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De Lisboa a Leiria é pouco mais de uma hora numa das várias auto-estradas disponíveis. As acessibilidades são um dos pontos fortes de um concelho com "uma crise social instalada" e de uma autarquia presa à dívida do Estádio construído para o Euro 2004. Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria, quer licenciar empresas existentes, estimando que 30% estejam ilegais. Nalguns casos, há décadas.
Fez carreira na Direcção-geral de Impostos, mas em Leiria a derrama é relativamente reduzida, o IMI é moderado mas a receita subiu 18% em 2013 e o alívio no IRS é nulo. Não acredita na eficácia destes instrumentos que tem à sua disposição?
Acredito, mas há uma coisa que não podemos perder de vista: o orçamento da autarquia, que anda na ordem dos 64/65 milhões. E tem andado por aí, apesar da crise e das quebras das receitas tradicionais. Não há construção, há taxas que não são cobradas. As dívidas que herdámos eram o dobro, se incluirmos a banca. É preciso ter a noção do esforço que fizemos para evitar cair nesta armadilha chamado PAEL, o programa de apoio às autarquias que permite contratar com o Governo um apoio financeiro para fazer face às dívidas mas que tem o reverso da medalha: aumentar todas as taxas para o máximo possível.
Mas então o que pode fazer, neste contexto, para tornar Leiria mais atraente para empresas e pessoas?
Nós temos como base de partida um sector empresarial privado extraordinário. A taxa de desemprego é inferior à média nacional. Se confrontar o número de empresas que se criaram com as que se extinguiram vai ver que a diferença é abismal. Tudo isto associado a um factor importante: Leiria está a uma hora de Lisboa, a uma hora do Porto, as vias de acesso são extraordinárias: A1, A8, A17, IC16, IC19.
E quais são os pontos fracos?
Gostaríamos que se viesse a dar melhor uso a infra-estruturas. A linha do Oeste é um trauma porque não se investiu na rede nem na qualidade das carruagens, que ninguém utiliza. É um drama por causa das mercadorias. Importante, sob o ponto de vista do turismo, era a utilização civil da base aérea de Monte Real. Estamos a trabalhar nisso.
Acha que as pessoas querem visitar Leiria de avião?
Não é visitar Leiria de avião. O que temos aqui a 20 quilómetros ao lado? Fátima.
De que depende?
Financiamentos. O nosso interlocutor tem sido o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, que nos disse: muito bem, há viabilidade, orçamento do Estado zero, por causa de Beja, e vocês têm de arranjar financiamento. Dão-nos apoio a uma candidatura a fundos europeus, o primeiro-ministro assumiu isso perante 400 pessoas. Estamos a falar com companhias, temos de assegurar via Governo o interesse da Força Aérea e neste contexto penso que há todas as condições para dinamizar este processo.
É um sonho ou um projecto? É para arrancar quando?
Estamos a trabalhar.
Há algum novo relevante investimento privado para a região?
Eu sei que há procura de oportunidades para investir em Leiria. Há quem queira apostar na área da Saúde, numa nova clínica, num parque de diversões, nalguns nichos de reabilitação. Sentimos isso. Agora, nada parecido com o que sentíamos antes. Hoje as receitas das autarquias, do urbanismo, da publicidade, de quaisquer licenciamentos, são diminutas. E portanto estamos muito dependentes do apoio comunitário.
As decisões sobre o montante dos fundos, conhecidas na semana passada, foram favoráveis às pretensões da autarquia?
As expectativas quanto ao apoio comunitário são sempre superiores aos montantes disponíveis. Obras essenciais ao bem-estar, como centros educativos, centros de saúde, infra-estruturas sociais ou para regeneração urbana, estarão fortemente condicionadas aos fundos possíveis. Vamos apresentar candidaturas que nos permitam rentabilizar as comparticipações. Perante a crise, as autarquias tornaram-se subsídio-dependentes.