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Transformação digital exige muito investimento

É preciso haver uma “clara visão para onde queremos ir, e uma estratégia que permita priorizar. Há muito a fazer, mas não se pode fazer tudo, tendode escolher o que tem mais impacto”, defendeu Micaela Seeman Monteiro.

03 de Outubro de 2024 às 15:00
Bruno Colaço
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Foto em cima: Nuno Costa, José Pedro Almeida, e Micaela Seemann Monteiro no debate "Investir em Saúde - Mais Tecnologia, Melhores Resultados".

"A transformação digital dos cuidados de saúde é uma tarefa do sistema, com muitos stakeholders, muitas vezes com prioridades diferentes", disse Micaela Seeman Monteiro, Chief Medical Officer para a Transformação Digital da CUF , na conferência "Investir em Saúde - Mais Tecnologia, Melhores Resultados", uma iniciativa da Johnson & Johnson Innovative Medicine e do Negócios. Micaela Seeman Monteiro sublinhou que a tecnologia é um meio para atingir fins e, na saúde, "os objetivos são muitio abrangentes: obter ganhos em saúde, melhorar os sistemas, aumentar o acesso, melhorar a experiência dos doentes e dos próprios profissionais. Mas, também, aumentar a sustentabilidade".

A transformação digital necessita de muito investimento, não surge por geração espontânea.Micaela Seeman Monteiro
Chief Medical Officer para a Transformação Digital da CUF

Considera que "a transformação digital necessita de muito investimento, não surge por geração espontânea". Chama a atenção para o facto de os recursos serem limitados e, por isso, é preciso haver uma "clara visão para onde queremos ir, e uma estratégia que permita priorizar. Há muito a fazer, mas não se pode fazer tudo, tendo de escolher o que tem mais impacto".

Um dos principais desafios das organizações da saúde é "integrar inovação à medida que ela acontece num sistema que, por sua vez, está com sistemas e processos legacy", disse Micaela Seeman Monteiro. Revelou que na CUF, tem sido feito um processo de investimento para substituir estes sistemas para "estarmos em condições de sermos parte ativa neste sistema de saúde europeu de partilha de dados".

"Hoje em dia estou mais focado na Inteligência Artificial. Neste campo, já se vêm alguns exemplos em Portugal interessantes, e, no setor privado, isso é claro", referiu José Pedro Almeida, reconhecido como Top 70 Lideres de IA na Saúde e nos Top 30 Líderes Tecnológicos em Saúde a seguir em 2024 e Top 20 Portuguese World-Changer.

Exemplos de IA

Deu como exemplo, a existência, no Grupo CUF, de uma assistente virtual que interage com os doentes em ambulatório após uma cirurgia, como faria uma equipa de enfermagem, o que permite "escalar os cuidados, porque não podemos ter um médico ou um enfermeiro para cada doente". Apontou ainda que o Grupo Lusíadas tem uma aplicação que liga e ajuda o utente a marcar os exames, "o que é mais uma boa visão para escalar uma operação em que teriam de ter recursos humanos".

No Hospital de São João, onde José Pedro Almeida trabalhou entre 2008 e 2018, existe uma plataforma que calcula 560 mil milhões de pontos de dados por dia há mais de dez anos, ao ter uma série de algoritmos por cima, que foram sendo criados. Atualmente, na urgência um médico consegue sumarizar o histórico de um doente com muitas comorbilidades num clique e com base na Inteligência Artificial."São casos isolados, não uma abordagem estruturante de toda a organização", remata José Pedro de Almeida.

Temos algumas vantagens relativamente a outros países como a prescrição eletrónica e a dispensa de medicamentos, já temos algumas das categorias de Registo Eletrónico de Saúde implementados, como a partilha de exames no setor convencionado, as vacinas e o patient summary já está na app do cidadão no SNS. Nuno Costa
Vogal do Conselho de Administração dos SPMS

Relativamente ao papel da Inteligência Artificial, José Pedro Almeida deu o exemplo da Kaiser Permanente, onde já existe uma parte significativa das consultas entre médico e paciente sem a intervenção de um computador, sendo a Inteligência Artificial responsável por absorver e estruturar a informação não estruturada.

Nuno Costa, administrador dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), disse que relativamente à transformação digital, estava "sentado aos ombros de gigantes, porque os SPMS têm um trabalho passado relevante a caminho da transformação digital". Segundo Nuno Costa "temos algumas vantagens relativamente a outros países como a prescrição eletrónica e a dispensa de medicamentos, já temos algumas das categorias de Registo Eletrónico de Saúde implementados, como a partilha de exames no setor convencionado, as vacinas e o patient summary já está na app do cidadão no SNS".

Revelou que no ecossistema do SNS falta fazer a integração de quatro ou cinco hospitais e na partilha de resultados de exames de diagnóstico, em que já têm mais de 250 milhões de resultados de exames laboratoriais integrados, ainda há limitações para a imagiologia.