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São recheados com os sabores do alecrim, do poejo, da aguardente da Vidigueira ou do azeite. "A imaginação infinita a que o chocolate se presta", segundo as palavras de João Dias, o mentor e dono da empresa Mestre Cacau, permite-o. Sobre o que se escreve? Sobre bombons. E sobre um projecto singular criado em Beja, que se inspira em tradições e produtos do Alentejo.
"Achámos que por ser diferente, por poder ser a tal pedrada no charco, se tornaria um negócio interessante. Em 2004, começámos a fazer ensaios, a pesquisar, a fazer experiências em casa. Em 2005, eu e o meu antigo sócio, que entretanto faleceu, tirámos um curso de chocolataria na Bélgica. Começámos meio a brincar. Hoje a empresa tem já cinco trabalhadores e tem um volume de facturação de cerca de 170 mil euros", explica João Dias, ele que além de chocolateiro é também docente na Escola Agrária de Beja.
Se no primeiro ano os produtos estavam ainda muito agarrados à chocolataria francesa, o toque de mestre foi dado quando decidiram apostar em sabores tipicamente portugueses. O primeiro bombom regional que fizeram foi o de medronho, muito impulsionado pelos clientes algarvios. Depois veio o sabor a alecrim, a aguardente da Vidigueira, a poejo, a azeite, e até azeitonas inteiras, descaroçadas, foram envolvidas em chocolate.
"O chocolate também se presta a isto. É uma matéria-prima em que não há limites. A imaginação é infinita. Isso, para o nosso negócio, é uma vantagem. Nem em todos os negócios existe essa possibilidade de ter uma criatividade tão abrangente", explica.
Lojas gourmet e pequeno comércio
A empresa conta hoje com uma loja, em Beja, e uma pequena fábrica, nos arredores da cidade. A produção é vendida um pouco por todo o país, em estabelecimentos de produtos gourmet, em pequenas charcutarias, no pequeno comércio. Propositadamente, os produtos com a marca Mestre Cacau não estão em qualquer grande superfície.
"É uma questão de opção. Ou se está na grande distribuição ou se está no pequeno comércio. Mesmo o pequeno comércio procura coisas diferentes, coisas únicas, e nós tomámos essa opção. Também por uma questão de preço. Como é um produto artesanal, o preço é mais elevado do que o chocolate industrial que se encontra nas grandes superfícies", sublinha João Dias.
Actualmente, alguns dos bombons alentejanos são também exportados para França, Luxemburgo ou Espanha, mas são situações pontuais.
"A exportação ainda não tem um grande volume. Ganhar dimensão e exportar é uma das nossas prioridades. O que gostávamos era de dar o salto, dar a conhecer os produtos lá fora. Participar em eventos de referência na área de distribuição na área do gourmet, nomeadamente em França, Alemanha e Inglaterra".
De Beja, para o mundo. Será uma dificuldade acrescida? João Dias responde que não. Recorda que quando começou este projecto lhe chamaram louco, sobretudo por causa do Verão e, claro, do calor do Alentejo associado ao chocolate.
"Só fazia sentido fazer este negócio na minha terra, porque tenho uma ligação sentimental muito forte a Beja. Estar no interior faz com que possamos inspirar-nos nas nossas raízes. Se estivéssemos numa grande cidade, se calhar não fazíamos esta aposta. Não noto que o interior seja um entrave", conclui o mestre chocolateiro.