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Roca: Uma lâmina e uma esponja corrigem as imperfeições que as máquinas deixam passar

Instalada há quase três décadas como unidade industrial, a Roca é dos maiores empregadores de Leiria. Está há seis anos a tentar contonar a crise e começa a recuperar.

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Uma lâmina, uma espátula e uma esponja. São simples as ferramentas usadas por uma  mulher debruçada sobre uma sanita disposta de pernas para o ar, numa das maiores empregadoras do concelho de Leiria. Em duas unidades industriais de 10 mil metros quadrados de área edificada, onde se produzem cerca de dois milhões de peças de sanitários por ano, parte dos  590 trabalhadores da Roca – que partilham a longa linha de produção com robôs – corrige as imperfeições que as máquinas deixam passar.    


Depois de ganharem forma nos moldes e de passarem por um carrossel – onde  são acabadas, vidradas,

A unidade "Leiria 2" foi concebida para um único produto e hoje produz quase 200 referências. Fazer isto de forma eficiente
é mérito dos trabalhadores, das pessoas da produção. 
Jorge Vieira,
Director-geral da Roca

marcadas com o logotipo e inspeccionadas – as peças entram num forno de 110 metros de comprimento, onde ficam durante 16 horas. Ao centro, uma linha cor de fogo leva a temperatura até aos 1.200 graus. Quando entram, as peças têm uma dimensão exagerada mas quando saem já terão perdido água e encolhido cerca de 11%.


As condições controladas de temperatura podem ser perturbadas nos dias em que a fábrica é afectada pelos chamados "micro cortes", o fenómeno que deixa os empresários da indústria da região à beira de um ataque de nervos. São interrupções no fornecimento de electricidade que duram apenas fracções de segundo, suficientes para baralhar os sistemas electrónicos.


No caso da Roca, explica Jorge Vieira, director-geral da empresa, o impacto dos micro cortes é atenuado pelo facto de o fornecimento ser feito em alta tensão. Mas não desaparece. "O forno tem um circuito eléctrico. Estão dezasseis horas de produção lá dentro", diz, explicando que sem condições "óptimas" de funcionamento as variações de temperatura podem provocar deformações.

 

Nos mapas internos que monitorizam a produção, um dos indicadores centrais é o do número de peças bem conseguidas à primeira. Jorge Vieira fala de uma taxa de 95%, uma "referência" para as outras mais de 70 unidades industriais do grupo, espalhadas por vários países. No departamento final de controlo de qualidade, a partir de uma amostra de 0,5% a 1%, testa-se a dimensão e a resistência, pincelam-se as peças com uma tinta azul que revela as fissuras invisíveis a olho nu. "Em qualquer cerâmica a grande batalha são os defeitos visuais, como imperfeições na superfície vidrada. São os que o mercado mais reclama e são também os que têm mais probabilidade de acontecer", explica Fernanda Duarte, responsável por esta secção.


Portugal foi "um dos primeiros investimentos da Roca Espanha" dois anos antes do 25 de Abril, explica o director-geral. Inicialmente com um objectivo puramente comercial: importação e venda de aquecimento central.


Foi em 1988 que Espanha adquiriu a Cerâmica da Madalena, uma fábrica instalada junto a uma ponte com o mesmo nome,  que começou produziu loiças domésticas, primeiro, e sanitários e azulejos, depois. Esta "fábrica pequenina, de condições deficientes", que tinha uma capacidade de 250 mil unidades por ano, alcançou em 2006 a capacidade actual, de 2,5 milhões de peças.

 

O nível de produção foi no ano passado de 76% da capacidade instalada. Este indicador, tal como o volume de negócios ou o número de trabalhadores recuperou nos últimos dois anos – em parte devido ao mercado, em parte porque beneficiou do encerramento de outras fábricas do grupo, em Espanha – mas ainda está abaixo dos níveis de 2008.


"As grandes quantidades eram transaccionadas para o mercado da construção nova. Com a queda desse mercado, tanto em Portugal como em Espanha, obviamente que o número de clientes se reduziu", explica Jorge Vieira.


É à casa mãe que se destina a maior parte da produção e é essencialmente o que explica que 79% da facturação seja obtida no exterior. Mas as peças de Leiria também chegam a França e a clientes de Angola e Emirados Árabes. O Reino Unido é simultaneamente um destino de fornecimento a filiais e um dos principais fornecedores de matérias-primas, como argilas ou caulinos. A Roca importa um terço do que exporta. 


Instalada como unidade industrial desde o final dos anos oitenta, a empresa só obteve uma licença de laboração 25 anos depois. "Custa-me a perceber como é que isso acontece. Acho que o processo trava em todo o lado", diz o director-geral. Um problema comum a grande parte das empresas em Leiria – em 2009, segundo o presidente da câmara, mais de metade estava ilegal.

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