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A unidade industrial Geco produz em média 120 moldes metálicos por ano, entre os mais pequenos e os maiores. Com peças em mãos que podem atingir 500 mil euros, como é o caso de um molde de para-choques, a empresa nacional vive ao sabor das encomendas dos fornecedores de peças de plástico dos construtores automóveis.
O sonho de António Febra, empresário leiriense e presidente do grupo, começou quando foi para Inglaterra melhorar o seu conhecimento na língua inglesa. Tinha feito em Portugal um curso no Cambridge e como tinha o objetivo bem definido de ser professor de inglês decidiu que essa era o melhor caminho para conseguir o diploma. Para se sustentar enquanto estudava no horário noturno, trabalhava de dia numa empresa especializada no fabrico de produtos inoxidáveis, como bancadas e máquinas, que pertencia a um senhor alemão, refugiado da II Guerra Mundial.
Quando reclamou do baixo salário que auferia, o alemão desafiou-o: "vais para Portugal fazer moldes e eu dou-te uma percentagem do negócio". António Febra, que já tinha trabalhado numa empresa de moldes na Marinha Grande e ainda tinha feito o curso de mecânico de aviões da Força Aérea, assim fez. Iniciou, em 1969, o projeto Geco na sua garagem, em Telheiro, precisamente na localidade do concelho de Leiria onde tem hoje instalada a unidade industrial de 11 mil metros quadrados cobertos.
Foi aqui que começou a sua "guerra". Como recorda: "consegui entretanto um financiamento de 3 mil contos (15 mil euros na moeda atual) e comprei máquinas para alargar o pequeno negócio. E como sou um bom vendedor sai para o estrangeiro à procura de encomendas e não houve uma única vez em que não vendesse alguma coisa, fosse para a Inglaterra, para os Estados ou até para o Japão". O facto de dominar o inglês foi uma vantagem para estes contactos internacionais e ter criado um grupo empresarial que emprega cerca de 250 pessoas e fatura 18 milhões de euros, dos quais exporta praticamente a totalidade do seu produto.
Primeiros moldes com destino a Inglaterra
Os primeiros moldes que desenvolveu eram destinados a máquinas de injeção de plástico para fazer tampas para frascos de condimentos. O crescimento foi lento, e à custa de aquisições, sendo que nem todas correram bem, e foi diversificando as áreas de atividade durante os quase 50 anos de negócio.
Eletrodomésticos, como aspiradores, aparelhos de ar condicionado, plásticos de utilidades domésticas, caixas plásticas para transporte de frutas, máquinas de cortar relva, todos estes produtos fazem parte do portefólio dos produtos feitos com os moldes da Geco. A empresa desenvolveu até uma peça para a produção de semáforos, destinado a um cliente inglês. "Atualmente fazemos moldes com destino à indústria automóvel, pois é essa indústria que nos sustenta. As empresas de eletrodomésticos, por exemplo, foram todas comprar à China", explica. Os seus moldes têm como destino fornecedores de peças de marcas como a Mercedes, a Toyota, a BMW e a Audi.
18
250
900
7
Para conseguir conquistar trabalho além-fronteiras, António Febra estudou e visitou muitos mercados. Foi este o caminho que optou para saber quais os que interessavam mais à sua atividade. Além do primeiro, a Inglaterra, país onde consolidou a sua presença e chegou a ter importantes clientes, investiu ainda em outros países, tanto na Europa, como na América Latina - como foi o caso do Brasil e do México - e nos Estados Unidos. "O mercado nacional não nos interessa muito, porque quem compra moldes quer preços melhores. E não nos é possível baixar os valores que praticamos", explica o empresário. Dependente de um único setor, a empresa sente fortemente as variações do mercado onde está inserida: em 2018, houve uma quebra nas encomendas dos construtores de automóveis, prejudicando a atividade. Atualmente a aposta vai para as melhorias da unidade, já a pensar na fábrica do futuro. António Febra está a investir sete milhões de euros no projeto de modernização, o Geco Século XXI sustentado em novas tecnologias. Ampliação das áreas industriais e nova maquinaria garantem a sustentabilidade do negócio.
Perguntas a António febra
Presidente do grupo Geco
Saber adaptar o negócio às adversidades
Apesar do crescimento nas vendas entre 2017 e 2018, a empresa atravessa agora uma fase mais difícil devido à redução de encomendas, mas os investimentos na modernização da unidade industrial trazem um novo fôlego.
Qual foi o vosso volume de negócios de 2018 e o que esperam para 2019?
