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Foto em cima: Xavier Barreto, presidente da APAH.
"Sabemos qual é a nossa procura, quem são os nossos doentes, quais são os recursos humanos dos nossos hospitais e, portanto, seria lógico que utilizássemos esta informação para fazer coisas tão básicas como escalas de serviço. Mas, na verdade, as escalas em Portugal continuam a ser feitas à mão. Vivemos num SNS que é quase bipolar. Gastámos dois milhões de euros num medicamento e, depois, não conseguimos ter um sistema que auxilie os nossos clínicos a fazer uma escala quando toda a informação existe", afirmou Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), na conferência "Investir em Saúde - Mais Tecnologia, Melhores Resultados", uma iniciativa da Johnson & Johnson Innovative Medicine e do Negócios.
Salientou que o investimento em saúde é um tema importante e pertinente à medida que a crise se agudiza. "Temos de responder à crise com mais investimento, mas que tenha uma estratégia, com uma direção concreta, e um foco concreto. Mas temos dúvidas que isso esteja a acontecer em áreas prioritárias como a área de tecnologia de dados, em que talvez não se esteja a fazer o suficiente", alertou Xavier Barreto.
Lançou o desafio ao Ministério da Saúde para criar uma iniciativa concreta para definir uma estratégia de Inteligência Artificial, com um plano de ação e de implementação para os próximos anos, "porque o que temos é uma manta de retalhos, são vários hospitais com ações, cada um com a sua própria estratégia, ideia, fornecedores e aplicações", asseverou Xavier Barreto.
Escalas manuais
Na sua exposição na conferência deu exemplos da falta de ferramentas para a gestão da saúde. Existe falta de médicos de família e uma das medidas que está no plano de emergência é a necessidade de segmentar os doentes em função das suas patologias para priorizar quem deveria acesso a médico de família, e quem não necessita. "Não temos atualmente a tecnologia implementada para o fazer. Temos os dados, sabemos quais são as características dos doentes, mas não há ferramentas para fazer a segmentação", disse Xavier Barreto.
Xavier Barreto recordou o que outros setores fazem em termos de personalização da experiência e da informação, utilizando dados e IA, entre outras ferramentas digitais, direcionadas aos clientes, e o potencial que isso poderia ter na literacia em saúde. "Por exemplo, quando um doente diabético abrisse o seu portal, poderia ter acesso a um conjunto de recomendações sobre alimentos e hábitos comportamentais que o ajudassem a alterar o seu comportamento e o curso da doença.. Seria como quando entramos na Amazon ou noutros portais, o algoritmo já sabe tudo sobre nós e apresenta o que acha que queremos ou que ainda não sabemos que desejamos. A saúde em Portugal está ausente desta ideia de personalização da experiência", concluiu Xavier Barreto.