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30 minutos para ver barbatanas ali no Sado

È uma família com 27 membros. Recebe visitas regulares no Verão, menos no Inverno. São passagens pouco demoradas, que não podem superar a meia hora. O resto é paisagem.

28 de Julho de 2016 às 00:01
Miguel Baltazar
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Os binóculos apontam para os golfinhos. É um membro da tripulação que os coloca. "Queria ver um pormenor da barbatana". Antes, já os tinha usado para descobrir a família de roazes que se encontra, de forma permanente, no estuário do Sado, para lá levar as cerca de 70 pessoas que estão no catamarã e que pagaram para os ver.

"Olha ele, olha ele", ouve-se uma criança portuguesa a dizer. "Ahhh": a prolongada interjeição é universal e é proferida por turistas quando quatro dos 27 golfinhos que compõem a população residente surgem à superfície, lado-a-lado com o barco. Estão à direita do catamarã, que pertence à Vertigem Azul, e é desse lado que está a maioria das pessoas - que despenderam 35 euros (20 euros para as crianças até 12 anos) pela viagem - com telemóveis e máquinas fotográficas a disparar.

Não há grandes saltos dos golfinhos. Os mamíferos vão apenas nadando, com as barbatanas dorsais à mostra. Há minutos, um dos elementos da equipa explicara que aquelas barbatanas funcionam como "impressões digitais". "São todas diferentes". É o que permite identificar o Raiz, de um "cinzento muito clarinho", o mais velho do grupo, com mais de 40 anos, próximo do que se acredita ser a esperança média de vida de um roaz (a espécie de golfinho que se encontra no estuário e que está no Zoo de Lisboa).

Com a zona industrial como pano de fundo, vão aparecendo mais golfinhos. Uns mais perto, outros mais longe. "A abundância de alimento disponível", desde choco a enguias, justifica a presença do grupo no estuário do Sado, segundo dissera, antes da viagem, Maria João Fonseca, fundadora em 1998 da Vertigem Azul.

No barco, há sempre máquinas fotográficas para apanhar o momento. Muitas pessoas estão descalças. O chão branco da embarcação está recheado de dezenas de chinelos. Alguns ténis, também. Não é permitido subir calçado para as redes na parte da frente do barco, onde se pode estar sentado a ver o Sado a correr por baixo.

O catamarã, com uns turistas ao sol e outros sob a pala azul, não está sozinho. Há um pequeno barco familiar a observar os golfinhos.

Normalmente até há mais. Podem estar, a cada momento, três embarcações com licença para promover a observação de golfinhos. Maria João Fonseca é clara ao dizer que, em Setúbal, "têm de ser definidas regras". Já há algumas: por exemplo, há licenças atribuídas, havendo outras empresas a operar, como a Sado Arrábida ou a Nautur. "Falta melhorar a fiscalização, para que não haja excesso de oferta, porque são seres vivos", diz a responsável da empresa, referindo-se ao caso das embarcações de recreio. "Não tocar, não alimentar, só observar", foi um dos alertas no início da viagem. Um outro limite no Sado é o tempo que existe para ver os roazes que por ali andam.

Passados 30 minutos de observação, ouve-se, em inglês, o aviso: "We have to leave the dolphins now".

O barco afasta-se da família de golfinhos. Meia hora é o tempo máximo desta parte da viagem, que vai ficar no mapa que está na parede da sede da empresa, em Setúbal.  Aí será colocado um certo em azul no mapa de avistamentos. Encontra-se pouco o vermelho, já que, sublinha a empresa, em quase todas as viagens se avistam golfinhos. A taxa de sucesso é de 94%. O Verão ajuda a melhorá-la, pois não há negócio todo o ano. Em Janeiro e Fevereiro, por exemplo, há poucas saídas para ver a população residente de golfinhos do Sado.

A Vertigem Azul emprega cinco pessoas de forma permanente, contando no Verão com contratos sazonais para ajudar na viagem, que não consiste apenas na observação dos roazes. Meia hora de golfinhos mais duas e picos de passeio. Avistam-se as praias da Arrábida, com a serra protegida por trás. A Secil também surge. Os binóculos até dariam jeito para ver melhor. O barco pára igualmente em Tróia e é lá que muitos turistas calçam os chinelos espalhados pela embarcação. Nunca se sabe muito bem o percurso da viagem porque não se sabe onde está a família de golfinhos. "É fazer o mesmo que na véspera. É tentativa-erro", explica a tripulação.

Tome nota 18 anos de observação de golfinhos   A funcionar desde 1998, a Vertigem Azul teve de diversificar a sua oferta para lá dos golfinhos. Mas são eles que continuam a ser a estrela da companhia.

O ponto de partida

A observação de golfinhos feita pela Vertigem Azul começou em 1998, com Maria João Fonseca e Pedro Narra à cabeça. Dezoito anos depois, ambos continuam ao leme da empresa que, além de promover a observação, também vai acompanhando a evolução da família de roazes.

Dois barcos

A empresa, sediada em Setúbal, tem duas embarcações para fazer as viagens pelo estuário. Uma delas é o catamarã, onde podem estar até 80 pessoas. A outra é um semi-rígido, com menor capacidade, e que é usado pela equipa também para uma observação mais próxima do estado das barbatanas dos golfinhos. 

Equipa maior na época alta

A Vertigem Azul conta com cinco profissionais a tempo inteiro. Na época alta, no Verão, são contratados mais colaboradores para dar vazão às viagens de observação de golfinhos (que ocorrem às 9:30 e 14:30). Cada passeio custa 35 euros por adulto, 20 por criança até aos 12 anos.

Mais serviços

"Todos usam o produto golfinho", admite Maria João Fonseca, razão pela qual preciso diversificar. A observação de aves é um dos exemplos mas também há um passeio  para a degustação de vinhos da região.  

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