Os efeitos da pandemia têm-se feito sentir na maior parte dos setores. O mercado automóvel não é exceção e Portugal também sofre. No nosso país, o mercado automóvel fechou o ano de 2020 com uma queda de 33,9%. "Queda igual à registada em 2011", recorda Helder Pedro, secretário-geral da ACAP – Associação Automóvel de Portugal. Quando se olha para a situação portuguesa na União Europeia (UE), este mercado registou a terceira maior queda. Ficou 10 pp acima da média da UE e só a Bulgária e a Croácia registaram quedas superiores.
"O mercado de ligeiros de passageiros sofreu uma queda maior, fechando o ano com uma diminuição de 35%, quando comparado com 2019. Queda aqui superior à de 2011 e apenas cerca de 2 pp abaixo da registada em 2012", explica Helder Pedro.
Apesar da forte crise que o setor automóvel atravessa, as vendas de veículos elétricos híbridos plug-in e veículos 100% elétricos conseguiram alguma imunidade no mercado nacional (e internacional).
"Em 2020, um em cada quatro novos veículos de ligeiros de passageiros era híbrido ou elétrico. O peso destes veículos no total de veículos vendidos de 2019 para 2020 quadruplicou, e no caso dos veículos 100% elétricos registou-se um aumento de 158% de quota de mercado. Em 2020, o mercado de veículos híbridos representou 16% do mercado e os veículos 100% elétricos representaram já 5% do mercado", informa o secretário-geral da ACAP.
Ou seja, este mercado não sai ileso, mas, apesar de tudo, a sua quota tem "aumentado significativamente, a exemplo do que aconteceu noutros países da Europa". E isto apesar de em Portugal o Governo "não ter aumentado o incentivo à compra de elétricos, tal como aconteceu em Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e outros países".
É, portanto, indiscutível que a pandemia afetou mais em Portugal a venda de veículos movidos a combustíveis fósseis. "O mercado de veículos híbridos plug-in fecha o ano com um crescimento, relativamente a 2019, de cerca de 105%, uma quota de mercado que quadruplicou, em que um em cada quatro veículos novos matriculados era híbrido plug-in. Os híbridos convencionais também cresceram 27% e no caso dos veículos 100% elétricos também foi um ano bastante positivo, com um crescimento nas suas vendas de cerca de 14% e uma quota de mercado que cresceu 158%", refere Helder Pedro.
No que diz respeito aos veículos movidos a combustíveis fósseis, "o comportamento é inverso" e as suas vendas sofreram fortes quedas, na ordem dos 44%, com consequente impacto na sua quota de mercado, que reduz, em 2020, em 32%.
2021 pode ser um ano negativo
Helder Pedro não está otimista para este ano. As medidas políticas que foram tomadas em relação aos híbridos podem prejudicar este mercado, alerta. "Dado o fim dos benefícios fiscais aos veículos híbridos convencionais e da forte restrição dos incentivos aos plug-in, prevemos que, a não serem alteradas estas medidas, isso poderá ter um impacto negativo ao nível das vendas destes veículos".
O responsável da ACAP defende também o aumento do valor do incentivo à compra de veículos 100% elétricos. E recorda ainda que a forte crise económica que se está a enfrentar e a consequente incerteza quanto ao futuro, "poderá ter um efeito negativo no setor".
Assim, a ACAP tem vindo ainda a propor "um plano de renovação do parque automóvel, à luz do que foi feito, por exemplo, em Espanha, Alemanha, França, para um progressivo rejuvenescimento de um dos parques mais envelhecidos da Europa". Este plano seria para incentivar a compra de veículos de baixas emissões, contribuindo para as metas de descarbonização estabelecidas no Green Deal. "Segundo os nossos cálculos, um plano que abrangesse 40 mil veículos levaria a uma redução de 10.800 toneladas de CO2 e a uma poupança energética de 3,2 milhões de combustíveis/ano. Equivalente a 33.200 barris de petróleo!"
É prioritário alargar a rede de carregamento
Questionado se tem havido investimento público na rede de carregamento para fazer frente à crescente procura por parte dos portugueses em veículos elétricos e híbridos plug-in, responde que "o alargamento da rede de carregamento de veículos elétricos deve ser um objetivo prioritário, por forma a responder às necessidades na redução de emissões e para acompanhar as vendas destes veículos". Infelizmente, prossegue, 75% dos pontos de carregamento, na Europa, estão instalados em quatro países: Holanda (com 25%), Alemanha, França e Reino Unido.
Por outro lado, a ACAP tem "insistido na necessidade de existirem políticas públicas que promovam a coesão social, ou seja, que ninguém seja discriminado no acesso às novas tecnologias em função do rendimento ou por habitarem longe dos centros". Quer isto dizer que a rede de carregamento tem de ser alargada ao interior do país. "Até ao momento, e em nossa opinião, não tem acontecido de forma suficiente. Consideramos mesmo que deveria existir um plano a nível europeu para a criação alargada de uma rede de carregamento a nível da União Europeia."