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Cavacas das Caldas: História de amor com sabor a limão

A receita é simples e o segredo está mesmo na forma de amassar. Eduardo Loureiro leva a tradição avante há mais de três décadas na Fábrica de Cavacas das Caldas. Tudo graças ao casamento.

06 de Março de 2017 às 21:20
Pedro Elias
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As mãos tocam a massa, pontualmente, às seis e meia da manhã. "Tenho de lhe dar o meu jeito, por agora".

Enquanto o pessoal não chega, uma hora depois, Eduardo Loureiro tem a Fábrica de Cavacas das Caldas só para si. Já lá vão mais de 30 anos.

"Começou quando me casei. Os meus sogros já trabalhavam nos doces regionais: as cavacas e os beijinhos. Tinham uma banca na Praça da Fruta". Ele trocou os campos e a agricultura pelos doces. Veio a vontade de expandir o negócio, apostar em novos produtos, abrir a própria fábrica.

Os risos misturam-se com a canela, no ar, quando chegam algumas funcionárias. São 20 no total. "Agora os casamentos é tudo por amor, que já ninguém tem dinheiro", ouve-se entre os argumentos da conversa, a bom som.

Salomé Inácio olha, com uma atenção leve, para os sacos que vai enchendo de beijinhos - uma espécie de cavacas mais pequenas e redondas. Enquanto se mede a quantidade por saco, "leva mais um para ficar bonito".

Os olhos dos clientes também comem. Por isso mesmo, Eduardo Loureiro sempre soube que não se podia ficar pelas cavacas. "Os três ou quatro concorrentes que produzem já não fazem só cavacas. O cliente, quando vem à procura, não procura só cavaca. É só um chamariz".

Todos os dias são amassadas 150 ou 200 dúzias de cavacas. Receita: farinha, ovos, bicabornato de sódio e margarina. "O segredo está no amassar, como quem amassa pão". Voltas contadas para que a fórmula chegue a bom porto.
Segue para fornos a lenha, a 300 graus. Ao final de meia hora, as cavacas são viradas nos tabuleiros. Ficam lá mais trinta minutos, o calor é que vai diminuindo.
O passo seguinte é visível nos enormes sacos de plástico, transparentes, onde se acumulam estes doces regionais. "Conforme vêm as encomendas, vamos colocando o açúcar". A calda fica seca em menos de dez minutos.

A produção fica quase toda - para não dizer mesmo toda - dentro de fronteiras. O prazo de validade apertado das cavacas não permite esse passo. "Quanto mais fresco, melhor. Mesmo para exportar não temos essa hipótese".

Eduardo Loureiro, com 57 anos, não cruza os braços. Em marcha está a construção de um novo pavilhão onde ficarão junto os seus dois negócios. As cavacas vão reunir-se com as bolachas wafers, num investimento a rondar o milhão de euros.

"Tenho de pensar que alguém vai dar continuidade a isto". O empresário tem procurado passar os ensinamentos, tal como lhe fizeram os sogros. Até agora sem sucesso. Há alguns membros da família debaixo de olho, basta um pequenino empurrão. "A tradição das cavacas vai-se manter sempre".

Saloia ou fina, que a cavaca também tem categoria. Eduardo Loureiro gosta delas com limão, "bastante limão". De preferência, espalhadas pelas pastelarias da cidade.

Tome nota

Uma real tradição em calda de açúcar

A história das Cavacas da Caldas da Rainha já é longa. Nos cruzamentos com a história real, o doce assume o seu papel de embaixador de uma cidade.

Uma antiga história de família
É a duas irmãs nascidas nas Caldas da Rainha que se atribui a origem do doce. As duas serviram a corte mas, com o assassinato do rei D. Carlos em 1908, tiveram de voltar à terra natal. Aí, começaram a vender os seus doces no largo do Hospital Termal.

Saloia ou fina, basta escolher a cavaca
Há duas variedades de Cavacas das Caldas, conta Eduardo Loureiro. Nas feiras de Santarém, Golegã ou Cartaxo é frequente encontrar-se a cavaca saloia: levam só um banho de açúcar e o travo a limão é mais forte. Depois há as cavacas finas, tipicamente vendidas nas pastelarias: mais pequenas e com dois banhos de açúcar. As últimas são mais procuradas no Verão.

Suspiros e bolachas para adoçar
Eduardo Loureiro produz Cavacas e Beijinhos das Caldas há mais de 30 anos. Contudo, o seu portefólio não fica por aqui. Bolos, suspiros e bolachas wafers fazem parte da lista. A partir do próximo Verão, estarão todos juntos debaixo do tecto do mesmo pavilhão.

Sob a benção da rainha d. leonor
A Fábrica de Cavacas das Caldas está autorizada a utilizar nas suas embalagens, onde predominam os tons verdes e castanhos, a imagem da Rainha D. Leonor. A monarca, que esteve na origem do hospital termal da cidade, figura no topo das embalagens.

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