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Almeida Henriques: "Smart cities" precisam de apoios

Os municípios querem desenvolver soluções inteligentes, mas o Portugal 2020 não contempla apoios. Almeida Henriques da ANMP diz que o Governo tem o poder de libertar fundos para as cidades portuguesas ficarem mais inteligentes.

André Cabrita-Mendes andremendes@negocios.pt 30 de Março de 2017 às 12:53
Bruno Simão
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As cidades portuguesas estão a recorrer cada vez mais a soluções tecnológicas para reduzirem custos e melhorarem a vida dos seus cidadãos, diz António Almeida Henriques que lidera a secção de cidades inteligentes da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP). O também autarca de Viseu defende mais fundos para tornar as cidades portuguesas mais inteligentes.

Os municípios estão a procurar cada vez mais soluções inteligentes para as suas cidades?
A secção das cidades inteligentes na ANMP foi criada na sequência da RENER, a rede que foi criada para a mobilidade eléctrica. Essa rede chegou a ter cerca de 40 municípios, e hoje temos 124. A secção das Smart Cities é a maior da ANMP. E o que são "smart cities"? É eficácia na gestão com redução de custos para os municípios. E melhoria da qualidade de vida dos nossos cidadãos, e também melhoria dos serviços prestados. Esse é o grande desafio.

Em termos práticos, o que é que as autarquias podem fazer para as suas cidades se tornarem inteligentes?
O cidadão é exigente, e nós temos de prestar um serviço de qualidade, mas os nossos orçamentos não são elásticos. Desta forma, é preciso usar a tecnologia para poder diminuir o custo. Um exemplo: a eficiência energética. Todos os municípios têm uma factura muito pesada com a iluminação pública, há uma necessidade de reduzir o preço da factura da electricidade no final do ano. Como? Com aquisição de lâmpadas LED e sensores. A água é outro domínio. Os utentes querem poupar água, e nós queremos racionalizar porque é um bem escasso. Podemos assim instalar contadores inteligentes e usar sistemas eficientes de gestão da água. Já no lixo, é possível introduzir "chips" nos contentores para a recolha ser mais eficaz. O "chip" mede a quantidade de lixo e os camiões fazem uma recolha direccionada.

E existem fundos europeus para as "smart cities"?
Do meu ponto de vista esse é um "handicap". Eu diria que é hoje um calcanhar de Aquiles. Porque o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), o único instrumento que temos de apoio às cidades, é muito parco na definição deste tipo de actividades. No PEDU podemos colocar alguma tecnologia para o desenvolvimento da mobilidade, mas faltam-nos outras dinâmicas.

"Falta de apoios para 'smart cities' é um calcanhar de Aquiles."

"Na reprogramação do Portugal 2020 deve-se dar mais enfoque às 'smart cities'."

O que é que pode ser feito para aumentar os apoios às cidades neste âmbito?
Uma das sugestões que a ANMP dá é que, em sede de reprogramação do Portugal 2020, se dê mais enfoque a esta lógica integrada da cidade, incluindo o financiamento à tecnologia, porque esta é uma boa oportunidade.

E esta reprogramação do Portugal 2020 tem lugar junto do Governo ou junto de Bruxelas?
Há aqui componentes que o Governo tem a possibilidade de fazer. Basta fazer ali algumas alterações nos próprios avisos e dar mais enfoque. Imagine que se faz uma actualização do programa, ou um PEDU 2. Como há possibilidade de transitar verbas de uma rubrica para outra pode privilegiar-se estas questões de dinâmicas nas cidades que conduzam a uma melhor mobilidade, melhor iluminação, melhor sistema de recolha de lixo, melhor sistema de limpeza.

Pode-se resolver a questão dos apoios recorrendo simplesmente ao Governo?
Exactamente. Na extensão dos fundos comunitários, a visão que tenho, até pela minha experiência, é que é possível criar estas dinâmicas muito rapidamente, sem necessidade de recorrer a Bruxelas.

Actualmente existem 124 municípios na secção de Smart Cities da ANMP. Este número vai crescer?
No final do próximo mandato autárquico, daqui a quatro anos e meio, penso que provavelmente vão estar todos os 308 municípios envolvidos. Há aqui denominadores comuns: a mobilidade, a água, o lixo, a eficiência energética. São aspectos comuns a todos os municípios.

Tome nota

Cidades inteligentes avançam em Portugal

O conceito Inovcity foi lançado em Évora em 2010 integrando redes de energia, microprodução, contadores inteligentes e mobilidade. Mas outras cidades estão a fazer o seu próprio caminho. As 10 cidades mais inteligentes são: Porto, Águeda, Cascais, Bragança, Guimarães, Matosinhos, Braga, Sintra, Aveiro e Santarém, segundo o Smart City Index 2016.

Iluminação pública mais eficiente
A factura com a iluminação da via pública é uma factura pesada nas contas das autarquias nacionais. Para reduzir o custo com a iluminação das ruas, a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) assinou um protocolo com a EDP para substituir as lâmpadas antigas por tecnologia LED, lâmpadas de nova geração que são mais eficientes. Os municípios portugueses poderão dentro de uma década reduzir em 50% os custos actuais por ano com a iluminação pública.

Viseu mais inteligente
Na cidade de Viseu existem vários projectos inteligentes a serem desenvolvidos, segundo o autarca António Almeida Henriques . "Na área da eficiência energética temos um projecto que prevê poupar um milhão de euros no espaço de quatro anos, em colocação de lâmpadas LED e sensores. E na água temos também em curso um projecto em que instalámos 1.054 contadores inteligentes numa freguesia rural para as pessoas fazerem um consumo inteligente de água, os contadores permitem até identificar se existe um consumo anormal". A autarquia também pretende adquirir autocarros eléctricos e a gás natural.

Menos quilómetros para recolher lixo
A agência municipal Cascais Ambiente lançou um programa de gestão inteligente de resíduos: o "smart waste management". Este programa consistiu na implementação de sensores de enchimento nos contentores de resíduos, para fazer uma melhor gestão da recolha, tornando-a mais eficiente. Os custos diminuíram 13% entre 2012 e 2015 O investimento inicial de 500 mil euros permitiu ganhos financeiros de 2,3 milhões de euros. Este sistema impediu que os camiões de recolha percorressem desnecessariamente 3,5 milhões de quilómetros durante três anos.



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