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Ricardo Tomaz: "O veículo eléctrico é uma necessidade para as marcas"

Ricardo Tomaz considera que "o impulso à mobilidade eléctrica exige um choque cultural e os poderes públicos têm grande responsabilidade neste aspecto"

29 de Março de 2017 às 10:27
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Ricardo Tomaz é director de marketing da Volkswagen e director de Comunicação da SIVA, importador das marcas do Grupo VW. Diz que "o veículo do futuro será autónomo e eléctrico" e que terá impacto na mobilidade e em muitos sectores de actividade. Acrescenta que "grande parte dos sistemas actuais de ajuda à condução já permite níveis de autonomia limitados nos carros que conduzimos hoje. Mas existem questões complexas, de ordem jurídica, e até ética, que estão a atrasar a sua introdução no mercado". Licenciado em Economia pela Nova School of Business and Economics, está no sector automóvel desde 1989.

O sector dos transportes, de pessoas e mercadorias, é responsável por um terço das emissões poluentes em todo o mundo. Qual é o ponto de situação da mobilidade eléctrica em Portugal?
Em 2021, as emissões de CO2 dos novos automóveis registados na UE não poderão exceder (em média) 95 gramas por km. Ou seja, um veículo a gasóleo, por exemplo, não poderá ultrapassar um consumo médio de cerca de 3,6 litros aos 100 km, o que é um desafio do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico dos tradicionais motores de combustão interna. Isso representa uma redução de perto de 27%.

O Grupo Volkswagen, por exemplo, atingiu em 2015 o seu objectivo "auto-imposto" de 120 gramas de Co2/km, e tem já 87 modelos/versões abaixo do limite dos 95 gramas. Mas o caminho a percorrer ainda é enorme.

Neste quadro legislativo, o veículo eléctrico é, em primeiro lugar, uma necessidade para as marcas automóveis. O mercado da mobilidade eléctrica tem sido impulsionado pelo lado da oferta. Cada vez mais marcas propõem híbridos "plug-in" ou veículos 100% eléctricos nas suas gamas, mas as vendas totais continuam a ser residuais em Portugal: menos de 1% do mercado total em 2016, com cerca de 1800 veículos vendidos. É provável que esse número ultrapasse os 3000 em 2017, dos quais mais de 1000 veículos totalmente eléctricos.

Em termos de tecnologia do automóvel eléctrico quais são as principais expectativas? Quando é que este automóvel terá a performance dos convencionais? O automóvel sem condutor também pertence a esta onda de inovação e de sustentabilidade?
Existem várias questões em torno do veículo elétrico: vida útil, preço, fiabilidade, segurança e autonomia. Grande parte destas interrogações está ligada às baterias. O consumidor interessado neste tipo de veículos debate-se hoje com preços elevados por um lado, e com limitações de autonomia por outro. O custo actual de produção do KWh (a medida da capacidade de uma bateria), que deverá rondar os 200 euros, tem vindo a baixar e vai cair drasticamente nos próximos anos com o evoluir da tecnologia dos iões de lítio. Isso permitirá "motores mais potentes" (uma terminologia pouco adequada neste caso), com uma autonomia alargada.

O novo Volkswagen e-Golf, por exemplo, vê a sua capacidade de energia aumentada de 24 para 36 KWh face à anterior versão, o que lhe permite 300 km de autonomia máxima contra 200 km do anterior. E acelera dos 0 aos 100km/h em 9,6 segundos. Existe um preconceito de que um veículo eléctrico é maçador de conduzir. Se puser lado a lado um Golf eléctrico e um Golf GTI de 230 cv, o primeiro bate o segundo na aceleração dos 0 aos 60 km/h. E em silêncio…

Mas o mercado propõe hoje conceitos tecnológicos intermédios muito válidos a médio prazo, como os híbridos "plug-in", que combinam o melhor de dois mundos. Com autonomia porque combinam um motor de combustão interna com um motor eléctrico, e muito eficientes em termos de emissões em ciclo urbano. Para além disso, criam o mecanismo do carregamento numa tomada e essa prática é essencial na transição para o "todo eléctrico".

As vendas totais continuam a ser residuais em Portugal: menos de 1% do mercado total em 2016, com cerca de 1800 veículos vendidos.

Quais são os incentivos que existem para os carros eléctricos e acha que são suficientes? Como é que caracteriza as políticas públicas em relação à mobilidade eléctrica e aos automóveis?
O impulso à mobilidade eléctrica exige um choque cultural e os poderes públicos têm grande responsabilidade neste aspecto. Na Noruega, no quadro de discriminação positiva a que os veículos eléctricos foram aí submetidos resultou na maior taxa per capita de carros eléctricos no Mundo: mais de 50%. E anunciou que vai banir as vendas de veículos com motores tradicionais a partir de 2025.

As medidas de incentivo à procura em Portugal têm vindo a ser ajustadas nos últimos anos. Um veículo 100% eléctrico não paga Imposto sobre Veículos nem Imposto de circulação. No caso das empresas, estas estão isentas de Tributação Autónoma e deduzem o IVA, o que é muito positivo.

O Governo manteve para além disso, em 2017, um incentivo à compra dos primeiros 1000 veículos elétricos, no valor unitário de 2250 euros. Os próprios híbridos "plug.in" beneficiam também de medidas fiscais, as quais no caso das empresas têm bastante relevância e impacto no custo total de utilização.

A aposta deste Governo nos postos de carregamento rápido, os corredores eléctricos, em conjunto com os principais operadores do mercado, vai no sentido de criar condições à mais fácil circulação dos veículos eléctricos. Com melhores infra-estruturas e veículos com maior autonomia, o mercado só pode desenvolver-se.

As nossas cidades já estão a dar passos no sentido de se tornarem smart cities?
As cidades têm que se reorganizar no sentido da maior sustentabilidade. O assunto não é só relativo aos transportes - que representam cerca de 25% das fontes de poluição na UE. A pressão da população sobre os recursos disponíveis é tão alarmante como as emissões de CO2.

Há poucas questões nos nossos dias que sejam tão debatidas em fóruns, conferências, debates, como as smart cities. A mobilidade e o papel do automóvel nas cidades do futuro fazem parte integrante desse debate.


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