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Emídio Sousa: "O Norte é o verdadeiro motor de Portugal"

Para Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, se o PIB de Portugal fosse igual ao de Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira ou São João da Madeira, "seria idêntico ao da Suíça".

10 de Outubro de 2018 às 15:50
Jorge Sequeira, presidente da Cãmara Municipal de São João da Madeira, João Ferreira, jornalista da CMTV e Emídio Sousa, presidente da Câmara de Santa Maria da Feira. Hugo Monteiro
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No início de 2013 a taxa de desemprego era de 15,1% e actualmente é de 4,5%. "A melhor medida social que posso ter no meu concelho é o emprego e para isso preciso de empresários competentes e capazes", diz Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

"A minha estratégia foi compreender as necessidades das empresas e procurar dar resposta com a máxima liberdade. Entendo que não nos devemos meter na vida das empresas, mas estar disponíveis para os ouvir e encontrar as soluções", afirmou Emídio Sousa.

Criou um serviço de atendimento imediato. "Qualquer empresa que queira investir ou tenha um problema reúne comigo no prazo de 24 horas", refere Emídio Sousa. "Proximidade e rapidez por que estas são fundamentais nos negócios".

O debate

Sob o mote das Regiões Mais Fortes, iniciativa do Jornal de Negócios, Correio da Manhã e  Santander Advance Empresas, o tema abordado nas Conversas Soltas em São João da Madeira, foi Indústrias do Calçado e da Cortiça. O debate foi moderado pelo jornalista João Ferreira, da CMTV. Participaram Nuno Trigo, director comercial de empresas do Santander, Jorge Vultos Sequeira, presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira, Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Isabel Allegro, CEO da Cork Supply, Joaquim Lima, director-geral da APCOR, Leandro Melo, director geral do Centro Tecnológico da APICCAPS, Eduardo Costa, director do Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado.


A génese da industrialização foi clandestina e muitos dos grandes negócios do concelho "começaram numa garagem ou numa cave", relembra. Havia um "problema gravíssimo de licenciamento industrial e de legalização de instalações". Além disso, a indústria mistura-se com a habitação. Foi criada a Via Verde Empresas para facilitar a legalização do tecido industrial. "Hoje a indústria clandestina é residual, porque houve isenção de taxas".

Este processo de legalização foi importante porque permitiu que as empresas, com licença de utilização, acedessem a "financiamentos, a fundos comunitários, a garantias". "Perderam-se receitas directas mas há as indirecta e o objectivo não é só ter receitas, mas ter emprego e melhores condições de vida para as pessoas", salientou Emídio Sousa.

Governo terrível

A Câmara também criou uma oferta de terrenos para indústrias através de parques industriais, com 52 zonas industriais e com mil hectares. As empresas foram incentivadas a trocar as zonas urbanas pelas áreas industriais. Também houve uma aposta na internacionalização mesmo para empresas com dez ou doze trabalhadores, através de "conversas, mentalização", salientou Emídio Sousa.

"Uma notícia dizia que durante a crise económica o desemprego atingiu sobretudo o Norte. Claro, é no Norte que está a competitividade, porque em Lisboa estão os funcionários públicos", ironizou Emídio Sousa. Estes empresários lutam no mercado global, são mais afectados pelas crises internacionais.

Para Emídio Sousa, "o governo central é terrível para as empresas em termos fiscais, destrói empresas e muitas fecharam por causa da pressão da Autoridade Tributária". Se os governos têm apoiado a inovação, em termos de formação profissional, "não temos capacidade de influenciar as escolhas educativas".

Estes sectores já estão a sofrer com a falta de mão-de-obra e precisam de atrair e fixar jovens. "Os percursos profissionais desenhados pela escola tende a conduzir os jovens para cursos que Lisboa aprova", refere Emídio Sousa, que se diz adepto da descentralização educativa.

Santa Maria da Feira

• População residente 139.173
• População em idade activa (%) 15 aos 64 anos - 69%
• Empresas não financeiras 15.050
• Pessoal ao serviço 46.933
• Volume de negócios (milhões euros) 3 678
• VN das quatro maiores empresas - 14,8%
• Bancos e caixas económicas 49
Fonte: Pordata e INE 2015-2016


A insatisfação faz parte do bom empresário

São João da Madeira desenvolveu, ao longo das últimas décadas, uma política de apoio ao sector do calçado, facilitando a instalação na cidade de duas instituições estratégicas, como são o Centro Tecnológico e o Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado.

"São dois pilares muito importantes na qualificação dos empresários, dos trabalhadores e do próprio produto", salientou Jorge Vultos Sequeira, presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira. "São instituições sólidas e que desenvolvem um trabalho muito avançado em termos tecnológicos".

O papel da Câmara Municipal tem sido criar na cidade condições para o empreendedorismo e a inovação. Há dez anos fez-se a implantação de um parque de ciência e tecnologia, o Sanjotec, que tem hoje uma comunidade de 93 empresas em que se incluem start-ups e empresas com um grau de maturidade, e que tem gerado vários spin-offs.

"Um dos edifícios esta totalmente ocupado e o outro está com uma taxa de ocupação de 90%", referiu Jorge Vultos Sequeira. Este espaço permite que as empresas cooperem, troquem experiências, informação, tecnologia, e podem interagir com o centro tecnológico de calçado. Existem empresas de calçado que promovem novos meios de produção, de comercialização e de expansão do produto.

No apoio à inovação e ao empreendedorismo também se criou o Oliva Creative Factory, que tem uma taxa de ocupação elevada e onde estão a crescer, a aprender e a desenvolver-se empresas de sectores tradicionais como o calçado. "Mas são empresas que desenvolvem novos métodos de criação e comercialização dos seus produtos. Uma experiência concreta é a produção de sapatos a partir de feltro", diz Jorge Vultos Sequeira.

