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Pedro Abrunhosa recorreu à "Montanha Mágica", de Thomas Mann, para dizer que a humanidade se impôs à doença, porque se um vírus ataca um morcego e este não o mata, que um homem o mate define o Homem. Depois citou "Uma Viagem à Índia", de Gonçalo M. Tavares, para ler um excerto: "Estamos rodeados de elementos que não nos percebem e que nós não percebemos, elementos incultos mas fortes, incultos mas mais velhos que nós, incultos mas mais resistentes que nós, mas como cansar o terramoto, como acelerar o fim do tufão, como travar uma tempestade, onde começa a natureza a excitar-se e para onde vai quando se acalma, que papel temos nós no meio."
O urgente e o importante
"A questão do princípio era a doença, é que as pessoas só percebem que vão morrer quando estão muito doentes, e isto é uma tontearia porque não precisamos de ficar muito doentes para perceber que vamos morrer. Normalmente quando a pessoa está doente, e mais próxima da morte, muda de vida. Mas nós precisamos de estar muito doentes para mudar de vida?"
"No princípio era a doença" é a necessidade de não precisar de estar doente para perceber que é se finito e que se tem de mudar de vida já. Nesse sentido, coloca o selo da urgência no importante. Há uma grande distinção entre coisas urgentes e coisas importantes. As coisas urgentes são as que temos de resolver já.
As coisas importantes são aquelas que são marcantes para um país, para uma pessoa, para uma empresa. O Vergílio Ferreira falava muito disso. O urgente raramente é o importante. Qual é o problema disto? O problema é que se a pessoa não tiver cuidado pode passar a vida a resolver urgências e a adiar o importante.
A doença coletiva como crise, esta é uma doença e de repente há um coletivo que está a sentir que pode morrer, ou pelo menos ficar moribundo, e o regresso de uma crise, de uma doença deve ser - "deixa-me dar dois passos atrás e pensar que não é mais do que dar dois passos atrás, ter uma perspetiva mais ampla e perceber o que é importante", disse Gonçalo M. Tavares.
Pensar é simplificar
"Pensar também é simplificar, há pessoas que pensam complicando. Há uma divisão clássica que os estoicos nos ensinaram: o que depende de mim e o que não depende de mim. É uma coisa muito simples que eu uso muito na minha prática diária", afirmou Gonçalo M. Tavares.
Acrescentou que "as coletividades, as empresas, os indivíduos, têm uma energia finita, tal como a nossa vida é finita. Por exemplo, acordamos hoje e temos uma energia, mas não é ilimitada. Podemos gastar esta energia no que depende de nós ou no que não depende de nós. Pensar excessivamente sobre o passado, que é claramente algo em que não posso mexer, e, muitas vezes, gastamos uma quantidade enorme de energia no próprio dia ou numa escala maior, em coisas que não dependem de nós. Quando gastamos energia assim é energia que não gastamos em coisas que dependem de nós."
A relva e o carvalho
Em "The Life of Brian", dos Monty Python, quando Brian é preso, os companheiros reúnem-se para escolher quem vai falar com os romanos, mas metade da discussão é sobre uma coisa redundante que é quem vai escrever a ata", contou Pedro Abrunhosa, a propósito da afirmação de Gonçalo M. Tavares que em muitas reuniões se perde o centro da discussão.
Para Gonçalo M. Tavares, "a grande forma geométrica do pensamento é a circunferência, que tem uma característica muito bonita que é ter um centro. Gosto da etimologia e sempre que alguém quer refletir tem de começar pelas palavras. A palavra concentrado quer dizer com um centro. Quando me dizem que estão concentrados em três ou quatro projetos, digo que etimologicamente não é possível, porque concentrado é com um centro. Na circunferência, o centro é o importante. Numa reunião, numa conversa, também. Se soubermos qual é o centro, simplifica-se porque, depois, pensar é andar à volta", pensou alto Gonçalo M. Tavares.
Sobre a distinção entre profundidade e superficialidade, Gonçalo M. Tavares firma que "quando se fala de um autor profundo, uma pessoa profunda ou superficial o que é? Basicamente tem a ver com matéria. O que é ser superficial? É passar por muita superfície, é alguém que ocupa muito espaço, muito metro quadrado, muito terreno. O que é ser profundo? É uma pessoa estar num metro quadrado e começar a escavar, é uma coisa muito física". Mas acrescentou que "só faz sentido eu escavar se houver um centro porque senão escava-se no acessório. Encontre o centro e depois está resolvido, andando em circunferência vou escavando, não sempre ao mesmo nível, a cada volta desce-se um nível sendo cada vez mais profundo. Pensar é isto".
Pedro Abrunhosa recorreu a uma metáfora botânica para referir que "superficial é a relva, profundo é o carvalho que ocupa menos espaço à superfície e mais em profundidade".
