Outros sites Medialivre
Notícia

Fundição de Évora: Eles seguram a luz para o mundo passar

No último ano, saíram 2.300 toneladas de peças em alumínio da Fundição de Évora. Mais de 80% são as pernas e braços das luzes públicas, um negócio que cresce à boleia dos LED.

23 de Julho de 2018 às 22:10
Mariline Alves
  • Partilhar artigo
  • ...

Uma boa parte dos trabalhadores que lixam, pulem e operam equipamentos na Fundição de Évora (FE) está aqui há quase tanto tempo como as primeiras máquinas. A prensa horizontal de injecção na ala esquerda da fábrica, por exemplo, é de 1986, tão antiga quanto a empresa fundada pelo belga M. Schréder e pelo português Pinheiro Torres, o engenheiro que via em Évora uma cidade inspiradora com as portas abertas para Espanha. Tinha razão. 32 anos depois, o país vizinho é o principal mercado da fundição especializada em estruturas de alumínio para a iluminação de exteriores.


"Somos uma empresa historicamente exportadora; 80% do volume de facturação é para o exterior", assenta Maria do Rosário Raimundo, co-directora da FE, juntamente com Rui da Silva. Segundo os dados que a Informa D&B partilhou com o Negócios, em 2016, a Fundição de Évora era a quarta maior exportadora do concelho. Na prática, até se poderia considerar o terceiro lugar, uma vez que a primeira e segunda posições cabiam à actividade aeronáutica da Embraer (dividida nas parcelas de Estruturas Metálicas e Estruturas em Compósitos), estando logo a seguir a multinacional Kemet Electronics. Nesse ano, o volume de negócios da Fundição superava os 11 milhões de euros.

Hoje ronda os 13 milhões. Isto, contra os seis a sete milhões de euros a seguir à crise (2012), em que a empresa se viu forçada a "dar a volta" através da procura de novos mercados e do investimento em formação e tecnologia. Uma manobra feita oito anos depois da entrada de capitais do grupo Aluthea. Em 2004, dois terços da FE foram adquiridos pelo grupo francês, ficando os belgas da Schréder com o remanescente, mas mantendo-se até hoje como o principal cliente da Fundição.


Esta é uma indústria suja, dura, pesada, onde nuvens de vapor sobem com a ajuda de temperaturas que colocam o Verão eborense a um canto. Mas entre processos que, aos olhos de um leigo, parecem elementares e máquinas com mais de 30 anos, há braços de robôs a transportar peças de alumínio. Mais tarde serão polidas e afinadas pela mão humana e encaixadas na forma de luminárias para ruas, praças e auto-estradas portuguesas, francesas, húngaras ou suíças.

Até 2004, "o que interessava era fornecer peças injectadas em alumínio para empresas do grupo" Schréder, mas os franceses viram a Fundição com outros olhos, encarando-a como uma empresa independente. Em 14 anos, o corpo de funcionários passou de 40 para 115, sendo que a empresa está "sempre a contratar", acrescenta Rui da Silva. No mesmo período, o número de células de fundição injectada triplicou para nove, sendo que oito delas são robotizadas. Além da estratégia, o crescimento também é uma reacção directa ao mercado. "Com a mudança para os LED houve um boom enorme no sector da iluminação. Mas diz-se que até 2022 vai estabilizar ou mesmo decrescer, portanto, temos de nos preparar", acautela-se Maria do Rosário.

 

Maria do Rosário Raimundo e Rui da Silva são os directores da Fundição de Évora, que é das maiores exportadoras do concelho. Uma indústria pesada que põe o calor de Évora a um canto.
Maria do Rosário Raimundo e Rui da Silva são os directores da Fundição de Évora, que é das maiores exportadoras do concelho. Uma indústria pesada que põe o calor de Évora a um canto. Mariline Alves

 

Tranches de um milhão

Cada célula de injecção de alumínio é composta por um forno, uma prensa horizontal de injecção, uma prensa vertical de corte, um alimentador, um lubrificador e um robô. E representa um investimento médio de um milhão de euros. As aquisições inserem-se num "caminho muito focado em automatizar o processo", mas a inovação passa também pela matéria-prima. Através de parcerias com universidades, como o Instituto Superior Técnico, a Fundição tem acompanhado "o desenvolvimento de novos produtos e dinâmicas, que facilitem o processo e permitam ganhar em economia de escala", explica Rui da Silva.

Hoje, 82% da produção da empresa são luminárias de exterior e a intenção é não desviar demasiado o foco dos genes da fábrica eborense. No entanto, a diversificação não é posta de lado. A indústria automóvel é responsável por 10% das encomendas e sectores como o mobiliário de interiores, a robótica ou a saúde já pesam nas contas. A suportar o desenvolvimento de protótipos está a nova fábrica do grupo, a EVT (ler "A face experimental do alumínio"), que permitirá alargar a capacidade de resposta. Os directores dão o exemplo de uma estrutura desenvolvida para uma sala de cirurgia, que foi "um dos grandes desafios mais recentes", segundo Rui da Silva. "É como uma espécie de renda", ilustra Maria do Rosário.

1/3
Lucro

A Fundição distribuiu 170 mil euros pelos colaboradores sem registo de absentismo.



88,96%
Exportações
As exportações pesam quase 89% no volume de negócios registado em 2016.

15
Facturação
A Fundição de Évora espera facturar 15 milhões de euros no ano de 2020.
Mais notícias