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A formação e a falta de mão-de-obra

Estas são duas preocupações transversais a estes dois sectores, pois estão relacionadas com a crescente dificuldade em encontrar pessoas qualificadas para trabalhar.

10 de Outubro de 2018 às 15:05
Eduardo Costa é o director do Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado. Hugo Monteiro
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"A formação tem de ter uma componente científica e tecnológica muito importante sob pena de a formação não servir para nada", salientou Eduardo Costa, director do Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado. A formação, no caso deste centro, sofre de duas situações que são desfavoráveis que são a taxa de desemprego óptima, que origina que não haja grande disponibilidade de formandos para frequentar a formação. "Mas é um problema bom", reforça Eduardo Costa. O menos positivo resulta da dessintonia entre dois ministérios da Educação e do Trabalho. "Não se entendem, nem se querem entender, e é uma atitude transversal a governos".

O centro de formação está em frente a uma escola. "Já propus que as disciplinas de formação geral, como o português e a matemática, entre outras, fossem assumidas pela escola, e ficávamos com a parte tecnológica. A questão é quem paga o professor, embora me pareça uma coisa de lana caprina porque o dinheiro vem todo do mesmo saco". É uma questão se coloca há muito anos, mas "não tenho poder para a resolver, só posso reflectir sobre ela".

O ensino obrigatório é até ao 12º ano ou 18 anos, mas o "ensino é escolástico e as pessoas saem sem nenhuma qualificação profissional", diz Eduardo Costa. E quando saem querem ganhar dinheiro e são poucos o que querem investir mais a fundo numa formação profissional, que pode durar três anos.

Problemas demográficos

Existem escolas com alunos e um ensino pouco profissionalizante, e centros de formação profissional sem alunos, "porque os jovens estão nas escolas, porque estas não os deixam sair", argumenta Eduardo Costa.

"A melhor preparação para um indivíduo que entra para uma universidade técnica é fazer um curso profissional. Se quero ser engenheiro não vou só aprender matemática, física, química e não ter um contacto com a realidade . Não posso entrar numa universidade sem conhecimentos nenhuns de mecânica, ou electricidade", defende Eduardo Costa. Acrescenta que "a nossa indústria beneficia ainda das antigas escolas comerciais e industriais, e muitas das competência da indústria do calçado, já tem mais de 50 anos e não estamos a transmitir esse saber".

"Estamos com muita dificuldade em arranjar pessoas qualificadas para trabalhar, o que é muito preocupante e crítico, porque não qualificadas ainda vai havendo,", Isabel Allegro, CEO da Cork Supply. "Quando falamos com os empresários há uma queixa contante que é a falta de mão-de-obra. O que está na base é a questão de demográfica. Nós como comunidade, há um problema de organização e de articulação, por uma questão de oferta de enino profissional que tem de ser resolvida", acentua Jorge Sequeira, presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira.

As previsões para os próximos quarenta anos, se nada for feito, perdem-se 3 milhões de habitantes em Portugal e fica um dos mais velhos do Mundo. Estas questões reflectem-se na estrutura produtiva nacional, no dimensionamento da rede escolar e na despesa ao nível dos cuidados de saúde.