As novas alianças dos armadores, o aumento da arqueação bruta dos navios, a procura de energias mais limpas e soluções logísticas cada vez mais optimizadas com a necessária desmaterialização de processos estão entre os principais desafios que a operação portuária nacional tem pela frente.
De referir que entre os desafios inclui-se também uma aposta na melhoria contínua das condições de segurança e de navegabilidade marítima. Só desta forma os portos poderão constituir-se como centros de negócios dinâmicos, capazes de atrair a localização de indústrias, de serviços e de centros logísticos de elevado valor acrescentado.
Lídia Sequeira, presidente da Associação dos Portos de Portugal (APP), explicou ao Negócios em Rede que os portos têm registado um crescimento notório nos últimos anos, o qual se manteve no ano passado. "Em termos de total de carga movimentada, no ano de 2016 registou-se um aumento de 5,1% face a 2015, com um valor histórico de 94 milhões de toneladas de carga."
O transporte marítimo é uma via preferencial para a entrada e saída de mercadorias em Portugal, sendo que 60% das exportações nacionais são efectuadas por via marítima (em tonelagem). Esta importância ainda se pode salientar pelo facto de que 79%, em valor, das exportações extracomunitárias são efectuadas por via marítima. "No ano de 2016 operaram nos portos portugueses 10.812 navios de carga", avança a responsável.
Há navios maiores a caminho
Observando o segmento de mercado que mais contribuiu para o aumento global da carga, a responsável assinala que o segmento de contentores e o de granéis líquidos, além de serem os mais expressivos, foram os que mais contribuíram, com variações de 14% e 7%. Dos 94 milhões de toneladas de carga movimentadas, Lídia Sequeira destaca os granéis líquidos (maioritariamente combustíveis) com 35 milhões e a carga contentorizada com 32 milhões como os tipos de mercadoria mais movimentadas.
"A concorrência no sector portuário é global, sobretudo europeia e do Norte de África, devendo a eficiência e a competitividade do sector portuário nacional ser analisadas dessa perspectiva. Lídia Sequeira, presidente da Associação dos Portos de Portugal
O número de embarcações que escalaram Portugal em 2016, com um registo de 10.812 escalas de navios nas suas diversas tipologias, é outro dado importante, sendo o total de arqueação bruta ("gross tonnage") destes navios, o mais elevado de sempre: 200 milhões de GT. Com isto é possível perceber que os navios que escalam os portos nacionais têm maiores dimensões e maior capacidade de carga.
"Durante o ano de 2016 registámos, para todo o tipo de carga em toneladas, um valor ligeiramente mais elevado para o desembarque, com 58% de ‘share’, face aos 42% do embarque. No entanto, se nos focarmos apenas na carga contentorizada, em TEU, os valores são equilibrados, representando o desembarque um valor aproximadamente igual ao do embarque", contabiliza a presidente da APP.
Lídia Sequeira admite que há uma tendência global "inevitável" para que a dimensão dos barcos recebidos continue a aumentar, tendo os portos nacionais de estar preparados para esta realidade, principalmente o porto de Sines como porto de "transhipment" e os portos de "deep sea/short sea" como Lisboa e Leixões. "De igual modo, tem também um impacto positivo através do denominado efeito cascata, pelo que mesmo os portos mais vocacionados para o "short sea" (Setúbal, Aveiro, Figueira da Foz e Viana do Castelo), terão também de estar preparados para uma procura por navios maiores", sustenta a presidente.
Concorrência dinâmica
Segundo esta responsável, os portos nacionais têm conseguido dar resposta às novas tendências e às novas necessidades do sector, e continuarão a fazê-lo. "Podemos destacar, a nível de carga, o porto de Sines, que se tem vindo a afirmar cada vez mais no contexto europeu, batendo recordes de movimentação ano após ano, e posicionando-se como um dos principais portos de ‘transhipment’ europeu", assinala Lídia Sequeira.
A boa gestão que se faz a nível portuário é um garante da vitalidade dos portos nacionais. De acordo com Lídia Sequeira, a gestão portuária em Portugal tem sido um caso de sucesso, tendo vindo anualmente a conseguir aumentar as movimentações de mercadorias por via marítima, conseguindo ao mesmo tempo captar investimento nacional e estrangeiro, num mercado cada vez mais global, no qual a concorrência actua de forma bastante dinâmica.
"A concorrência no sector portuário é global – sobretudo europeia e do Norte de África –, devendo a eficiência e a competitividade do sector portuário nacional ser analisadas dessa perspectiva, sem nunca perder de vista os elementos verdadeiramente diferenciadores: capacidade (infra-estruturas/acessibilidades), qualidade (rapidez na resposta e segurança), rede logística (interconexão e escoamento) e eficiência da operação (menor carga burocrática e maior informatização)", esclarece a especialista.
De acordo com o Banco Mundial, há 14 anos que Portugal está entre os 20% de países com melhor desempenho logístico a nível mundial, estando classificado em 17.º lugar no "ranking" de 144 países, com uma classificação de 5.7 (numa escala de 1 a 7), sendo que países que contemplam os portos mais eficientes da Europa e do mundo aparecem em 18.º (Bélgica) e 11.º lugar (Alemanha) respectivamente, o que nos atribui a classificação de Logistics Friendly.
Estratégia de investimento sustentável
O Ministério do Mar delineou, no final de 2016, uma estratégia para o aumento da competitividade portuária dos portos portugueses para a próxima década, a qual assentou em três grandes vectores:
1. Adequar infra-estruturas e equipamentos ao aumento da dimensão dos navios, da procura e optimização das ligações ao "hinterland";
2. Melhoria das condições de operacionalidade das unidades portuárias;
3. Criação nos portos de plataformas de aceleração tecnológica e de novas competências.
O cumprimento dos objectivos estabelecidos, através de um conjunto de projectos de investimento público e privado, em cada porto, ou transversalmente em algumas matérias, terá como resultado o aumento de 88% no volume total de carga movimentada nos portos nacionais e de 200% no que diz respeito à carga contentorizada até 2016.
Durante o mesmo período está igualmente previsto um investimento total de 2,5 mil milhões de euros, bem como a criação de cerca de 12 mil novos postos de trabalho até 2030.