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Alporc: A terra dá e Espanha compra

São quatro anos como agrupamento, mas mais de 20 de muitos dos criadores que a compõem. A Alporc é a oitava maior exportadora de Évora e quer crescer frente à concorrência espanhola.

23 de Julho de 2018 às 22:20
David Martins
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Dos 128 hectares de área rural do concelho eborense, o montado de sobro e azinho fica na memória como carta postal. É o mesmo em que se desenvolve a actividade de 70 (dos 100) accionistas da Alporc, o agrupamento de lavradores e criadores espalhados pelo Alentejo interior criado há quatro anos para promover e valorizar o porco alentejano. O presidente do conselho de administração, Luís Martins, é um deles. No Alandroal, mostra os seus 150 porcos a caminho da melhor parte do dia: o almoço.


De saco ao ombro, Chico, o tratador, espalha a ração no solo seco. Nem sempre é assim. A ração representa 20% do regime destes porcos alentejanos, de pêlo escuro, "barbeado", e de pata fina e inclinada, que deixa ver bem a definição de cada músculo.


"É um porco vivo, que tira partido do que a terra dá", descreve Luís Martins, referindo-se à base da pirâmide, a bolota - disponível na fase de montanheira, de Novembro a Janeiro -, mas também às raízes e outros frutos que os animais vão encontrando.


Na altura de um tractor, Chico desaparece da propriedade onde vem uma vez por dia e os porcos vão ao banho de barriga cheia. Quer-se que "desenvolvam uma certa envergadura, mas crescem lentamente", relata Luís Martins. Não antes dos dois anos, seguem em camiões rumo ao país vizinho, o grande destino de exportação da Alporc, onde o selo da sociedade alentejana se perde e o porco português é transformado em "jamón ibérico de bellota", entre outras iguarias de qualidade - e preço - superior.

 

Animais cumprindo a lei

Números partilhados pela Informa D&B posicionam a Alporc - Agrupamento dos Lavradores Criadores de Porco Alentejano como o oitavo maior exportador do concelho. Em 2016, fechavam o segundo ano de actividade - e o primeiro "a sério" da sociedade - com um volume de 5,3 milhões de euros em negócios, 66,95% resultantes de exportações, a maior parte para Espanha. "Vendemos cerca de um milhão em factores de produção", tais como ração, detalha Luís Martins.


O agrupamento dos criadores dotou o negócio de maior potencial e reconhecimento. Aliás, se mais animais tivessem, mais venderiam, garante Mariana Pontes, administrativa na sede da Alporc, em Évora, onde trata desde procedimentos legais a facturações. "Todos os porcos que vão para Espanha têm de cumprir os requisitos [do Real Decreto 4/2014, de 10 de Janeiro, que aprova a norma de qualidade para a carne, o presunto, a paleta e o lombo ibérico] e é preciso assegurar isso", afirma. Por outro lado, "se um cliente telefona com um pedido de 500 porcos biológicos, a Alporc identifica-os e faz o aconselhamento".


 

Falta valor acrescentado

Na qualidade não há que mexer. "Temos os melhores porcos do mundo", garante Luís Martins, mesmo correndo o risco de "parecer provinciano ou 'naif' [ingénuo]".


No entanto, a quase inexistência de indústria transformadora para este segmento no lado português "é o grande drama". A maior parte da cadeia de valor está em Espanha. Em 2018, o preço médio de cada animal vivo foi de 475 euros, mas, depois do abate e da transformação em presuntos, paios de lombo e outros produtos, "pode-se chegar aos 2.750 euros". "Esses 2.275 euros que deixamos de ganhar poderiam ser altamente fomentadores da economia em zonas deprimidas" como esta, analisa Luís Martins.


Por que razão ninguém investe na transformação? "Em Espanha há fábricas de 'embutidos' com 100 anos. Entraríamos em concorrência com gigantes. E um presunto só é vendido dois a três anos depois do abate, portanto, a imobilização financeira é enorme", enquadra o produtor. A concorrência já chegou, entretanto, a fases prévias. "Os espanhóis têm esgotado as áreas de montado deles e arrendam em Portugal", afirma.

Para o futuro, o objectivo, ainda assim, é crescer em área, em produção e em criadores. "Portugal tem um milhão de hectares de montado. Se forem aproveitados 70%, temos um tecto produtivo de 175 mil animais", calcula o presidente.


17.000
Porcos

São criados 17 mil porcos alentejanos por cerca de 70 produtores espalhados pelo interior alentejano.



67%
Exportações

O negócio da Alporc passa em 67% pelas exportações. O principal mercado é Espanha.


4
Hectares

Cada animal precisa de 4 hectares para crescer segundo os padrões de qualidade.



6
Pessoas

A equipa tem seis pessoas. Recorre muito a prestadores de serviços.

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