O IAPMEI Agência para a Competitividade e Inovação, I. P. posiciona-se como um interlocutor de proximidade das empresas, disponibilizando informação e acompanhamento técnico, identificando necessidades e contribuindo para construir soluções em todo o ciclo de vida das empresas. Falámos com Luis Guerreiro, presidente desta agência, sobre os desafios que as PME enfrentam em Portugal.
Qual o "retrato" que o IAPMEI faz das PME portuguesas em 2023?
As nossas PME têm revelado uma boa capacidade de resposta aos desafios que enfrentam. São flexíveis, resilientes e muito criativas nas soluções que apresentam como resposta a esses mesmos desafios. Têm demonstrado uma tendência de evolução no sentido de valorizar estratégias competitivas que enquadram o essencial dos desafios atuais. E vemos cada vez mais PME a apostar na flexibilidade de produtos, serviços e processos, na diferenciação ao nível do design e da qualidade, no desenvolvimento colaborativo, procurando um posicionamento na cadeia de valor cada vez mais baseado na capacidade de desenvolvimento, no estabelecimento de parcerias e na inovação com apoio externo.
Noto, a título de exemplo, que concluímos há dias o processo de atribuição do Estatuto PME Líder 2022 e registámos com satisfação que 10.239 PME atingiram os critérios de solidez financeira. É um resultado significativo e será insistindo neste percurso e, seguramente, também através da maior atenção à informação, ao conhecimento, às qualificações e às boas práticas que as estratégias de sucesso das nossas PME, em matéria de reforço da competitividade, terão maior e melhor concretização no futuro.
Na vossa opinião, quais são os principais desafios que se colocam às PME nacionais em 2023?
As empresas que definem estratégias inovadoras, focadas no reforço da sua competitividade e na sua capacidade de criar valor, sabem que dispor de recursos humanos devidamente qualificados é, cada vez mais, um fator crítico para o seu sucesso. Neste contexto, a aposta na capacitação é vital e deverá ser sempre um processo contínuo, sistematicamente alinhado com os objetivos estratégicos das empresas e com as suas áreas de desenvolvimento.
Vale a pena destacar o efeito do acelerado processo de transformação digital no negócio das PME. Verifica-se já um impacto grande na criação e desenvolvimento de empresas que disponibilizam novas soluções ao mercado mas, também, significativas repercussões em setores que são tomadores e utilizadores desses desenvolvimentos tecnológicos. Esta nova realidade vai exigir uma alteração dos perfis das qualificações de muitas das atuais funções e trabalhadores.
A continuação na aposta em projetos de autossuficiência energética pela adoção de energias limpas é também um desafio que as PME têm pela frente. A crise energética provocada pela guerra na Ucrânia veio provar que aquelas empresas que já tinham abraçado a transição energética e a descarbonização ultrapassaram de uma melhor forma o ano de 2022 e estão mais bem preparadas hoje para enfrentar novas situações de crise.
A envolver tudo o que disse temos a questão da sustentabilidade. Diante dos desafios socioambientais que enfrentamos, as empresas têm uma responsabilidade crucial na construção de um futuro sustentável. A adoção de práticas sustentáveis não apenas contribui para a preservação do meio ambiente e para a melhoria da qualidade de vida dos seus trabalhadores e da sociedade em geral, mas também traz benefícios económicos, fortalecendo a reputação das empresas. Portanto, é fundamental que as empresas compreendam a importância de apostar na sustentabilidade e tomem medidas concretas para a integrar nas suas operações e estratégias de negócio. Somente dessa forma poderemos garantir um futuro próspero e equilibrado para as gerações presentes e futuras.
Quais os setores mais fortes e os que estão mais expostos?
O setor industrial enfrenta agora enormes desafios. Está em curso um processo de adaptação, reconfiguração e transformação de impactos muito significativos. Esta transformação tem, porém, repercussões em todos os setores de atividade. É importante que as empresas, de todos os setores, encarem os desafios e constrangimentos do presente como uma oportunidade real para mudar e para fazer melhor, com melhores resultados. Ou seja, estamos em tempo de mudança. A aposta em novas tecnologias como a Inteligência Artificial, a Internet of Things, a robotização, a utilização de novos materiais recicláveis, aumentando assim a economia circular, são fatores que robustecem as empresas, sejam quais forem os setores.
No IAPMEI estamos a trabalhar para mobilizar as empresas para que aproveitem esta oportunidade de impactar positivamente o nosso presente e futuro e de protagonizar uma mudança real no modelo produtivo, que salvaguarde o futuro de todos sem perda de competitividade.