O ano passado aumentámos as nossas vendas e passámos dos 15,4 milhões de euros de 2017 para os 18 milhões de euros. Este está a ser um ano mais difícil devido à indefinição dos construtores automóveis relativamente aos veículos elétricos, e por isso houve uma paragem nas encomendas. Esta paragem está a custar às empresas do grupo 5 milhões de euros, valor que já devíamos ter recebido e que nos dificultou a atividade nos primeiros seis meses do ano. Esta quebra tem a ver com os carros elétricos... Sabe que construi o primeiro carro elétrico português? O Futi foi desenvolvido por mim. Criei uma empresa para o efeito, onde investi 2 milhões de euros, mas que não vingou porque as baterias não aguentavam muito tempo.
O grupo detém filiais em vários países. Em que países já tem presença direta?
Atualmente temos presença direta no México, na Inglaterra, na Alemanha e nos Estados Unidos. Já tivemos uma empresa no Brasil, com duas fábricas, mas não resultou, fui alvo de uma fraude. No México tenho uma unidade de assistência pós-venda, designada de Geco México, que faz manutenção, tal como a empresa em Inglaterra. Na Alemanha e nos Estados Unidos temos escritórios de representação.
A Geco é já um grupo empresarial. Quantas empresas tem e como foram sendo constituídas?
Esta é uma indústria bastante complexa, e por isso fomos criando empresas pequenas para que cada uma fosse gerida por uma pessoa. Estão estruturadas por áreas de negócio, ou seja, por tamanho dos moldes, porque todas as unidades estão preparadas para produzir para a indústria automóvel, o que varia é a capacidade em termos de tonelagem. Estão é quase todas no mesmo parque industrial, à exceção de duas ou três, que estão aqui a uns quilómetros.
Que investimentos tem planeados para o futuro?
Temos em mãos um investimento de sete milhões de euros em melhorias na fábrica, em instalações e maquinaria, e este investimento coincidiu com a redução das encomendas, daí que este início de ano não esteja a ser fácil. Mas era investimento que tinha de ser feito. Já somos uma unidade moderna, uma fábrica 4.0, com muita automação.
O sonho de António Febra, empresário leiriense e presidente do grupo, começou quando foi para Inglaterra melhorar o seu conhecimento na língua inglesa. Tinha feito em Portugal um curso no Cambridge e como tinha o objetivo bem definido de ser professor de inglês decidiu que essa era o melhor caminho para conseguir o diploma. Para se sustentar enquanto estudava no horário noturno, trabalhava de dia numa empresa especializada no fabrico de produtos inoxidáveis, como bancadas e máquinas, que pertencia a um senhor alemão, refugiado da II Guerra Mundial.
As empresas em Portugal querem moldes mais baratos, e não podemos baixar o nosso preço.
Produzimos em média 120 moldes por ano, dependendo a produção dos seus tamanhos. antónio febra
Presidente do grupo Geco
Produzimos em média 120 moldes por ano, dependendo a produção dos seus tamanhos. antónio febra
Presidente do grupo Geco
Quando reclamou do baixo salário que auferia, o alemão desafiou-o: "vais para Portugal fazer moldes e eu dou-te uma percentagem do negócio". António Febra, que já tinha trabalhado numa empresa de moldes na Marinha Grande e ainda tinha feito o curso de mecânico de aviões da Força Aérea, assim fez. Iniciou, em 1969, o projeto Geco na sua garagem, em Telheiro, precisamente na localidade do concelho de Leiria onde tem hoje instalada a unidade industrial de 11 mil metros quadrados cobertos.
Foi aqui que começou a sua "guerra". Como recorda: "consegui entretanto um financiamento de 3 mil contos (15 mil euros na moeda atual) e comprei máquinas para alargar o pequeno negócio. E como sou um bom vendedor sai para o estrangeiro à procura de encomendas e não houve uma única vez em que não vendesse alguma coisa, fosse para a Inglaterra, para os Estados ou até para o Japão". O facto de dominar o inglês foi uma vantagem para estes contactos internacionais e ter criado um grupo empresarial que emprega cerca de 250 pessoas e fatura 18 milhões de euros, dos quais exporta praticamente a totalidade do seu produto.
Primeiros moldes com destino a Inglaterra
Os primeiros moldes que desenvolveu eram destinados a máquinas de injeção de plástico para fazer tampas para frascos de condimentos. O crescimento foi lento, e à custa de aquisições, sendo que nem todas correram bem, e foi diversificando as áreas de atividade durante os quase 50 anos de negócio.