Políticas públicas estáveis

"Um empresário satisfeito é um empresário morto, portanto a insatisfação faz parte do espírito de irreverência e de crescimento e de rotura dos empresários", filosofa Jorge Vultos Sequeira. Há políticas públicas que têm vindo a ser desenvolvidas nos últimos anos de apoio à indústria "como o programa FOOTure 4.0, que tem um envelope de 50 milhões de euros para a modernização da indústria do calçado, e que foi lançado em São João da Madeira com a presença do primeiro-ministro, António Costa ".

"Há estabilidade em algumas políticas governamentais". Deu como exemplo o facto de os centroc de formação e tecnológico funcionarem há muitos anos com o apoio do Governo, dos poderes públicos, tendo acesso a linhas de financiamento. "Como comunidade temo-nos sabido organizar, não existe improviso, há uma visão estratégica e isso reflecte-se nos números da exportação de calçado", resume Jorge Sequeira.

São João da Madeira

• População residente 21.455
• População em idade activa (%) 15 aos 64 anos - 68,7%
• Empresas não financeiras - 2.969
• Pessoal ao serviço - 13.865
• Volume de negócios (milhões euros) - 1218
• VN das quatro maiores empresas - 34,1%
• Bancos e caixas económicas - 22
Fonte: Pordata e INE 2015-2016


Santander é o banco líder

O calçado e a cortiça representam muito para os concelhos de São João da Madeira e de Santa Maria da Feira, referiu Nuno Trigo, director comercial de empresas do Santander. Estes dois sectores são tradicionais, muito exportadores e criadores de emprego, em que "a banca tem um papel fundamental". Adiantou que a importância da banca não se cinge ao financiamento, mas tem de ser global. "É parceira, está próxima, é uma facilitadora dos projectos e das ideias de investimento que as empresas têm".

Nos últimos anos, a concentração do sistema financeiro, que no caso do Santander se consubstanciou, em Portugal, na aquisição dos activos do Banif e Banco Popular Portugal, teve um impacto significativo na região. "O Santander passou a ser nestes dois sectores o primeiro banco das empresas, o que nos dá uma responsabilidade acrescida, mas é também um desafio para o qual o banco tem capacidade e está preparado", referiu Nuno Trigo.

O Santander, como banco líder na região, "tem assumido essa responsabilidade de apoiar as empresas, de estar próximo, de compreender quais são as necessidades". "É habitual dizer na banca que não falta liquidez e que há dinheiro para emprestar, o que falta é bons projectos. Isto é um chavão", assinalou Nuno Trigo. Sublinhou que nestes dois sectores não faltam bons projectos e que está grande transformação, sobretudo por causa da digitalização, que "se tem tornado preponderante". Existem projectos de criação de novas instalações, de investimento em equipamentos, na digitalização, na internacionalização e exportação.

Para Nuno Trigo, o banco facilita, mas não se substitui às empresas. O Santander, para os sectores mais virados para a exportação, "tem algumas mais-valias, nomeadamente com a sua presença e a sua marca globais, porque estamos na maior parte dos mercados para os quais empresas exportam ou se internacionaliza".

"Um cliente que vá para fora com o Santander beneficia com estas sinergias", salientou Nuno Trigo. "Há quatro anos atrás, já em contraciclo, abrimos uma direcção de empresas no norte do distrito de Aveiro e que procura estar próxima dos clientes para detectar as suas necessidades e dar o maior apoio possível", referiu Nuno Trigo.
Nuno Trigo é director comercial de empresas do Santander.
Nuno Trigo é director comercial de empresas do Santander. Hugo Monteiro
A educação e a formação são estratégicas

O tema da educação e da formação é um dos temas que mais preocupa estes sectores. Para Nuno Trigo, director comercial de empresas do Santander, são preocupações que estão respondidas "pelo Santander que tem na educação e na formação um dos seus vectores estratégicos". "O que faz com que o Santander esteja à frente nas soluções não financeiras", garantiu Nuno Trigo. Passa pela formação com a subsidiação de estágios nas empresas, com "colaborador a estar três meses num empresa e esse custo é efectuado pelo Santander", como explicou Nuno Trigo. Existem também os cursos online e presenciais em escolas de formação de Gestão em Lisboa e no Porto

A banca também está a passar por desafiossemelhantes aos do calçado e da cortiça, e que é a digitalização, por exemplo. Por isso, "temos de ser mais do que simples financiadores, ainda que a base do negócio bancário seja aforrar e depois emprestar bem às empresas para gerar valor, mas há muito mais do que isso", refere Nuno Trigo.

O Santander tem, por exemplo, o Santander trade, que é uma plataforma criada há alguns anos, e que apoias as empresas não só nas exportações mas também nas estratégias de internacionalização. Às vezes não é mensurável no quotidiano, mas uma empresa de calçado ou de cortiça que queria conquistar novos mercados, normalmente, sente-se desacompanhada, é quase "como uma nau nos Descobrimentos para mares nunca dantes navegados", por isso precisa de apoio, considera Nuno Trigo

"O Santander trade tem um Clube Santander em que um cliente Itália, França ou Brasil que quer comprar sapatos e temos um cliente que produz sapatos. Tentamos ser um facilitador, apoiamos as empresas, e não é só o financiamento que é importante, é a alavancagem do negócio, em que somos concorrenciais, e a criação de parceria . Mas é mais fácil ser parceiro quando se já está dentro das empresas e se tem uma relação e um conhecimento mútuo", refere Nuno Trigo.

O Santander Networking tem a ver com o apoio a uma empresa que se quer internacionalizar, abrir portas, e precisa de quem o apoie nessas tarefas.