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Daniel Bessa: A digitalização é uma tendência universal a que ninguém escapa

Daniel Bessa defende que já hoje, na quase totalidade dos negócios, "o digital não constitui condição suficiente para que uma empresa seja competitiva mas constitui, seguramente, uma das condições mais necessárias, e mais generalizadas, de competitividade de qualquer empresa".

21 de Julho de 2016 às 09:53
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Daniel Bessa tem uma longa carreira no ensino da economia e da gestão, pelas suas ligações à Faculdade de Economia da Universidade do Porto e da Porto Business School mas também pelos cargos em empresas e na liderança da Cotec Portugal, além de uma breve experiência como ministro da Economia em 1995. Champion do tema Competitividade no beyond-Portugal Digital Acceleration, organizado pela EY e Jornal de Negócios refere, parafraseando Pinto dos Santos, professor no INSEAD, que, para ser competitiva, hoje em dia, uma empresa necessita de pelo menos três pessoas com as seguintes competências críticas: alguém que conheça o negócio, alguém que conheça a empresa e alguém que conheça a tecnologia, nomeadamente o digital.

Qual pode ser pode ser o impacto da digitalização nas condições de competitividade da economia portuguesa?
Competitividade tem a ver com concorrência, nomeadamente entre empresas. É competitivo quem for capaz de fazer melhor do que os outros, mais barato, ou numa relação qualidade-preço que, no mínimo, não desmereça face às que são oferecidas pelos concorrentes. O mundo em que vivemos caracteriza-se por uma aceleração tecnológica sem precedentes, alterando tudo, deste os produtos que são levados ao mercado, e as funcionalidades destes produtos, ao modo como são produzidos e ao custo desta produção.
O chamado "digital" constitui, seguramente, a mais avançada, a mais madura e a mais horizontal de todas as novas tecnologias; e condiciona a capacidade de utilizar, e o modo de utilizar, todas as outras novas tecnologias. Muito em breve, já hoje, na quase totalidade dos negócios, o digital não constitui condição suficiente para que uma empresa seja competitiva mas constitui, seguramente, uma das condições mais necessárias, e mais generalizadas, de competitividade de qualquer empresa.

A digitalização pode ajudar as empresas portuguesas a atingir níveis de competitividade das multinacionais em Portugal?
Uma multinacional não é necessariamente uma empresa sem pátria; também não é necessariamente uma empresa gigantesca. Isto para concluir que há, já hoje, várias empresas portuguesas que são multinacionais, umas maiores (Galp, Jerónimo Martins, Sonae Sierra), outras de tamanho médio (BA Vidro, Bial, Corticeira Amorim, Critical Software, Frulact, Kyaia, Sogrape), outras mais pequenas (Symington, Vision Box, WIT Software) - com tudo o que há de relativo nestas questões de dimensão, em que o que talvez conte menos seja o volume de negócios ou o número de colaboradores da empresa, em termos absolutos.
Tudo para concluir que já há, em Portugal, muitas empresas que competem com multinacionais, umas vezes dentro, outras vezes fora do País, no mercado global. Umas são maiores, outras menores, o que quer que isto queira dizer. Arrisco afirmar que todas estas empresas se encontram, já hoje, muito digitalizadas, no que se torna necessário ao seu negócio. E todas elas terão de se digitalizar muito mais, como acontecerá, por certo, com os seus concorrentes.
A digitalização constitui, hoje, uma tendência universal, a que ninguém escapa, nem escapará. E isto vale tanto para empresas como para pessoas.

Poderá ser um trigger para melhorar aspectos como a gestão, o contexto, a qualificação, a inovação, a incorporação em cadeias de valor mais exigentes?
Louvo-me, para responder a esta questão, numa opinião que ouvi recentemente, expressa por José Fernando Pinto dos Santos num seminário realizado pelo Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa.
Para ser competitiva, hoje em dia, uma empresa necessita de pelo menos três competências críticas, trazidas por três pessoas diferentes, que haverão de dirigi-la em pé de igualdade (sem que nenhuma destas três competências, ou destas três pessoas, se sobreponha às demais): alguém que conheça o negócio, alguém que conheça a empresa e alguém que conheça a tecnologia, nomeadamente o digital. Voltamos ao que tive oportunidade de afirmar na resposta à primeira questão: o digital nunca constituirá condição suficiente mas fará sempre parte das condições necessárias ao sucesso empresarial.

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