Eletrodomésticos, como aspiradores, aparelhos de ar condicionado, plásticos de utilidades domésticas, caixas plásticas para transporte de frutas, máquinas de cortar relva, todos estes produtos fazem parte do portefólio dos produtos feitos com os moldes da Geco. A empresa desenvolveu até uma peça para a produção de semáforos, destinado a um cliente inglês. "Atualmente fazemos moldes com destino à indústria automóvel, pois é essa indústria que nos sustenta. As empresas de eletrodomésticos, por exemplo, foram todas comprar à China", explica. Os seus moldes têm como destino fornecedores de peças de marcas como a Mercedes, a Toyota, a BMW e a Audi.
18
Faturação
O volume de negócios do ano passado atingiu os 18 milhões de euros.
250
Colaboradores
O número de funcionários do grupo Geco já chegou ao 250.
900
Moldes
Em quase cinco décadas foram produzidos cerca de 900 mil moldes.
7
Investimento
A Geco está a investir cerca de 7 milhões de euros na fábrica do futuro.
Para conseguir conquistar trabalho além-fronteiras, António Febra estudou e visitou muitos mercados. Foi este o caminho que optou para saber quais os que interessavam mais à sua atividade. Além do primeiro, a Inglaterra, país onde consolidou a sua presença e chegou a ter importantes clientes, investiu ainda em outros países, tanto na Europa, como na América Latina - como foi o caso do Brasil e do México - e nos Estados Unidos. "O mercado nacional não nos interessa muito, porque quem compra moldes quer preços melhores. E não nos é possível baixar os valores que praticamos", explica o empresário. Dependente de um único setor, a empresa sente fortemente as variações do mercado onde está inserida: em 2018, houve uma quebra nas encomendas dos construtores de automóveis, prejudicando a atividade. Atualmente a aposta vai para as melhorias da unidade, já a pensar na fábrica do futuro. António Febra está a investir sete milhões de euros no projeto de modernização, o Geco Século XXI sustentado em novas tecnologias. Ampliação das áreas industriais e nova maquinaria garantem a sustentabilidade do negócio.
Perguntas a António febra
Presidente do grupo Geco
Saber adaptar o negócio às adversidades
Apesar do crescimento nas vendas entre 2017 e 2018, a empresa atravessa agora uma fase mais difícil devido à redução de encomendas, mas os investimentos na modernização da unidade industrial trazem um novo fôlego.
Qual foi o vosso volume de negócios de 2018 e o que esperam para 2019?
O ano passado aumentámos as nossas vendas e passámos dos 15,4 milhões de euros de 2017 para os 18 milhões de euros. Este está a ser um ano mais difícil devido à indefinição dos construtores automóveis relativamente aos veículos elétricos, e por isso houve uma paragem nas encomendas. Esta paragem está a custar às empresas do grupo 5 milhões de euros, valor que já devíamos ter recebido e que nos dificultou a atividade nos primeiros seis meses do ano. Esta quebra tem a ver com os carros elétricos... Sabe que construi o primeiro carro elétrico português? O Futi foi desenvolvido por mim. Criei uma empresa para o efeito, onde investi 2 milhões de euros, mas que não vingou porque as baterias não aguentavam muito tempo.
O grupo detém filiais em vários países. Em que países já tem presença direta?
Atualmente temos presença direta no México, na Inglaterra, na Alemanha e nos Estados Unidos. Já tivemos uma empresa no Brasil, com duas fábricas, mas não resultou, fui alvo de uma fraude. No México tenho uma unidade de assistência pós-venda, designada de Geco México, que faz manutenção, tal como a empresa em Inglaterra. Na Alemanha e nos Estados Unidos temos escritórios de representação.
Já temos uma unidade moderna, uma fábrica 4.0, com muita automação. António Febra
Presidente do grupo Geco
Presidente do grupo Geco
A Geco é já um grupo empresarial. Quantas empresas tem e como foram sendo constituídas?
Esta é uma indústria bastante complexa, e por isso fomos criando empresas pequenas para que cada uma fosse gerida por uma pessoa. Estão estruturadas por áreas de negócio, ou seja, por tamanho dos moldes, porque todas as unidades estão preparadas para produzir para a indústria automóvel, o que varia é a capacidade em termos de tonelagem. Estão é quase todas no mesmo parque industrial, à exceção de duas ou três, que estão aqui a uns quilómetros.
Que investimentos tem planeados para o futuro?
Temos em mãos um investimento de sete milhões de euros em melhorias na fábrica, em instalações e maquinaria, e este investimento coincidiu com a redução das encomendas, daí que este início de ano não esteja a ser fácil. Mas era investimento que tinha de ser feito. Já somos uma unidade moderna, uma fábrica 4.0, com muita automação.