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"Ao longo dos últimos anos, como todos sabem, a Caixa e os seus trabalhadores esforçaram-se para dobrar o nosso Bojador, alterámos estruturalmente o banco em termos de risco, fizemos o turnaround do banco com quatro anos de resultados positivos, após seis anos de resultados negativos, e, no final deste ano, devemos absorver os prejuízos de 2016, 1.859 milhões de euros", referiu Paulo Macedo, presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos no Encontro Fora da Caixa que se realizou na Culturgest. "Esta fase está quase terminada, com a ajuda de todos na Caixa Geral de Depósitos, mas conscientes também da ajuda que tivemos fora dela. Quero-vos dizer que estamos hoje mais bem preparados para esta nova crise do que estávamos para a anterior, embora esta crise possa ter uma outra dimensão", disse Paulo Macedo.
Sublinhou que a Caixa Geral de Depósitos se move num contexto particularmente desafiador de pandemia, aliado às mais baixas taxas de juro de sempre, que impactam "fortemente em baixa a rentabilidade dos capitais próprios com margens de 1 a 2 %, contra margens do gel desinfetante de 15% e de outros produtos e que chegam a atingir alguns milhares de consumidores", mas a CGD está "consciente do seu papel em termos de banco de capitais públicos".
O papel do Estado
O tema do encontro era o Caminho da Recuperação, que contou com a presença de António Costa Silva, autor da "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica 2020-2030". Sobre este documento, Paulo Macedo salientou que se estava perante "um binómio de pensamento e de ação" e que procura formular uma visão para a estratégia de recuperação económica decorrente da crise provocada pelo coronavírus, mas que também promete tentar ver mais além.
Nesse documento o autor aborda, entre outros temas, o financiamento à economia portuguesa, no médio longo prazo e diz que o mesmo é decisivo para o futuro. Tem ainda menções específicas e análises específicas relativas aos projetos estruturantes que é necessário fazer para a próxima década, e prevê a necessidade de alterar o paradigma de capitalização das empresas portuguesas para não acrescentar apenas dívida sobre dívida, o que para Paulo Macedo é "um dos maiores desafios que há relativamente às empresas a par do conhecimento e das capacidades competitivas".
Os desafios da banca
Paulo Macedo também partilha da opinião de que "o equilíbrio entre o mercado sempre que possível e o Estado sempre que necessário, como premissa a adotar". Acentuou que se o papel do Estado não for assumido, "teremos uma recessão mais prolongada, mas têm de ser evitados os desperdícios do passado, as perdas do passado ou, mais recentemente, os paternalismos de quem quer retribuir sem criar riqueza. E só permitirá e provocará a fuga dos mais capazes e também uma maior passividade dos empreendedores, e isto apesar de passividade e empreendedorismo ser uma antítese, em si mesmo, mas corremos claramente um perigo quando o Estado tende a asfixiar a sociedade."
Invocou o exemplo da ponte das Honduras, que foi feita sobre um rio que entretanto mudou de curso deixando a ponte a cruzar uma zona sem água, para defender a ideia de que a realidade é "mais fugaz e imprevisível", o que obriga "a mudar sempre que necessário" e "tentando prever para que lado o rio vai mudar o seu curso, tentamos pensar e construir a estrada certa e sobretudo tentamos na Caixa Geral de Depósitos ter esteios, em lugares de maior certeza, num mundo mais incerto, tentemos pois pensar e agir, sermos atores e autores de um país mais rico mas também necessariamente mais justo".
"O permanente desafio do futuro"
Paulo Macedo defende o poder transformador do pensamento, porque só pode ser consequente fazendo escolhas e agindo.
Um dos temas do Encontro Fora da Caixa foi "No princípio era o pensamento", uma conversa entre o músico e compositor Pedro Abrunhosa e o escritor Gonçalo M. Tavares, o que permitiu a Paulo Macedo uma reflexão sobre o pensamento. Recordou o filme de Wim Wenders, "As Asas do Desejo", em que os anjos que pairam sobre Berlim têm capacidade de ouvir o que os Homens pensam, circulam e ouvem o silêncio, sem que ninguém se dê conta e perguntou-se se "o pensamento poderia ser lido".
Personagens do universo de ficção policial "diziam que sim, que pelo menos se podia prever a lógica do pensamento. Num conto de Agatha Christie, Poirot consegue adivinhar que o seu amigo Hastings está a pensar a partir de uma conversa tida minutos antes, o detetive segue uma lógica de raciocínios encadeados como todos nós fazemos durante uma meditação".
