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Filipe Santos: “A luta pelo talento é muito grande”

Existe um novo paradigma, em que o capital deixou de ser escasso e se tornou abundante e em que a localização perdeu importância, o fator-chave é o talento. Os salários estão também a ser puxados pela procura de competências.

18 de Janeiro de 2022 às 14:00
Filipe Santos, diretor da Católica Lisbon School of Business and Economics, diz que a competitividade passa pelas cidades. Mariline Alves
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"Houve nos últimos 30 anos uma transformação brutal e dramática do paradigma económico. Passou-se de uma economia física assente em produção de produtos físicos com mão de obra relativamente massificada, com algum grau de especialização, para uma economia profundamente digital baseada em serviços e inteligência. E, se há um produto, é de uma forte integração tecnológica. " A análise é de Filipe Santos diretor da Católica Lisbon School of Business and Economics, na conferência "Inovação, IDE e Smart Cities", organizada pelo Negócios em parceria com a Cellnex.

Neste novo paradigma, em que o capital deixou de ser escasso e se tornou abundante e em que a localização perdeu importância, o fator-chave é o talento. Para Filipe Santos, "as pessoas não fazem ideia hoje da guerra de talentos a nível mundial, sobretudo tecnológico, na área da computação". "Há empresas que começam a pagar o curso inteiro ao aluno porque sabem que o vão contratar passados quatro ou cinco anos. A luta pelo talento é muito grande", conclui.

No seu entender, o talento "quer estar numa cidade e por isso é que se fala hoje da smart city, ou cidade inteligente, com um contexto urbano de vivência que possa atrair o talento, reter as empresas e ter elementos de sustentabilidade e qualidade de vida". "Quando se olha para a competitividade, dantes era o país e agora começa a ser o aglomerado urbano numa cidade e as condições que ela pode ou não criar", defende.

Multinacionais estão a aproveitar "gap"

Rogério Colaço, presidente do Instituto Superior Técnico, adverte que "a valorização do conhecimento e a fixação do talento não são variáveis independentes". "São fortemente interdependentes, porque um país que tem capacidade de formar talento altamente qualificado e com capacidade de desenvolvimento e de criação de valor económico, mas que não tem meios de valorizar o conhecimento criado, o resultado é que o talento formado emigra".

Filipe Santos concorda que houve um "gap" em Portugal entre produção de talento e a capacidade de o absorver nas empresas. E explica que, como esse "gap estava desfasado da economia mundial, onde o talento é muito escasso, fez com que as multinacionais viessem para Portugal absorver o talento através dos centros de competências".

"Tendo em conta o investimento que estamos a fazer em inovação e a necessidade de cada vez mais sermos uma empresa de tecnologia do que de seguros, isso significa que as necessidades de talento são significativas. Estamos a sentir a pressão sobre os talentos e os salários da mesma maneira que todas as empresas em Portugal", alerta Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade no mesmo debate.

O desafio do upskilling

O gestor da Fidelidade considera que há uma "pool" de talento no país na qual temos de apostar. A falta de talentos implica olhar para o envelhecimento da população e para recursos híper qualificados, no entanto, também "é preciso apostar nos que não são jovens, mas numa reciclagem acelerada de pessoas que existem na força de trabalho e para fazer face aos desafios da tecnologia e da inovação vão precisar de um upskilling muito forte".

A pressão sobre os salários é transversal, como confirma Nuno Carvalhosa, CEO da Cellnex Portugal. "Temos sentido um fenómeno recente em que começa a haver uma pressão inflacionista relevante sobre o custo de mão de obra. No grupo Cellnex, temos várias pessoas em Portugal que já foram convidadas para outras empresas do grupo em outros países", afirmou o gestor, disse Nuno Carvalhosa. frisando que "a fiscalidade, do ponto de vista do indivíduo, não é o fator número um de atração e retenção de talento".