Rita Lopes é investigadora do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (CENSE) da Faculdade de Ciência e Tecnologia da NOVA e falou com o Negócios em Rede sobre a importância da economia circular e como podem começar a implementar estratégias nos seus setores de atividade.
O que podem as empresas fazer já para entrar na economia circular?
Podem repensar o negócio em termos estratégicos e olhar para as várias estratégias de circularidade, com foco em novos modelos de negócio que passem pela desmaterialização; pela conversão de produtos em serviços; pela ecoconceção; por uma produção mais limpa e pela procura de simbioses industriais. Olhar para todas estas estratégias e pensar quais podem ser aplicadas ou desenvolvidas dentro do seu modelo de negócio pode ser o primeiro passo.
Devem ainda olhar para o Plano Nacional e para os documentos que existem de entidades como a Fundação Ellen MacArthur, que é uma das grandes impulsionadoras do conceito a nível mundial, e tem já um conjunto de relatórios com vários indicadores bastante quantificados dos benefícios e das ações que se podem tomar, para fazerem a comparação com casos que já existam.
Ao nível da organização, propriamente dita, já há uma norma britânica (BS 8001:2017) que dá um enquadramento àquilo que é a integração da economia circular e que é um guia de boas-práticas para as organizações.
No curto prazo, há pequenas ações que possam começar a criar grandes mudanças?
Colaborar e comunicar é fundamental e muito se pode fazer dentro das próprias organizações para fomentar estas lógicas. É, por exemplo, importante que os departamentos de marketing em grandes organizações estejam alinhados com a estratégia de sustentabilidade da empresa, para não serem publicitados produtos com mais embalagem, quando a estratégia de sustentabilidade da empresa vai noutro sentido. É também importante começar a introduzir estes conceitos nos conteúdos de educação, nas mais diversas áreas científicas, porque se tivermos todos os profissionais alinhados isso também potenciará muito esta mudança.
Para as PME, tipicamente com menos recursos, este pode ser um caminho mais difícil. É o momento certo para avançar?
Claramente pode ser mais complicado, mas esta é uma transição inevitável por força das circunstâncias, do próprio mercado e daquilo que são as exigências do próprio consumidor, porque a sociedade também está a mudar. O enquadramento europeu para a economia circular também acaba por ser uma tentativa de proteger as empresas, contra riscos como a volatilidade dos preços das matérias-primas. As PME quando avaliam os riscos, e se comparam com os seus pares a nível nacional e internacional, percebem que esta transição pode ser útil e certamente vão encontrar ganhos.