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Crescimento nas exportações

No ano em que o peso das exportações no PIB atingiu os 50%, o número de empresas exportadoras aumentou 5%. PME enfrentam desafios específicos, com a falta de qualificações à cabeça.

27 de Julho de 2023 às 17:50
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Em 2022, as exportações portuguesas de bens e serviços apresentaram, pelo segundo ano consecutivo, a maior contribuição para o crescimento económico português. Segundo os dados divulgados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, com um valor total de exportação de 119,8 mil milhões de euros (81,3 mil milhões de euros em bens e 38,5 mil milhões em serviços), a componente das exportações atingiu um peso no PIB de 50 por cento (33,9 por cento em bens e 16,1 por cento em serviços). Estes resultados representam uma subida de 8,4 pontos percentuais face a 2021.


Neste contexto, e de acordo o Retrato das Exportadoras Portuguesas divulgado pela Informa D&B este mês, mais de 38 mil empresas portuguesas são exportadoras, um número que representa um crescimento de 11% face a 2017. O estudo regista um salto muito significativo de 2020 para 2021, em que o número de exportadoras aumentou mais de 5%, depois de um abrandamento entre 2019 e 2020 devido à pandemia de covid-19. “A vocação exportadora está fortemente ligada à dimensão das empresas. Entre as grandes empresas, 58% são exportadoras e, embora esta percentagem corresponda apenas a 483 empresas, elas são responsáveis por mais de metade do total das exportações nacionais (55%). As 6 650 PME exportadoras representam 37% das exportações. Entre as microempresas, as 31 075 exportadoras correspondem apenas a 9% deste segmento de empresas, correspondendo a cerca de 8% das exportações”, de acordo com o estudo.



Maior aposta nos mercados internacionais

Na análise de Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, “setores como a metalomecânica, o têxtil e o calçado, mobiliário, TIC, alimentar e agroindústria, pedras e mármores, vinhos, e naturalmente o Turismo (entre outros) contribuíram, e muito, para que as exportações portuguesas tivessem a prestação que se refletiu ao longo do ano passado, com números recorde nunca conseguidos anteriormente”. Para o futuro, “e tendo em conta esta tendência positiva, a previsão de uma maior contração da procura interna e o facto de os incentivos financeiros à internacionalização (que não estão disponíveis desde 2020 e que se prevê que abram muito em breve) serem instrumentos fundamentais para dar músculo às estratégias de crescimento da atividade internacional das empresas, é natural que se assista a um reforço da aposta das empresas portuguesas nesta vertente durante este ano”, explica Bernardo Maciel.


Porém, nota Luís Coelho, subdiretor da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, “a realidades das PME é bastante heterogénea”. No que toca à internacionalização, “a realidade é ainda mais complexa”. “Em particular, são muitas as PME que não têm qualquer interesse em internacionalizar-se, enquanto outras trabalham quase exclusivamente com o mercado externo. Depois, há aquelas que estão algures no meio, i.e., não estão internacionalizadas, mas têm, claramente, essa vontade. Para estas, os desafios são consideráveis e de natureza variada”. Neste contexto, refere Luís Coelho, “há a destacar a falta de conhecimento sobre os mercados alvo, algo que muitas vezes levanta problemas com a logística e o marketing. Há, também, a questão do cumprimento de todas as regras legais (e fiscais), o que está sempre presente quando se fala de internacionalização”.



Competição pede qualificação

Neste contexto, a falta de qualificações representa um problema fundamental para este segmento do tecido empresarial. “A capacitação de profissionais com competências relevantes, nomeadamente ao nível das tecnologias, da inovação, empreendedorismo, e da gestão financeira e estratégica, assim como o estabelecimento de parcerias que permitam ganhos de escala, são elementos cada vez mais importantes numa sociedade que se apresenta também ela cada vez mais competitiva e sem fronteiras”, afirma Carlos Rabadão, presidente do Instituto Politécnico de Leiria.


Também Margarita Carvalho, coordenadora do MBA de Gestão de PME da Universidade Portucalense, refere que “será importante reforçar as competências ao nível da gestão, dotando os gestores de capacidade de liderança, de inovação e de capacidade de tomada de decisão em contextos de rápidas (e complexas) mudanças”. Complexidade que se acentua quando “as empresas atuam a nível global ou que estão focadas nesse desiderato”.


Para Margarita Carvalho “é sabido que a internacionalização é um elemento fulcral para a competitividade das PME e que potencia a sua sustentabilidade de longo prazo, permitindo-lhes reduzir a sua dependência do mercado doméstico”. Contudo o processo de internacionalização “não é de todo um processo simples e exige recursos financeiros e humanos de que muitas PME não dispõem”. Neste contexto, é importante “uma definição clara das medidas a aplicar a estas empresas, mas sobretudo garantir que as medidas possam ser aplicáveis à realidade empresarial, com empresas cuja dimensão condiciona, à partida, o seu processo de internacionalização”, defende a responsável.





“A realidade das PME é bastante heterogénea. No que toca à internacionalização, a realidade é ainda mais complexa.”


Luis Coelho, subdiretor da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve


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