A tendência é para aumentar o peso das PME no tecido empresarial em Portugal?
As PME já representam 99,9% do nosso tecido empresarial. Não se trata de aumentar o número de micro, pequenas e médias empresas. O que desejamos são empresas sólidas, com crescimento mais sustentado, que se posicionem de forma competitiva, que contribuam de forma positiva para a economia do país, mas também para o desenvolvimento sustentável dos territórios onde se encontram, para o bem-estar das populações e para a coesão social.
As PME nacionais têm capacidade concorrencial face às internacionais? Acreditam que 2023 será um ano de aposta (novamente) na internacionalização das PME nacionais?
É importante dizer que uma parte significativa dos empresários portugueses responsáveis por PME soube valorizar estratégias de internacionalização, respondendo, em parte, à forte contração verificada no mercado nacional no período da crise financeira que se viveu recentemente. Esta circunstância, aliada à tendência imposta pela tecnologia e pelos mercados, terá conduzido muitas empresas portuguesas a um rápido ajustamento das suas opções estratégicas e a investirem fortemente na abordagem a novos mercados internacionais ou no reforço em mercados onde já tinham presenças, ainda que menos significativas.
Os dados da evolução verificada nas exportações portuguesas são expressivos. Em vinte anos, o peso das exportações no PIB aumentou de 27,1% (1997) para 43,1% (2017), sendo que em 2007 representava 31,1%. E, de acordo com os últimos dados disponíveis, já em 2022 o crescimento das exportações foi constante, registando um aumento de 33,9 % face ao ano de 2021. Estes resultados revelam-se importantes para o crescimento verificado na economia portuguesa e põem em evidência um acréscimo da capacidade competitiva das empresas portuguesas no mercado global, demonstrando que continuam a ocorrer ganhos de quota nos mercados externos.
Claro que exportar não é o mesmo que internacionalizar, mas é um passo importante nesse percurso. Será bom que as empresas exportem mais, mas precisamos também de muitas mais empresas a exportar, com maior valor acrescentado e a apostar em marca própria de forma sustentada.
Quais os produtos e serviços de que o IAPMEI dispõe neste momento para apoiar as PME? E quais os principais incentivos às PME? São suficientes, sobretudo para as pequenas empresas?
As empresas podem encontrar no IAPMEI um interlocutor de proximidade, que disponibiliza informação, assistência técnica e acompanhamento, que identifica necessidades e contribui para construir soluções e que trabalha numa vasta rede de parcerias para atingir esses objetivos, em todo o ciclo de vida das empresas.
Todas as empresas, empresários e empreendedores podem contactar o IAPMEI através da nossa rede de centros de atendimento, ou através da Linha Azul que disponibilizamos, e obter toda a informação e assistência, no que respeita a financiamento e incentivos, mas também em matéria de capacitação ou na identificação dos interlocutores ou meios adequados para o seu projeto, seja ele de criação, de desenvolvimento ou de requalificação da empresa.
No âmbito da capacitação, por exemplo, a Academia PME do IAPMEI disponibiliza inúmeras ações que dão resposta às necessidades e prioridades formativas das empresas e dissemina conteúdo formativo também em suportes digitais, simples e acessíveis, por exemplo, no nosso canal YouTube.
Disponibilizamos mecanismos de autodiagnóstico financeiro, de alerta precoce e de maturidade digital. Gostaria também aqui de destacar a nossa última iniciativa de promoção e divulgação de informação através de uma aplicação móvel, disponível nas lojas da Apple e Android, através da qual se pode aceder a toda a informação disponibilizada pelo IAPMEI e sempre com conteúdos novos. Para descarregar basta procurar por App do Empreendedor.
Entretanto, estão já lançados os primeiros concursos PT 2030, focados em inovação produtiva, para os quais chamamos a atenção das empresas, e o IAPMEI gere ainda e acompanha as medidas C5, C11 e C16 do Plano de Recuperação e Resiliência, medidas de apoio específicas como o Apoiar Gás e o Programa Transformar Comércio, bem como um conjunto de instrumentos de financiamento que inclui linhas de crédito, garantia mútua e capital de risco.
Trabalhamos em permanência para disponibilizar às empresas meios e ferramentas que promovam a inovação, o empreendedorismo, o reforço das competências, a literacia financeira e digital, na abordagem ao redimensionamento empresarial, à cooperação como estratégia de abordagem dos mercados e de inserção nas redes internacionais, à descarbonização e à circularidade e à transição digital.