma descida de impostos inesperada, estimulando o consumo e a economia.
Sucesso de medidas de estímulo do BCE
A expansão do balanço do BCE – que poderá incluir a compra de dívida publica – poderá baixar juros às empresas e estimular a Zona Euro.
Negativos
Necessidade de mais medidas de austeridade
É provável que sejam necessárias mais medidas de austeridade para atingir o défice de 2,7% do PIB. A confirmar-se, tal pesará sobre o crescimento.
Tensões geopolíticas dentro e fora da Zona Euro
A crise na Rússia (um dos principais fornecedores de gás para a Europa) e as eleições gregas poderão desafiar a resistência da recuperação.