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Ismael Chorondo é a quarta geração deste negócio de transformação de alfarroba. O bisavô começou por recolher este fruto seco. "Tenho formação em gestão. Foi uma questão de escolha lógica. Não queria deixar perder aqui este negócio."
Quem entra nos armazéns da Chorondo & Filhos, numa zona rural de Boliqueime, dificilmente acredita que este é o terceiro maior exportador do concelho de Loulé. Em cada 10 toneladas, seis seguem além-fronteiras. É o mesmo que dizer que as exportações valem 60% de uma facturação anual a rondar os 10 milhões de euros, se se contarem as outras duas unidades industriais da empresa em Faro e São Brás de Alportel.
Os contentores à porta da sede da Chorondo & Filhos comprovam. O produto segue sobretudo para o Norte da Europa, Espanha e Turquia. "Não temos implementado nenhum plano de marketing. Muitos dos clientes internacionais estão fidelizados há 20 ou mais anos. Esporadicamente aparece um novo."
Numa zona rural custa mais virar as costas às tradições. A casa do bisavô ainda lá está, mesmo em frente à empresa. "Crescemos, vamos ficando, ganhando gosto por isso." Ismael Chorondo tem cerca de uma dezena de pessoas a trabalhar consigo. "Arranjar pessoal qualificado é complicado. É um trabalho sujo, diferente de estar no escritório."
É preciso ir ao terreno quando se compra alfarroba de uma ponta à outra do Algarve. Este ano, a natureza não ajudou. "Não se pode vender aquilo que não se tem." Foram 25 mil toneladas. Costumam ser 45 mil. Quem produz alfarroba tem duas opções: ou vai entregar directamente à Chorondo & Filhos ou aguarda que a empresa vá lá recolher. O preço: cinco euros para 15 quilos.
"Investimento, basicamente, só com capitais próprios nesta transformação de Boliqueime." A burocracia tira a vontade. Na futura fábrica de Faro, sim, "fomos ajudados com fundos porque precisa de tecnologia nova". "O principal objectivo é finalizar essa nova unidade e pô-la a funcionar o mais depressa possível." Aí será transformada a semente da alfarroba, uma parte muito pequena do fruto e a única apropriada para a alimentação humana e aplicação na cosmética. Um nicho com potencial perante a vontade "da malta em ser mais saudável".
Nos armazéns, os pés de Ismael Chorondo quebram, por vezes, o fruto seco que lhe dá sustento. O som ecoa no silêncio rural. "Nas conferências, as pessoas ficam espantadas quando dizemos que somos do Algarve e de uma indústria." Ele é dos que quer contrariar a ideia de que a região é só praia e hotéis.
Tome nota: Separar a polpa da semente, dividir negócios
Em Boliqueime, separa-se a polpa da semente. A primeira é triturada para criar ração animal, o negócio mais forte. Até os bichos gostam do travo açucarado.
Da polpa à semente
Além da fibra, o açúcar – que ocupa metade do fruto – é um dos pontos fortes da alfarroba. A polpa, a maior parte, é triturada e integrará misturas para animais. Ismael Chorondo garante que lhe dá um "gosto especial", apreciado por cavalos, coelhos ou hamsters. Só a semente é destinada à alimentação humana e à cosmética, numa altura em que se regista maior procura por este tipo de farinha – sem glúten e que chega a ser utilizada como substituta do cacau. A Chorondo & Filhos está a apostar neste segmento com uma nova fábrica em Faro.
Rota da alfarroba
Agosto e Setembro são os meses, por excelência, para a recolha de alfarroba. Numa região onde a indústria tem ainda pouco destaque, o turismo industrial é uma opção. Em cima da mesa está a criação de uma rota da alfarroba. Ismael Chorondo quer ainda fazer crescer as parcerias com fabricantes de produtos que integrem alfarroba. Cerveja, licores ou barras de cereais e biscoitos são exemplos. "Em volume de negócios não é nada, mas dá força e ajuda a divulgar."
A concorrência
Os principais concorrentes na produção de alfarroba estão bem perto do Algarve. Marrocos e Espanha são os maiores produtores mundiais deste fruto seco. Portugal e Itália estão taco a taco a disputar o terceiro lugar. "Estamos atentos ao que se vai passando", garante Ismael Chorondo face à evolução mundial do sector.