As empresas em Portugal estão bastante sensibilizadas para o tema da sustentabilidade e reconhecem a sua importância. Segundo o estudo do Observatório dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, 95% das grandes empresas e 77,7% das PME encaram a sustentabilidade como uma oportunidade estratégica. “A sustentabilidade é um desafio e uma necessidade imperiosa. As empresas devem agir no sentido de concretizar planos e projetos alinhados com uma visão estratégica sustentável”, afirma Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI.
O Observatório é um projeto de investigação do Center for Responsible Business & Leadership na Católica-Lisbon e visa monitorizar e acelerar a implementação da Agenda 2030 das Nações Unidas em Portugal através do acompanhamento de um grupo de 60 grandes empresas e 100 PME. O primeiro relatório do Observatório foi apresentado em outubro de 2022 e o segundo está previsto para outubro deste ano.
Sustentabilidade traz vantagens
Para o presidente do IAPMEI, “a sustentabilidade também traz vantagens económicas para as empresas”. “Ao adotarem práticas de gestão ambiental e eficiência energética, podem reduzir custos operacionais, otimizar o uso de recursos e melhorar a eficiência dos processos produtivos. Além disso, a busca por soluções inovadoras e sustentáveis pode abrir novos mercados e atrair consumidores cada vez mais conscientes, que valorizam produtos e serviços com menor impacto ambiental. Dessa forma, investir na sustentabilidade aumenta a competitividade das empresas a longo prazo”, explica.
No entanto, e segundo o estudo da Católica, existe uma grande disparidade entre grandes empresas e PME em relação ao tema da sustentabilidade. Enquanto 76,7% das grandes empresas têm um elevado conhecimento dos ODS, apenas 52,3% da PME indica ter um nível de conhecimento similar. Ou seja, “enquanto as primeiras se encontram, na generalidade, preparadas e sensibilizadas para a necessidade de incorporar a sustentabilidade no core dos seus negócios, as PME estão ainda num momento muito inicial, quer de conhecimento, quer de incorporação dos ODS e da sustentabilidade nos seus negócios”, observa Nuno Moreira da Cruz, diretor executivo do Centro.
Inovação e sustentabilidade de braço dado
Esta perceção é suportada pela experiência de Tiago Leandro, CEO da EGITRON, vencedor da categoria “Inovação PME” no Prémio Nacional de Inovação: “Foram dados passos relevantes nos últimos anos, mas ainda há caminho por fazer. Acreditamos que a inovação e a sustentabilidade andam de braço dado e que temas como a reciclagem, a reincorporação de materiais na cadeia do processo produtivo, a economia circular e a captação de carbono são temas com perspetivas de desenvolvimento no médio prazo”. Também para Carlos Rabadão, presidente do Instituto Politécnico de Leiria, região onde existe um fortíssimo tecido empresarial de PME “ainda existe um grande caminho a percorrer, mas que deverá ser acelerado através das agendas mobilizadoras que se encontram a ser implementadas no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência – em Portugal”.
No mesmo sentido e alinhada com os resultados do estudo, Margarita Carvalho, coordenadora do MBA para Gestores de PME na Universidade Portucalense afirma que “a adoção de práticas ESG encontra-se ainda numa fase prelimina”. E acrescenta: “Por um lado, muitas das empresas não possuem uma estrutura organizativa e recursos humanos, técnicos e financeiros que lhes permitam delinear uma estratégia neste âmbito e, em muitos casos, reformular modelos de negócio. Por outro lado, não existe a real perceção do potencial valor, sobretudo num contexto em que, para muitas empresas, não existe uma obrigatoriedade.”
Também o responsável pelo estudo da Católica observa que “apesar de, na generalidade, as empresas reconhecerem a importância destas agendas de sustentabilidade, ainda estão muito aquém dos níveis de implementação onde gostariam de estar”. “A falta de recursos suficientes para trabalhar o tema nas empresas (humanos essencialmente) é um fator que contribui para esta realidade”, conta.
Já há bons exemplos
No entanto, para João Veloso, vice-reitor da Universidade de Aveiro, “assiste-se também a boas práticas por parte das PME, com o objetivo de contribuírem para o processo de descarbonização, quer através da incorporação de medidas para eficiência energética e produção de energia com recurso a renováveis, quer através da adoção de políticas de sustentabilidade baseadas em recursos endógenos, circularidade e reciclagem”. Para Luis Guerreiro, presidente do IAPMEI, é muito claro o caminho: “A sustentabilidade é uma oportunidade para a inovação, para a criação de novos produtos e modelos de negócio e para um novo mercado de empregos mais verdes.”
“Ainda existe um grande caminho a percorrer, mas que deverá ser acelerado através das agendas mobilizadoras que se encontram a ser implementadas no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência – em Portugal.”
Carlos Rabadão presidente do Instituto Politécnico de Leiria
“A busca por soluções inovadoras e sustentáveis pode abrir novos mercados e atrair consumidores cada vez mais conscientes, que valorizam produtos e serviços com menor impacto ambiental.”
Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI.