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Coca-Cola com açúcar “continua a crescer”

As preocupações crescentes da opinião pública com questões como o consumo excessivo de açúcar levaram a ajustes na oferta. Mesmo assim, a Coca-Cola tradicional cada vez se vende mais.

26 de Setembro de 2019 às 16:00
Rui Minderico
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Entre o tema do consumo de açúcar e o do lixo oceânico provocado pelo plástico, uma das matérias-primas primordiais das embalagens de refrigerantes, não faltam às empresas como a Coca-Cola temas altamente polémicos com que se ocupar.

Entrevistado na fábrica de Azeitão, onde é produzida a maioria das bebidas do grupo que são consumidas em Portugal, Rui Serpa, responsável da Coca-Cola European Partners em Portugal, assume que assim é, quando questionado sobre o impacto deste aumento da consciencialização da opinião pública para estes temas.

"Há efetivamente um conjunto de modificações no mercado, a uma velocidade muito grande", refere, que afetam a forma como são pensados os produtos ou concebidas as embalagens. "O nível de reformulação que tivemos nos últimos 24 meses é vertiginoso. Praticamente reformulámos todos os nossos produtos para garantir que temos sempre uma opção baixa em calorias ou sem calorias; reduzimos em 35% o teor de açúcar no total das vendas do nosso portefólio de bebidas", adianta. Nas bebidas ditas originais, houve casos em que foi reduzida a percentagem de açúcar. Noutros, a versão original mantém-se inalterada. É o caso da Coca-Cola clássica, que "é intocável".

O nível de reformulação que tivemos nos últimos 24 meses é vertiginoso.

Como produtores, o que procuramos é dar alternativas e depois o consumidor é que escolhe.
Rui serpa
Responsável pela Coca-Cola Partners em Portugal 

Ainda sobre o tema do açúcar, Rui Serpa recorda que já há profissionais de saúde que dizem que "provavelmente o açúcar é melhor do que outras alternativas; deve é ser feito com moderação, naturalmente". "Como produtores, o que procuramos é dar alternativas; depois o consumidor é que escolhe", conclui. Ainda assim, as vendas da Coca-Cola original, por exemplo, continuam a crescer . "O crescimento das bebidas sem açúcar ou light não se dá em detrimento da regular; agora as baixas em calorias ou zero já são 35% das nossas vendas."

"A solução não é diabolizar o plástico"

A ambição da Coca-Cola é "garantir que 100% das embalagens que colocamos no mercado são recuperáveis", ainda que assuma que parte desta meta não depende só do produtor. Atualmente, são recuperadas as garrafas de vidro consumidas na restauração e hotelaria. Há depois uma outra parcela do que vai para reciclar que é convertida em novas embalagens. Só que a contaminação nos depósitos ainda é um entrave.
As garrafas PET só são produzidas à medida das necessidades de bebida a embalar. Tal como no resto da Europa, o xarope da Coca-Cola vem, já pronto, da Irlanda.
As garrafas PET só são produzidas à medida das necessidades de bebida a embalar. Tal como no resto da Europa, o xarope da Coca-Cola vem, já pronto, da Irlanda. Rui Minderico
"Temos um compromisso de integrar determinadas percentagens de material reciclado. No caso do PET, o objetivo é 50% para 2025."

O responsável da Coca-Cola em Portugal defende, no entanto, que "a solução não é diabolizar o plástico. O tema está muito na ordem do dia, em boa parte por causa do lixo marítimo. Mas as embalagens devem ser avaliadas, todas elas, porque se não depois daqui a uns anos se calhar voltamos a ter um problema noutra. Mas relativamente à sua pegada carbónica final. Porque é essa que mede o impacto no meio ambiente."

Mais de quarenta anos de fábrica em Portugal

Não terá sido sempre assim na unidade portuguesa de fabrico das bebidas do grupo Coca-Cola, que nasceu em Azeitão em 1977. Mas hoje, quando se visita a fábrica, são muitos os locais onde não se vê vivalma, resultado da progressiva automatização da produção. Ainda assim, trabalham 420 pessoas na Coca-Cola European Partners em Portugal - excluindo empregos indiretos. Destas, 180 estão na fábrica e as restantes nos vários centros de distribuição espalhados pelo país, incluindo ilhas.

