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O Norte que prevê crises quer somar empregos à produtividade

O apoio às pequenas e médias empresas, a inovação tecnológica e a qualificação dos recursos humanos levam dois terços do "bolo" de fundos comunitários na região que é o motor das exportações.

28 de Abril de 2016 às 11:28
Paulo Duarte
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A mais recente crise financeira e económica em Portugal, que obrigou a assinar um plano de resgate em 2011, comprovou novamente a tese de que o Norte antecipa os períodos agudos de dificuldades no país, pois já antes eram visíveis na região alguns "sinais" de debilidade, como nos níveis de desemprego. "E quando isso acontece no eixo Norte de Portugal significa que vão acontecer problemas no país a seguir", lembrou Emídio Gomes.

Para o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), a região "reagiu de forma espantosa" e, em média, em cada um dos últimos anos acrescentou mil milhões de euros de excedente à balança de transacção de bens, que a nível nacional continua a ser fortemente deficitária - só somando os serviços é que ela se equilibra. "Como é que uma região com PIB per capita mais baixo e mais desemprego contribui positivamente e as regiões mais evoluídas e mais ricas contribuem com saldo negativo?", questionou.

Para o responsável nortenho, este desequilíbrio estrutural interno da própria organização do país é "algo que nos deve fazer pensar em termos de modelo e estrutura produtiva" nacional. Até porque estes "enormes" ganhos de produtividade expressos na balança de bens não tem sido acompanhado por uma capacidade idêntica de criação de emprego. "Esse é um dos grandes desafios para os próximos anos. O nosso caminho é este de sermos mais competitivos e a uma escala externa, mas temos de conjugá-lo com alguma capacidade de políticas públicas que possam induzir a criação de emprego", resumiu Emídio Gomes.

Ora, o mais decisivo instrumento que tem nas mãos é o programa operacional que gere até 2020. O Norte colocou "as fichas" em três dos eixos - investigação, desenvolvimento tecnológico e inovação; competitividade das PME; educação e aprendizagem ao longo da vida -, que absorvem dois terços do volume total de 3.400 milhões de euros.

"E, meus amigos, acreditem que não é nada fácil tomar esta opção. O grau de desgaste físico e emocional a que sou sujeito por ter tomado estas opções é brutal. Porque isto significa que só sobra um terço para o resto e é uma completa inversão de política face aos quadros anteriores", desabafou o líder da CCDR-N, referindo-se à contestação dos autarcas. Para o eixo "sistema urbano" há 385 milhões de euros, um valor que causou ruído nas últimas semanas. "O valor é o que é. Quando se tem 385 para distribuir por 29 [municípios] tem-se 385 para distribuir por 29. E esse é o principal problema, por mais equações que se façam", explicou.

Na conferência organizada pela EY e Negócios, Emídio Gomes chamou ainda a atenção dos empresários para as duas capitais transmontanas. Vila Real tem "mão-de-obra qualificada disponível, excelentes condições de investimento" e está agora a 40 minutos de um aeroporto internacional. "Mais 40 minutos e estamos em Bragança, que já está junto à fronteira e próxima de uma linha de TGV no futuro. A noção das distâncias mudou bastante", sustentou, sublinhando ainda que estão "a um passo da mais fantástica região vitícola do mundo", o Douro.

BEI "desce à terra" no Tâmega e Sousa  O Tâmega e Sousa, com meio milhão de habitantes, é uma das zonas mais "problemáticas" do Norte, misturando concelhos industriais - como Lousada, Felgueiras, Paços de Ferreira e Penafiel - com rural, como Marco de Canaveses, Baião, Cinfães e Resende. Para responder a este "problema" da região, Emídio Gomes desafiou o Banco Europeu de Investimento (BEI) a fazer ali a primeira experiência micro no território, no âmbito da sua nova fundação, para que "por mais pequenino que seja o projecto, se for interessante lhe possa garantir uma linha de financiamento", em articulação com a banca. O líder da CCDR-N relatou que desafiou o BEI a "fazer alguma coisa por umas largas dezenas de pequenos projectos, que podem a prazo ser pequenas realidades empresariais que criam emprego muito sólido nesses locais". Sem adiantar pormenores, deu o exemplo da "malta que tem um projecto de enchidos na serra da Gralheira, que precisa de 50 mil euros e se for ao banco assusta-se com o molho de 50 papéis para preencher".
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