O urgente e o importante
"A questão do princípio era a doença, é que as pessoas só percebem que vão morrer quando estão muito doentes, e isto é uma tontearia porque não precisamos de ficar muito doentes para perceber que vamos morrer. Normalmente quando a pessoa está doente, e mais próxima da morte, muda de vida. Mas nós precisamos de estar muito doentes para mudar de vida?"
"No princípio era a doença" é a necessidade de não precisar de estar doente para perceber que é se finito e que se tem de mudar de vida já. Nesse sentido, coloca o selo da urgência no importante. Há uma grande distinção entre coisas urgentes e coisas importantes. As coisas urgentes são as que temos de resolver já.
As coisas importantes são aquelas que são marcantes para um país, para uma pessoa, para uma empresa. O Vergílio Ferreira falava muito disso. O urgente raramente é o importante. Qual é o problema disto? O problema é que se a pessoa não tiver cuidado pode passar a vida a resolver urgências e a adiar o importante.
Pensar também é simplificar e há pessoas que pensam complicando Gonçalo M. Tavares
A grande questão é de mudança de vida e a doença é importante nisso, mas não precisaria de ser importante. Temos de saber bem o que é importante tanto na grande como na pequena escala, depois pegar no selo urgente e pôr no importante. O importante tem de ser o urgente, o importante só não é urgente para os imortais, para os eternos, mas eu ainda não conheci nenhum embora esteja muito próxima da crença. Mas todos nós somos finitos, mesmo as coletividades são finitas e, portanto, têm de rapidamente pôr o selo da urgência no importante.A doença coletiva como crise, esta é uma doença e de repente há um coletivo que está a sentir que pode morrer, ou pelo menos ficar moribundo, e o regresso de uma crise, de uma doença deve ser - "deixa-me dar dois passos atrás e pensar que não é mais do que dar dois passos atrás, ter uma perspetiva mais ampla e perceber o que é importante", disse Gonçalo M. Tavares.
Pensar é simplificar
"Pensar também é simplificar, há pessoas que pensam complicando. Há uma divisão clássica que os estoicos nos ensinaram: o que depende de mim e o que não depende de mim. É uma coisa muito simples que eu uso muito na minha prática diária", afirmou Gonçalo M. Tavares.
Acrescentou que "as coletividades, as empresas, os indivíduos, têm uma energia finita, tal como a nossa vida é finita. Por exemplo, acordamos hoje e temos uma energia, mas não é ilimitada. Podemos gastar esta energia no que depende de nós ou no que não depende de nós. Pensar excessivamente sobre o passado, que é claramente algo em que não posso mexer, e, muitas vezes, gastamos uma quantidade enorme de energia no próprio dia ou numa escala maior, em coisas que não dependem de nós. Quando gastamos energia assim é energia que não gastamos em coisas que dependem de nós."
A relva e o carvalho
Em "The Life of Brian", dos Monty Python, quando Brian é preso, os companheiros reúnem-se para escolher quem vai falar com os romanos, mas metade da discussão é sobre uma coisa redundante que é quem vai escrever a ata", contou Pedro Abrunhosa, a propósito da afirmação de Gonçalo M. Tavares que em muitas reuniões se perde o centro da discussão.
Para Gonçalo M. Tavares, "a grande forma geométrica do pensamento é a circunferência, que tem uma característica muito bonita que é ter um centro. Gosto da etimologia e sempre que alguém quer refletir tem de começar pelas palavras. A palavra concentrado quer dizer com um centro. Quando me dizem que estão concentrados em três ou quatro projetos, digo que etimologicamente não é possível, porque concentrado é com um centro. Na circunferência, o centro é o importante. Numa reunião, numa conversa, também. Se soubermos qual é o centro, simplifica-se porque, depois, pensar é andar à volta", pensou alto Gonçalo M. Tavares.
Sobre a distinção entre profundidade e superficialidade, Gonçalo M. Tavares firma que "quando se fala de um autor profundo, uma pessoa profunda ou superficial o que é? Basicamente tem a ver com matéria. O que é ser superficial? É passar por muita superfície, é alguém que ocupa muito espaço, muito metro quadrado, muito terreno. O que é ser profundo? É uma pessoa estar num metro quadrado e começar a escavar, é uma coisa muito física". Mas acrescentou que "só faz sentido eu escavar se houver um centro porque senão escava-se no acessório. Encontre o centro e depois está resolvido, andando em circunferência vou escavando, não sempre ao mesmo nível, a cada volta desce-se um nível sendo cada vez mais profundo. Pensar é isto".
Pedro Abrunhosa recorreu a uma metáfora botânica para referir que "superficial é a relva, profundo é o carvalho que ocupa menos espaço à superfície e mais em profundidade".