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Viseiras “moldam” fábricas de toldos e cabides

Perante o cenário de pandemia, várias empresas com competências na área dos moldes e da injeção de plásticos taparam a falta de outras encomendas com a produção de viseiras, que estão a vender para dentistas, polícias ou operários e a exportar para vários países.

21 de Maio de 2020 às 13:00
DR
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Quando as lojas de roupa começaram a fechar, as confeções ficaram sem trabalho e a Univerplast sem encomendas. "Brutamente atingida" pela pandemia, esta fabricante de cabides que tem no grupo Inditex um dos melhores clientes foi obrigada a "reinventar a produção para não ser mais uma empresa em lay-off" no país, conta a diretora comercial, Mafalda Monteiro. Os pedidos do vestuário começam a ressurgir a ritmo lento. Desde o final de março até à primeira semana de maio, os quase 40 funcionários estiveram dedicados em exclusivo às viseiras.

Português a 100%, desde as matérias-primas ao produto final, este artigo de proteção contra a covid-19 surgiu em resposta ao desafio da autarquia de Lousada, em tempo recorde (menos de um mês) e com "investimentos grandes no molde, que custa uma fortuna, e na montagem da linha de produção". "Arrisquei. Estava com medo porque não tínhamos nada a ver com a área médica, muito sensível. O Infarmed e a ASAE foram incansáveis e ajudaram a elaborar este molde, para garantir a maior proteção possível do profissional de saúde", relata a gestora.


Fizemos investimentos grandes no molde, que custa uma fortuna, e na montagem da linha de produção. Mafalda monteiro
Diretora comercial da Univerplast 

Bi

Univerplast

Fundação: 1989
Localização: Lousada
Trabalhadores: 37
Volume de negócios: 3 milhões de euros
Exportação: 15% para vários países na Europa, África e América do Sul
Especialização: injeção de plásticos (97% da produção dedicada aos cabides)



A empresa de injeção de plásticos está a produzir 25 mil viseiras por dia, vendendo a bombeiros, polícias, dentistas, veterinários, autarquias, lares de idosos, fábricas e transportadoras, além de exportar para vários países. Enquanto aguarda a certificação do produto, Mafalda Monteiro promete mantê-lo no portefólio. "Não havia produção em Portugal. As usadas por médicos ou jardineiros eram importadas. Agora vai continuar a haver. Fizemos isto para a pandemia, mas com a perspetiva de continuar neste ramo de negócio", completa a responsável.

Ok francês e pavilhão branco

A escassos 72 quilómetros, em Oliveira de Azeméis, o diretor-geral de uma fabricante de equipamentos e acessórios para proteção solar, como toldos, tendas, brisas solares ou estruturas para painéis solares, começou no início de março a "ver muitas pessoas a tentar fazer viseiras em impressoras 3D, em processos inviáveis para quantidades". Luís Bastos ligou então para o patrão da Mitjavila e também avançou, aproveitando ter "dentro de portas" o fabrico de moldes e a injeção de plásticos.

Vi muitas pessoas a tentar fazer viseiras em impressoras 3D, processos inviáveis para quantidades.  Luís Bastos
Diretor-geral da Mitjavila Portugal

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Mitjavila

Fundação: 1987
Localização: Oliveira de Azeméis
Trabalhadores: 172
Volume de negócios: 9,4 milhões de euros
Exportação: 80%. França, Espanha, Itália e Alemanha
Especialização: fabrico de estruturas e acessórios para proteção solar


Esta filial do grupo francês é outras das unidades industriais mobilizadas para ajudar no combate ao novo coronavírus. A intenção inicial era apenas oferecer estes artigos a hospitais e forças de segurança da região. Com os pedidos a multiplicarem-se - fizeram 270 mil em mês e meio -, a doação deixou de ser possível e começou a vender a preço de custo. Atualmente com uma produção de 25 a 30 mil por semana, estas viseiras autorizadas pela ASAE e certificadas com a marcação CE estão a ser enviadas para França, Espanha, Canadá e EUA.

A nível nacional estão a equipar hospitais, destacamentos da GNR e também a ser usadas em várias empresas. O diretor-geral da Mitjavila diz que há muitos trabalhadores a quem "custa usar máscara por causa do calor" e preferem utilizar estas viseiras que "se adaptam muito facilmente [ao rosto], têm um certo afastamento e não embaciam". No plano comercial, assegura que vende apenas a grandes distribuidores de produtos farmacêuticos para evitar a especulação, ao perceber que "muita gente queria comprar oportunisticamente para poder revender a preços exorbitantes".

No início da crise, também Luís Bastos equacionou avançar para lay-off, acabando por manter a atividade "mesmo com o risco de ficar com os produtos em stock". Pelo contrário, para fazer face às encomendas de viseiras e depois de óculos de proteção, mobilizou gente de outros departamentos e contratou 16 pessoas. Se for aprovada a candidatura ao programa Inovação Produtiva para outros quatro produtos ligados à covid-19, que envolve a construção de um "pavilhão branco" com 2.000 metros quadrados, esta área pode vir a empregar 40 pessoas e valer 10% a 15% da faturação no final do próximo ano.