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"Portugal deve voar abaixo do radar", alerta Maria Luís Albuquerque

Maria Luís Albuquerque comparou a economia portuguesa a uma "dieta yo-yo", com constantes avanços e recuos que prejudicam o país a longo prazo. A antiga ministra esteve presente na entrega de prémios Máxima Mulher de Negócios.

Liliana Borges LilianaBorges@negocios.pt 18 de Fevereiro de 2016 às 00:40
Miguel Baltazar/Negócios
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Em Portugal, o tema da igualdade de género ainda tem um longo caminho a percorrer. A análise é de Maria Luís Albuquerque, antiga ministra das Finanças, presente na conferência e entrega de prémios Máxima Mulher de Negócios 2015, uma iniciativa que ocorreu esta quarta-feira, 17 de Fevereiro, no Palácio do Governador, em Lisboa.

A antiga ministra reflectiu sobre os desafios da gestão em tempos de incerteza, o tema que centrou o debate da conferência e afirmou-se "pouco optimista". "Há muitas opções que estão a ser erradas e que vão sair caras aos portugueses a troco de algo que não vai ser possível conseguir", considera. Maria Luís Albuquerque quis ainda "alertar as pessoas para que não há soluções fáceis para problemas difíceis, não há milagres imediatos".

Recordando a sua experiência enquanto ministra das Finanças do anterior Governo, "o outro, o que durou até Novembro", a economista escolheu "a incerteza e insegurança" para definir o momento de tomada de posse, em Junho de 2011. Sem se referir directamente ao Orçamento do Estado de 2016, a antiga ministra condenou algumas das escolhas feitas pelo actual Executivo, avisando que "quanto mais vezes se perde a confiança, mais difícil é recuperar". Uma confiança que, à semelhança de algumas instituições, designadamente a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional, Maria Luís Albuquerque não tem.

"Se começamos logo por traçar um caminho que, por parte daqueles a que se destina e de quem nos observa, não parece coerente, a possibilidade de sucesso é muitíssimo reduzida. Para não dizer nula", considerou, realçando que "os custos dessa perda são demasiado pesados para todos".

A antecessora de Mário Centeno pediu que em tempos de incerteza não se tenham "objectivos de muito curto prazo" uma vez que "pode deitar tudo a perder a longo prazo". "Não podemos esperar do nosso país que venham situações mais fáceis, mas sim desafiantes", alertou. Por isso, a antiga ministra defende um "posicionamento mais adequado", voando "abaixo do radar", recomendando descrição e "bom senso, elemento central de qualquer liderança", para que "não nos tornemos um alvo às preocupações dos outros".

cotacao Enquanto país, temos de conseguir manter o rumo durante tempo suficiente para corrigir os problemas que vêm detrás. Maria Luís Albuquerque Antiga ministra das Finanças


Não obstante, a economista elogiou a capacidade de Portugal "fazer coisas extraordinárias sob pressão", para logo de seguida acrescentar que a durabilidade dessa capacidade dura pouco tempo. "Andamos para a frente e andamos para trás. Isto é muito cansativo. Cada recuo retira mais do que o avanço e cada recomeço é mais difícil do que o anterior", avisa. Os portugueses sentem que fizeram tantos sacrifícios e se agora os têm de fazer novamente é porque não serviram para nada, comenta.

"Temos de conseguir manter o rumo durante tempo suficiente para corrigir os problemas que vêm detrás sobre pena de ser mais difícil do que aquilo que é necessário", disse, comparando o funcionamento da economia portuguesa a uma "dieta yo-yo". Maria Luís Albuquerque sublinhou a necessidade de constância e de traçar um "caminho de responsabilidade maior de quem assume funções que influenciam outros" e de "quem tem uma responsabilidade particular na tomada de decisões".


Maria Luís Albuquerque concluiu a sua intervenção descartando uma relação forçosa entre géneros e sucesso, sublinhando sim a eficiência de equipas mistas e notando que "não há hoje nenhuma mulher no Eurogrupo".