A unidade tem capacidade para produzir 600 milhões de litros sendo que atualmente se produzem, por ano, cerca de 250 milhões. A produção não é sempre igual, sendo junho, julho e agosto os picos de vendas. E, a alguma distância, o mês de dezembro.


600
Milhões de Litros
é a capacidade de produção de bebidas da fábrica de Azeitão.

14
Marcas
de bebidas do grupo Coca-Cola são produzidas em Portugal.

250
Milhões de litros
é o volume de bebidas atualmente produzido por ano.

6%
De crescimento
das vendas de bebidas, medidas em litros.


O engarrafamento é feito em Azeitão e, no caso das garrafas PET, por exemplo, chegam a esta unidade as pré-formas sopradas depois para fazer as garrafas que só são produzidas à medida das necessidades de engarrafamento. Não são produzidas sem serem necessárias na altura para engarrafar bebidas.

Em Portugal, são comercializadas 14 marcas do grupo Coca-Cola, incluindo, para além da Coca-Cola, a Sprite, Nestea, Fanta, Honest, Nordic, Minut Maid, Powerade ou Aquarius.


Perguntas a Rui Serpa
Country manager para Portugal da Coca-Cola European Partners

"90% do que é consumido em Portugal é fabricado aqui"

A fábrica da Coca-Cola em Portugal nasceu em 1977 e, como acontece noutros países, tem por finalidade servir, sobretudo, o mercado interno. O responsável pela unidade portuguesa adianta que o turismo, a par da recuperação no consumo português, refletiu-se nas vendas dos seus refrigerantes.

Esta fábrica está há mais de 40 anos em Portugal. Porquê ter uma unidade num mercado tão pequeno como o nosso?
Tem muito que ver, por um lado, com a história deste negócio. O sistema Coca-Cola é composto pela The Coca-Cola Company - que é proprietária da marca e trata do desenvolvimento de produtos e consumer marketing - e pelos engarrafadores, que se encarregam de produzir, tratar de toda a comercialização e distribuição e do marketing operacional. Depois uma parte importante da produção é o transporte do produto acabado.

A opinião pública terá ficado com a ideia de que a produção foi deslocalizada. Mas não. 

Que mercados fornece a fábrica de Azeitão?
Também produzimos produto que vai para Espanha mas 90% do que é consumido em Portugal é produzido nesta fábrica. Aliás, a opinião pública terá ficado com a ideia de que a produção foi deslocalizada quando o escritório da Coca-Cola Company saiu de Portugal e se concentrou em Madrid. Mas o engarrafador [Coca-Cola European Partners] continua em Portugal. O que acontece é que nos produtos passou a aparecer Madrid. Parece que a produção é lá. Mas não. É uma coisa que estamos a mudar para colocar que é produzido em Portugal.

O aumento do turismo em Portugal teve um efeito palpável nas vossas vendas?
Sim. Conseguimos identificar esse efeito sobretudo nas regiões de maior impacto: Lisboa, Porto e Algarve. Depois há particularidades. Em Inglaterra, por exemplo, a light está muito estabelecida. Nas semanas em que temos mais turismo inglês, por exemplo, nota-se a subida de venda da light. Mas não é só o turismo. Os nacionais também saem mais. A economia recuperou e janta-se mais fora. É difícil por isso avaliar o impacto exato de uma coisa e outra. Agora, que tem um impacto é indiscutível. Estamos, de resto, a trabalhar com as equipas para extrair ainda mais valor dessas oportunidades que vêm sobretudo do turismo.

Qual o efeito destas mudanças nas vossas vendas?
No ano passado, crescemos 6% no que diz respeito a volume de vendas, medidas em litros. Este ano estamos com um crescimento ligeiramente superior. Sendo certo que o clima afeta muito este tipo de negócio.
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