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Vender 15% do mercado bancário português a um grupo chinês, depois de ter vendido a empresas da China um terço do mercado segurador, a maior empresa de electricidade e a gestora das redes energéticas, "é demais". O desabafo foi feito por Fernando Ulrich, presidente do BPI, na conferência "Os Caminhos do Crescimento" do Negócios. Na mesma manhã, Pedro Passos Coelho respondeu: "Não há modelo de crescimento sem capital externo. Venha de onde vier".
"Faz-me muita impressão que haja tanto investimento chinês em sectores estratégicos da economia. Choca-me", revelou o banqueiro em resposta a uma questão sobre o interesse chinês no Novo Banco, mas sublinhando não falar deste caso. "Ser um porta-aviões chinês da Europa e para a Europa não é o destino que eu mais goste em Portugal".
Primeiro-ministro
Sem referir explicitamente Angola ou a Guiné Equatorial, Ulrich criticou ainda o facto de se levantarem problemas ao investimento oriundo destes países africanos. "Leio no Financial Times que o presidente da Fosun [um dos candidatos chineses ao Novo Banco] é um membro do comité central do partido comunista chinês e não vejo problemas sobre pessoas politicamente expostas. Mas quando falamos de países mais pequenos, já não são transparentes. Choca-me!".
Para o primeiro-ministro a origem do capital não é problema. "Não há modelo de crescimento sem atracção de capital externo. Não sei se ele vem da China, se vem da Alemanha, se vem da França, se vem de Itália, se vem dos Estados Unidos. Venha de onde vier, é bem-vindo. Precisamos, como de pão para a boca, de capital externo que amplie as possibilidades de financiamento, que traga transferência de tecnologia e acrescente valor ao processo produtivo", defendeu Passos Coelho.
Presidente do Banco BPI
Capital precisa-se
Independentemente da nacionalidade do dinheiro, há um diagnóstico que merece o consenso. "Temos um problema de capital, um problema sério que o programa de ajustamento não resolveu", assumiu o primeiro-ministro, que, nesse ponto, acabou por concordar com António Costa. O secretário-geral do PS, momentos antes, tinha falado de uma medida em concreto: a necessidade de um programa de capitalização das empresas que pode passar pelo tratamento fiscal para o investimento de sócios, pela criação de um fundo público alimentado designadamente por fundos comunitários e pelos mercados.
A falta de capitalização das empresas não é diagnóstico novo. Carlos Rodrigues, presidente do Banco BIG, lembrou que quando iniciou a sua actividade na banca, em 1984, apareceu-lhe um cliente a pedir financiamento para os 30% que faltava para um projecto. Já tinha os outros 70% de outros bancos. E, acrescentou o banqueiro, "essa descapitalização continua a manter-se, e os bancos são reflexos do que é a economia". Aproveitou para deixar a crítica de que as empresas não distribuam os lucros todos quando os gerem. "Se tiver bom resultado, quero pagar dividendos, mas não distribuo nem um terço", assegurou, acrescentando que a falta de capitalização das empresas é, também ela, "uma falha de gestão".