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Como a cortiça venceu a batalha da sobrevivência

Estes últimos 20 anos foram de crise grave a que se seguiu a reconquista de rentabilidade e crescimento. Nos últimos três anos foram batidos recordes nas exportações e, em 2018, o objectivo é alcançar a meta mítica de mil milhões de euros em exportações.

10 de Outubro de 2018 às 15:45
"O processo de inovação não tem fim, é contínuo e constante", diz Joaquim Lima, director-geral da APCOR. Hugo Monteiro
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Na viragem do milénio surgem os primeiros sinais de crise no sub-sector rolheiro, o principal segmento de mercado, que representa 70% do volume de negócios do sector. "O mercado mundial de vedantes começa preferir soluções alternativas à rolha de cortiça, como os vedantes plásticos e os vedantes metálicos", afirmou Joaquim Lima, director-geral da APCOR. Associavam os vedantes de cortiça aos problemas que surgiam nos vinhos, como o TCA (tricloroanisole), "o gosto a rolha", e que era o "grande papão deste período".

Isabel Allegro, CEO da Supply Cork, defende que no início "a indústria ignorou os problemas e, de repente, houve uma mudança e uma reacção, com as empresas a preocuparem-se com a qualidade do produto e com as suas práticas". Adianta que "nós só tínhamos uma alternativa. Ou mudávamos e continuávamos ou mantínhamos a forma de estar no mercado e hoje não existíamos. Iríamos desaparecer porque o ataque da rolha sintética e metálica foi muito violenta, perdemos vendas de biliões de rolhas", refere Isabel Allegro.

Uma nova atitude

"Nesta altura o mercado da cortiça compreende que está com problemas sérios", refere Joaquim Lima. O sector sentiu que precisava de repensar a sua estratégia e as empresas começam a colocar em causa o modus operandi, o saber fazer, as práticas, as tecnologias. "Tudo é questionado". Instala-se um novo roteiro industrial em que "se desautorizam as práticas anteriores como verdades absolutas, dogmas", diz Joaquim Lima.

Estudou-se o sobreiro, a cortiça, os produtos, como a rolha de cortiça, e "com os sinais do mercado e as críticas sérias percebemos as fragilidades".

A indústria fez um processo de profunda mudança. Foi criado um código de boas práticas rolheiras e um sistema de acreditação das empresas que trabalhassem mediante estas práticas e que é feita por empresa independente, idónea, com experiência de auditoria. "O código das boas práticas rolheiras ajudou muito à melhoria de todo o sector, tal como a exigência dos clientes", confirma Isabel Allegro. Este pelo Código Internacional de Prática Rolheiras (CIPR) ajuda a combater o TCA.


7%
crescimento
No primeiro semestre de 2018 as vendas externas de cortiça cresceram a um bom ritmo


As empresas passaram a relacionar-se com os mercados mas como uma verdade diferente, de compromisso com a qualidade dos produtos, sustentada cientificamente e com práticas e acreditações. As empresas abrem-se ao exterior e mostram como funcionam internamente.

Nos vedantes sintéticos deu-se um decréscimo de utilização mas no screw cap (metálico) continua a crescer no mercado, "mas a indústria da cortiça está mais sólida". Na opinião de Isabel Allegro, "há uma mudança de rolha natural (rolha de cortiça natural) para rolha técnica (rolha com 60 a 70% de granulado de cortiça, cola, microesferas), com o mercado da rolha natural não está estabilizado mas o da rolha técnica está com um crescimento grande", refere Isabel Allegro. Explica que as rolhas técnicas são mais baratas e adequam-se a vinhos de consumo rápido e ajudam a combates os outros vedantes. 

Os números da cortiça

Cortiça
 670 empresas de produção
 9 mil trabalhadores
 47,17% são microempresas
 40 milhões de rolhas por dia produzidas
 70% das exportações são de rolhas de cortiça
 133 países é o mercado de exportação da cortiça.
 95 dos 100 vinhos mais vendidos na China usam rolhas de cortiça.
 Corticeira Amorim vale mais de metade das exportações.

Objectivo 2018
 Mais de Mil milhões de euros em exportações
 Em 2017, o sector da cortiça exportou 986,3 milhões de euros, mais 5,4% face ao ano anterior. Em relação ao volume de exportações, 2017 registou também uma subida na ordem dos 7%, atingindo 197 mil toneladas.