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Finanças sustentáveis: "Projetos terão um escrutínio ESG na sua aprovação", diz Isabel Ucha

“Os projetos necessários para atingir os objetivos de carbono zero em 2050 precisam de muito mais investimento do que aquele que os governos vão conseguir mobilizar”, refere Isabel Ucha, presidente do júri da categoria Finanças Sustentáveis.

20 de Julho de 2021 às 11:50
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O grande desafio das próximas duas décadas é a transformação de um modelo industrial e de transporte assente em energias poluentes para tecnologias e energias limpas, respeitando a biodiversidade, e num modelo inclusivo que permita uma transição justa para todos. Para Isabel Ucha, "esta transformação exigirá uma grande determinação política, a mobilização do setor empresarial para a mudança e enormes volumes de capital para investimento."

Quais os grandes desafios que se colocam em termos de sustentabilidade, nomeadamente nas finanças sustentáveis?
Os países que se comprometeram com o objetivo de carbono zero em 2050 já representam 70% do PIB mundial. Este número evidencia um grande progresso, no compromisso político de atingir os objetivos do Acordo de Paris.

No entanto, e globalmente, apenas 10% do esforço de investimento necessário para esta transição foi realizado. O que significa que estamos ainda no início deste caminho com o qual muitos já se comprometeram.

O que está a ser feito a nível nacional no âmbito desta categoria Finanças Sustentáveis?
Portugal tem-se empenhado na agenda europeia das finanças sustentáveis, quer na gestão do projeto durante a presidência portuguesa no primeiro semestre de 2021, quer no âmbito da reflexão que os bancos centrais estão a realizar e no plano de ação que estão a construir para o sistema bancário.

Nesta matéria, na qual a Europa está a liderar globalmente, é muito importante que Portugal se vá alinhando com as iniciativas europeias, seja nos temas da transparência e reporte dos emitentes, nos standards para os produtos sustentáveis, na taxonomia ou na informação ESG (ambiental, social e governance) dos produtos financeiros. A abordagem designadamente da CMVM, entidade muito atenta a esta temática, tem sido precisamente nesse sentido.

Por seu turno, a Euronext tem vindo a apoiar as empresas emitentes, designadamente através de um guia de reporte de informação sobre a sustentabilidade, e de serviços mais especializados e à medida. Temos vindo a criar índices de sustentabilidade, que já integram empresas portuguesas, e oferecemos uma oferta completa de Obrigações ESG, que permitem financiar projetos e empresas, focados em investimentos com benefícios ambientais e sociais.

Os três programas comunitários para esta década – o PRR, o PT2030 e o INvestEU 21-27 – estão marcados pelas agendas digitais e de sustentabilidade. Qual pode ser o impacto destes instrumentos na economia, nas empresas, na sociedade, e quais são as oportunidades em termos de finanças sustentáveis?
Entre os diversos programas comunitários, Portugal terá acesso a cerca de 60 mil milhões euros de apoios nos próximos 10 anos, que deverá ser atribuído em boa parte sob a forma de subvenções. Se tivermos como referência que o PIB português em 2020 terá atingido cerca de 200 mil milhões de euros, esse apoio é bastante relevante.

É intenção da União Europeia que mais de um terço das verbas a distribuir nos próximos anos seja dirigido para a transição energética e proteção ambiental, e também para uma transição justa (pilar social), mas na realidade poderá ser uma parte mais elevada, pois na prática todos os projetos terão um escrutínio ESG na sua aprovação.

Os próximos 10 anos serão então de grande oportunidade para as empresas e para as administrações públicas, mas os projetos necessários para atingir os objetivos de carbono zero em 2050 precisam de muito mais investimento do que aquele que os governos vão conseguir mobilizar. Nesse sentido, há uma oportunidade para o desenvolvimento das finanças sustentáveis.

As empresas precisam de capital e os investidores querem, cada vez mais, ter a certeza de que estão a aplicar as suas poupanças na sustentabilidade futura do planeta. 

Quem é? Isabel Ucha é presidente do júri da categoria Finanças Sustentáveis. Preside à Euronext Lisbon, na qual está desde 2007. Licenciada em Economia pela Universidade Católica, possui um mestrado em Economia da Universidade Nova, e um Master Degree in Finance da London Business School.


Sustentabilidade Económica

Categoria Finanças Sustentáveis
Serão aceites nesta categoria iniciativas, serviços ou produtos que abranjam serviços ou produtos financeiros que compreendam critérios de sustentabilidade nas suas características e critérios de elegibilidade, e que tenham como objetivo contribuir para o crescimento e desenvolvimento económico sustentável, em prol do ambiente e da comunidade. Serão também aceites candidaturas que promovam inovações do ponto de vista financeiro.

2020
• Vencedores – Obrigações Verdes (Green Bonds), da EDP
• Menção Honrosa – Green Bonds, do Grupo Pestana e Contratos de eficiência hídrica com remuneração por desempenho, da Indaqua