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Um mercado com grande resiliência

Elétricos reagem melhor à crise pandémica.

24 de Fevereiro de 2021 às 11:54
Henrique Sánchez, presidente do conselho diretivo da UVE
Henrique Sánchez, presidente do conselho diretivo da UVE
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O ano que passou foi muito difícil. A produção à comercialização de veículos automóveis foi bastante afetada pela pandemia e Henrique Sánchez, presidente do conselho diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, fala inclusive de "ano catastrófico para a indústria automóvel tradicional, que no conjunto dos veículos com motores de combustão interna – gasolina e gasóleo – registou uma queda nas suas vendas de 40,6%, tendo caído em onze dos doze meses do ano".

 

Já as vendas dos veículos elétricos em Portugal em 2020 mostraram uma "grande resiliência" tendo finalizado o ano com "um crescimento de 55,3%" Só houve quedas em abril e maio, fruto do primeiro confinamento, registando subidas nos restantes dez meses e encerrando o ano com "um fantástico crescimento de 135,7% no mês de dezembro". "A quota de mercado dos automóveis ligeiros de passageiros elétricos, considerando os veículos 100% elétricos (BEV) e os veículos elétricos híbridos plug-in (PHEV), cifrou-se, em dezembro, nos 22,5% tendo a quota anual atingido uns excelentes 13,6%", explica Henrique Sánchez.

 

Apesar de todas as vicissitudes que estamos a passar, o responsável da UVE encontra-se otimista no que diz respeito ao mercado dos veículos de baixas emissões para este ano de 2021. Quer no nosso país, quer na Europa. E aponta os principais impulsionadores de um ano que perspetiva muito positivo:

 

Medidas restritivas em relação às emissões de CO2 que implicarão pesadas multas a serem atribuídas aos fabricantes que ultrapassem a média de emissões de 95g de CO2/km;

 

Diversas restrições à circulação de veículos com motores de combustão interna, nos centros e nas zonas históricas de algumas das principais cidades europeias;

 

Maior e mais diversificada oferta de modelos e a entrada de novas marcas na produção de veículos elétricos, com mais autonomia, com motores mais eficientes, mais económicos e com as mais diversas tipologias.

 

Acrescem ainda os benefícios fiscais, os incentivos à aquisição dos veículos elétricos, apenas os 100% elétricos, sejam ligeiros de passageiros ou comerciais, quadriciclos e triciclos elétricos (tuk-tuk), motociclos, ciclomotores, bicicletas e cargo-bikes elétricas. Estes incentivos têm sido reforçados por diversos países europeus. 

 

Por fim, a expansão da rede pública de carregamento de veículos elétricos, bem como as redes privadas complementares.

 

Excesso de burocracia

 

Em relação, precisamente, à rede de postos de carregamento no país, Henrique Sánchez afirma que o principal problema tem a ver com "o ritmo de crescimento da rede pública de carregamento de veículos elétricos e também das redes privadas, devido à atual burocracia e complexidade inerente à homologação dos equipamentos e à certificação das instalações".

 

Para o presidente do conselho diretivo da UVE, tirando as questões de segurança, as quais devem estar sempre em primeiro lugar, a mobilidade elétrica exige a simplificação destes processos. "Os processos de instalação de novos ramais ou o aumento de potência de outros que permitam a instalação de postos de carregamento mais rápidos são fundamentais para o crescimento das redes, para a instalação de estações de carregamento com múltiplos carregadores, os Hubs, assim como a expansão da sua capilaridade, abrangendo harmoniosamente a totalidade do território nacional, continente e arquipélagos dos Açores e da Madeira".

As cores tornaram-se mais vivas e o canto dos pássaros passou a ser mais audível

Questionado se a crise provocada pelo coronavírus afetou especificamente este mercado, responde que a pandemia teve um efeito devastador em todas as atividades humanas, quer económicas, sociais, comerciais, culturais e desportivas. Porém, também permitiu que os cidadãos, especialmente nas áreas metropolitanas, "pudessem constatar na realidade como poderão ser as cidades e as grandes urbes sem a presença de veículos com motores de combustão interna". "As cores tornaram-se mais vivas, o canto dos pássaros passou a ser mais audível, muitos animais invadiram áreas antes ocupadas pelos humanos, foram registados casos de alces, javalis, macacos, cangurus, pumas em diversas cidades do planeta e, no caso de Portugal foram avistados, por exemplo, diversos golfinhos no rio Tejo em Lisboa", recorda.

Henrique Sánchez diz que as medições dos índices de poluição atmosférica caíram mais de 50%, em várias regiões do planeta e a poluição sonora, fruto do ruído do trânsito rodoviário e da aviação comercial, também caiu fortemente. "Esta inusitada situação motivou muitas pessoas a adquirir um veículo elétrico, após terem constatado, na prática, os grandes benefícios da redução do consumo de combustíveis fósseis na mobilidade dos humanos, ajudando ao combate à poluição atmosférica e sonora, dois dos maiores problemas das áreas metropolitanas e dos grandes centros urbanos. Todos vimos imagens que valeram por milhares de palavras e de discursos". 

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