O conto de Jorge Luís Borges, "Funes, O Memorioso", em que Funes "é capaz de tudo acumular e de tudo recordar, suspeitava, contudo Borges, que Funes não fosse capaz de pensar. Pensar é esquecer as diferenças, é valorizar e abstrair, e naquele mundo de acumulação não havia espaço para tais detalhes".
Solidão da decisão
"O nosso pensamento é transformador e tem capacidade transformadora, é único em cada um de nós, e não pode ser lido por anjos ou por detetives perspicazes, é silencioso, pessoal e nesse sentido secreto. Não é também uma mera acumulação de memórias, recordações ou de dados".
Levou a reflexão para a sua vida profissional e considerou que a um "economista ou gestor não é apenas possível somar números, citar números, recolher informações, dar dados, se depois não decidir, não sugerir caminhos. Há um momento em que temos, de facto, de tomar caminhos, pensar, decidir, meditar e, obviamente, agir".
Acrescentou que "na solidão dos processos de decisão acumulam-se experiências, memórias, sensações e sobretudo fazem-se escolhas. Sabem como os portugueses têm dificuldade em fazer escolhas". Num poema do Robert Frost lê-se: "Duas estradas separaram-se num bosque e eu segui a menos percorrida, e isso fez toda a diferença", é isto que nos move ao longo do caminho, a escolha e o estímulo da sua incerteza, o permanente desafio do futuro."
Sublinhou que a Caixa Geral de Depósitos se move num contexto particularmente desafiador de pandemia, aliado às mais baixas taxas de juro de sempre, que impactam "fortemente em baixa a rentabilidade dos capitais próprios com margens de 1 a 2 %, contra margens do gel desinfetante de 15% e de outros produtos e que chegam a atingir alguns milhares de consumidores", mas a CGD está "consciente do seu papel em termos de banco de capitais públicos".
O papel do Estado
O tema do encontro era o Caminho da Recuperação, que contou com a presença de António Costa Silva, autor da "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica 2020-2030". Sobre este documento, Paulo Macedo salientou que se estava perante "um binómio de pensamento e de ação" e que procura formular uma visão para a estratégia de recuperação económica decorrente da crise provocada pelo coronavírus, mas que também promete tentar ver mais além.
Nesse documento o autor aborda, entre outros temas, o financiamento à economia portuguesa, no médio longo prazo e diz que o mesmo é decisivo para o futuro. Tem ainda menções específicas e análises específicas relativas aos projetos estruturantes que é necessário fazer para a próxima década, e prevê a necessidade de alterar o paradigma de capitalização das empresas portuguesas para não acrescentar apenas dívida sobre dívida, o que para Paulo Macedo é "um dos maiores desafios que há relativamente às empresas a par do conhecimento e das capacidades competitivas".
A CGD afirma-se e está apta no que respeita ao financiamento das empresas Tem um capital robusto, liquidez e vontade. Paulo Macedo
Presidente executivo da CGD
O presidente da Caixa Geral de Depósitos citou o documento de António Costa Silva, em que se diz que "neste novo ciclo económico o papel do Estado deve ser mais interventivo na economia para impedir o colapso das empresas relevantes, para investir nos serviços públicos, para darem maior segurança ao mercado de trabalho e para promover uma melhor distribuição da riqueza e reduzir desigualdades", para garantir que "a Caixa se afirma e está apta, no que respeita ao financiamento das empresas sejam elas micro, pequenas, médias ou grandes empresas. Tem um capital robusto, tem liquidez suficiente e tem vontade."Presidente executivo da CGD
Os desafios da banca
Paulo Macedo também partilha da opinião de que "o equilíbrio entre o mercado sempre que possível e o Estado sempre que necessário, como premissa a adotar". Acentuou que se o papel do Estado não for assumido, "teremos uma recessão mais prolongada, mas têm de ser evitados os desperdícios do passado, as perdas do passado ou, mais recentemente, os paternalismos de quem quer retribuir sem criar riqueza. E só permitirá e provocará a fuga dos mais capazes e também uma maior passividade dos empreendedores, e isto apesar de passividade e empreendedorismo ser uma antítese, em si mesmo, mas corremos claramente um perigo quando o Estado tende a asfixiar a sociedade."
Há um momento em que temos, de facto, de tomar caminhos, pensar, decidir, meditar e, obviamente, agir. Paulo Macedo
Presidente executivo da CGD
Concorda Paulo Macedo com a análise que a "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica 2020-2030" faz aos constrangimentos do sistema bancário como a baixa rentabilidade dos capitais próprios, o montante ainda elevado do crédito malparado, a dependência do crédito a micro e pequenas empresas que têm muitas fragilidades, a necessidade de melhorar os seus rácios de capital, as restrições existentes na dedução dos prejuízos fiscais acumulados.Presidente executivo da CGD
Invocou o exemplo da ponte das Honduras, que foi feita sobre um rio que entretanto mudou de curso deixando a ponte a cruzar uma zona sem água, para defender a ideia de que a realidade é "mais fugaz e imprevisível", o que obriga "a mudar sempre que necessário" e "tentando prever para que lado o rio vai mudar o seu curso, tentamos pensar e construir a estrada certa e sobretudo tentamos na Caixa Geral de Depósitos ter esteios, em lugares de maior certeza, num mundo mais incerto, tentemos pois pensar e agir, sermos atores e autores de um país mais rico mas também necessariamente mais justo".
"O permanente desafio do futuro"
Paulo Macedo defende o poder transformador do pensamento, porque só pode ser consequente fazendo escolhas e agindo.
Um dos temas do Encontro Fora da Caixa foi "No princípio era o pensamento", uma conversa entre o músico e compositor Pedro Abrunhosa e o escritor Gonçalo M. Tavares, o que permitiu a Paulo Macedo uma reflexão sobre o pensamento. Recordou o filme de Wim Wenders, "As Asas do Desejo", em que os anjos que pairam sobre Berlim têm capacidade de ouvir o que os Homens pensam, circulam e ouvem o silêncio, sem que ninguém se dê conta e perguntou-se se "o pensamento poderia ser lido".
Personagens do universo de ficção policial "diziam que sim, que pelo menos se podia prever a lógica do pensamento. Num conto de Agatha Christie, Poirot consegue adivinhar que o seu amigo Hastings está a pensar a partir de uma conversa tida minutos antes, o detetive segue uma lógica de raciocínios encadeados como todos nós fazemos durante uma meditação".
O conto de Jorge Luís Borges, "Funes, O Memorioso", em que Funes "é capaz de tudo acumular e de tudo recordar, suspeitava, contudo Borges, que Funes não fosse capaz de pensar. Pensar é esquecer as diferenças, é valorizar e abstrair, e naquele mundo de acumulação não havia espaço para tais detalhes".
Solidão da decisão
"O nosso pensamento é transformador e tem capacidade transformadora, é único em cada um de nós, e não pode ser lido por anjos ou por detetives perspicazes, é silencioso, pessoal e nesse sentido secreto. Não é também uma mera acumulação de memórias, recordações ou de dados".
Levou a reflexão para a sua vida profissional e considerou que a um "economista ou gestor não é apenas possível somar números, citar números, recolher informações, dar dados, se depois não decidir, não sugerir caminhos. Há um momento em que temos, de facto, de tomar caminhos, pensar, decidir, meditar e, obviamente, agir".
Acrescentou que "na solidão dos processos de decisão acumulam-se experiências, memórias, sensações e sobretudo fazem-se escolhas. Sabem como os portugueses têm dificuldade em fazer escolhas". Num poema do Robert Frost lê-se: "Duas estradas separaram-se num bosque e eu segui a menos percorrida, e isso fez toda a diferença", é isto que nos move ao longo do caminho, a escolha e o estímulo da sua incerteza, o permanente desafio do futuro."
A recuperação económica e o pensamento Encontro Fora da Caixa é uma organização da Caixa Geral de Depósitos que tem percorrido o país de norte a sul. Contando com quase quatro dezenas de eventos, são conversas sobre temas atuais dos mais diversos, que promovem uma maior interação com os seus clientes, com o meio empresarial e com as comunidades. No passado dia 18 de setembro, realizou-se o "Encontro Fora da Caixa - Caminho da Recuperação" no Grande Auditório da Fundação Caixa Geral de Depósitos - Culturgest, em Lisboa. Do programa constava o discurso de abertura de Paulo Macedo, presidente da comissão executiva da Caixa Geral de Depósitos, a conversa de Pedro Abrunhosa e Gonçalo M. Tavares, escritor e professor universitário, com o título "No princípio era o pensamento", uma intervenção de Emílio Rui Vilar, presidente da Caixa Geral de Depósitos, e uma entrevista a António Costa Silva, coordenador do Programa de Recuperação Económico-Social 2020-2030, conduzida por André Veríssimo, diretor do Jornal de Negócios, sobre a visão estratégica nacional de recuperação económica.